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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

"Será que chove?"


Antes de ler o conto abaixo, talvez seja mais interessante, antes, ler Brenda, Victor e Campeão. Embora as histórias sejam fechadas, todas fazem parte do mesmo processo... Assim como os próximos três contos deste autor. 





Os telejornais, as revistas semanais, os sites de notícias... Até mesmo os programas de “variedades”... Todos falavam e queriam mostrar um pouco mais sobre a “terrível tragédia” que assolou aquelas pobres almas. alguns, quando a pauta estava fraca demais para chamar muita atenção, desenterravam acontecimentos similares com mais de cinquenta anos... Ou traziam suas “celebridades” com uma afinidade remota com o lugar para falar sobre aquela infelicidade ímpar – sem mencionar, claro, que a afinidade era algo como um primo distante que morava na cidade vizinha. Contudo, nenhum deles mostrou o que se seguiu.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Hora Morta


- Isso é impossível! – Retrucou o homem do outro lado da mesa. Era alto e tinha os ombros largos. Apesar disso, seu corpo não era, em hipótese alguma, uma massa definida de musculatura. Muito pelo contrario. Era extremamente magro, com um rosto cansado, repleto de rugas e um ar misterioso e maduro. Tinha 37 anos e pensava que já tinha ouvido de tudo em sua carreira como psiquiatra Forense. Estava enganado.
- Receio que não seja. – Disse o outro homem, sentado na cadeira a sua frente, do outro lado da mesa. Este era baixo e tinha os braços curtos. Seu rosto excessivamente magro fazia com que seu queixo pontudo se projetasse rudemente para baixo, feito uma estalactite no topo de uma caverna. Seus olhos extremamente azuis estavam rodeados por duas grandes  e profundas orbitas avermelhadas, denunciando as noites que passara em claro. Bocejou antes de dar a ultima palavra. Não queria que o amigo tirasse conclusões precipitadas sobre seu bem estar mental, mas sabia que não poderia mais guardar para si os segredos que envolviam os estranhos acontecimentos ocorridos nas três ultimas semanas.
- Olha... – Continuou ele, hesitante. – Sei que pode parecer loucura...

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Morrendo pelo renascimento. O diário de um suicída.

Quantas faces, pensamentos e ideais.
Homens, mulheres, todos com uma única meta: sobreviver.
São diferentes. Odeiam-se a ponto de um matar o outro e, ainda assim, oram pelo amor universal. Pura demagogia.
Alguns me observam com desprezo, apesar de não me conhecerem. Coisa típica de metrópoles, cidades-selva.
Olho para o alto e vejo os arranha-céus. Verdadeiras “Torres de Babel”, onde decisões são tomadas, destinos traçados, sem o conhecimento dos habitantes.
Neste lugar, o trabalhador é algo raro. Quase tudo funciona por botões, painéis computadorizados e senhas de acesso. Os poucos homens que existem dependem também da tecnologia.
Há muita diferença de trinta, quarenta anos atrás, quando o cérebro era o líder, ao invés de um “chip”.
Esse maldito ritmo nos faz esquecer o amor, a atenção à família e como é bom viver.
Por isso, eu perdi os que amava. A cada andar que subo, fica mais longínquo o ruído inumano dos poderosos.
Ao atingir o pico da montanha de concreto, chego a imaginar como Ícaro sentiu-se livre, afastado dos olhos incompreensivos e críticos de seres que não sabiam o quanto é difícil romper barreiras, tomar atitudes extremas.
Olho para as pessoas que estão muito abaixo e gostaria de saber o que elas imaginam agora.
Aqui venta forte, atingindo-me tão frio que seria capaz de apagar as chamas infernais.
Eu tenho medo de altura.
Imagens misturam-se à minha frente mostrando episódios passados de minha vida.
Meu corpo projeta-se ao ar. Os ventos atingem-me provocando dor e alívio. Nunca tive tanta liberdade em toda minha existência. Existência esta que chega ao grande final. Claro, nem tudo que aparenta estar finalizando, realmente está...
Quando meu corpo mescla-se ao solo rígido, tenho a nítida impressão de que serei algo além de um monte de vísceras humanas. Serei mais um a recusar-se em ser torturado, pondo um fim definitivo em tudo que me desagradava, inclusive eu mesmo.
O medo se foi...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Indomável - I - Lar doce lar


Na mesma velocidade em que um raio corta o céu, a dor daquele cassetete encontrando meu cotovelo explode em milhares de fragmentos através de meu corpo. Ouço o eco repetido do meu grito ecoando pela prisão e desmonto completamente, perdendo todo o controle das pernas, bexiga e anus. Aqui estou como uma criança de cinco anos, cagada e mijada rolando de dor no chão.

A agonia de não saber se é dia, noite ou eternidade; a luz ofuscante perfurando os olhos eternamente; o ranger incessante das botas no piso congelante e mesmo os urros dos prisioneiros se tornaram a paz e calma que sempre sonhei quando, de encontro ao chão, senti e entendi o que acontecera.

domingo, 27 de janeiro de 2013

sábado, 26 de janeiro de 2013

Da Cor do Ouro.

Por: Carolina Mancini

A poeira decrépita de dias calados e insanamente pontiagudos rodava turvando levemente a paisagem amarelada e quente. O sol vilão e magnânimo reluzia seus cruéis raios sem menor sinal de piedade pintando a terra seca, o céu, e tudo mais que se pudesse ver de dourado, o dourado velho da seca, que muito se desejaria afastar dos dias e dos tempos.
A pequena casa feita de barro refletia o brilho macabro da uma hora da tarde, ao se aproximar, o homem já passado dos seus cinquenta anos, por mais que houvesse se intimidado pelas carcaças dos animais, algumas ainda cobertas de moscas, e pelo cheiro, continuou seu caminho até a porta da casa. Do lado de dentro, a jovem vestida em seu vestido preto assistia a sua chegada e para si murmurou num sorriso:
- Já era tempo!
Ailã era uma bela jovem, dessas de beleza rara, mas que devido a complicações decorridas do momento em que viera ao mundo, com frequência mancava.
Ela abriu a porta sem pressa alguma e encarou, ardilosa, aquele que fazendo barulho com suas botas, adentrou ao escuro ambiente protegido do sol que era a casa da bruxa. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Campeão



As manhãs eram a pior parte do dia. Eram solitárias e vazias. Mesmo quando aquela desconhecida que aparecia frequentemente estava na casa, não havia nada que fosse digno de nota. Os muros altos impediam o contato com qualquer outro que, por acaso, poderia estar por perto – e garantir alguma emoção. Por isso, dormir e esperar eram as opções. Dormir, esperar...

Só que isso estava mudando. Não saberia precisar quando, mas era um fato recente: em uma noite, a sede o despertou e, logo, levantou-se para saciá-la. No caminho, algo pareceu errado, fora do lugar... Invadindo. Assim, caminhando de um lado para o outro, procurando em todas as direções possíveis, não conseguia encontrar o que gerava aquela sensação. Não demorou para que algo selvagem tomasse seu espírito. Uma ameaça, mesmo que suposta, a tudo que ele prezava não podia ser ignorada. Assim, passou todo o resto da noite em alerta... Contudo, nada ou ninguém se mostrou.

Ainda.

Conheça todos os escritores convidados até 09/03. Você é um deles?

Amigos, continuamos contando com a ajuda de todos. Escreve sobre terror, sobrenatural ou suspense? Mande seu conto para que possamos incluí-lo na lista de autores convidados que só aumenta.

A programação atualizada é a seguinte:

Dia 26/01/13 - Carolina Mancini
Dia 02/02/13 - Maurício C. Dovanci
Dia 09/02/13 - Géssica da Rosa
Dia 16/02/13 - Tatiana Ruiz
Dia 23/02/13 - Bruno Vox
Dia 02/03/13 - Roberta Spindler
Dia 09/03/13 - Rodolfo Pomini
 

Todos os contos passarão por uma avaliação prévia, mas nada no padrão Academia Brasileira de Letras. Aguardamos o envio de seus textos...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Mortos


Goiânia,
25 de Janeiro de 2012.

Meu nome é Francisco Edilton Reinaldo Nunes. Tenho vinte e seis anos e a maioria das pessoas que um dia conheci durante esse período estão mortas. Não fui o responsável por isso. Falando sinceramente, acho que ninguém sabe ao certo quem foi realmente o principal responsável por espalhar toda a coisa. Nem mesmo se houve um responsável. Talvez a coisa tivesse simplesmente desandado, fugido para fora dos padrões pré-estabelecidos pela natureza. Talvez tivesse evoluído, dado um passo enorme, milhares de anos a frente, geneticamente falando. Ou ao contrario. Talvez tivesse se esgueirado para fora, como um rato de laboratório fugindo das mãos predadoras do homem. De qualquer forma, isso não redime ou altera minha parcela de culpa, ainda que ínfima, nisso tudo. Portanto tentarei tratar sobre o assunto da maneira mais respeitável e sincera possível. Talvez minhas palavras soem um tanto quanto arrogante as vezes, mas admito que trata-se apenas de um mecanismo de alto-defesa, criado com o intuito de preservar o pouco de sanidade que ainda me resta. Diante dos recentes acontecimentos, creio que seja perfeitamente normal agir dessa forma. É sinal de que ainda sou humano, passível de erros. Mas por hoje é só. Há tempos não sei o que é buscar refugio nas entrelinhas das folhas abarrotadas de um caderno. Por isso caminho devagar por esse velho, conhecido e praticamente inexplorado terreno. As próximas palavras ficam para amanhã...

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A Cobrança



Eu vivi por alguns anos em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, com uma família muito boa. Sou de São Paulo e vim para o RJ em função da morte de meus pais. Destino...
         Nesta família todos eram unidos, independente dos problemas (que não eram poucos) e levávamos uma vida bem comum.
Eu, como membro mais novo da família, dividia o quarto com o filho mais velho deles, sem tumultos, por mais difícil que possa parecer.
Nesta casa havia uma senhora bastante idosa, talvez com mais de 80 anos, se não me engano. Era uma mulher doce e extremamente protetora. Também gostava demais de seu pequeno quarto onde guardava todos os seus poucos pertences, na maioria lembranças de épocas passadas.
Contudo, o tempo não poupa bons ou ruins. Todos cedem ao seu peso. E com ela não foi diferente.
Numa manhã chuvosa, encontramos seu corpo já frio. Ela havia falecido durante o sono.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Anjo de Luz



Há muitos anos o sol nasceu à oeste pela primeira vez. Emergindo de forma inimaginável, a seca e insípida luz desabou elevando uma bola de mil sóis revelando no centro um anjo tão brilhante, mortal e pujante que a própria morte sentiria inveja. Não pude enxergar sua severa expressão, apenas uma luz alva quase inidentificável que luzia dos cabelos, olhos e face. Carregava em seu corpo pálido, uma armadura branquíssima e nas mãos uma espada flamejante que entoava luzes ainda mais magistrais e intensas, cujo olhos humanos quase não são capazes de ver.

A queda do celestial foi bem no meio da cidade e esmagou centenas de pessoas. No lugar onde ele caiu emergiu um enorme tsunami de poeira, folhas, tijolos e arvores a uma velocidade incrível. Um enorme círculo de detritos voando pelos céus se formou ruindo prédios e levantando carros. Eu poderia jurar que as montanhas pularam e ao encontrar o solo bateram em vidro, tamanha a energia que emanou dos pés do gigante.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Do prato à caça


O dia-a-dia na fazenda era sempre o mesmo, os homens cuidavam das plantações, animais e outros trabalhos braçais pesados. Enquanto a matriarca ficava responsável pelos assuntos caseiros, como cuidar do caçula da família.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Como decorar uma parede branca.

Por: Juliano Rossin. 
Desde que se mudara para o apartamento novo, Flavio tinha dúvidas sobre o que fazer com a parede branca da sala, aquela que ficava atrás do sofá creme de três lugares.
Sendo um decorador de nome consolidado na cidade, que já havia decorado a casa de alguns dos mais ricos e famosos da região, e ainda ganho concursos internacionais, ele achava esse fato impossível de acontecer e inadmissível para alguém com o seu talento.
Havia ainda o adicional de que aquela não era uma parede qualquer na qual aplicaria sua criatividade. Aquela era a sua parede, na sua sala e a sua casa devia ter a decoração mais extraordinária já vista. Um exemplo de como o que ele fazia era perfeito e de gosto inquestionável.
O pior foi quando teve de ouvir o comentário de sua empregada – que provavelmente entendia de decoração assim como ele entendia de futebol: absolutamente nada – que primeiro lhe perguntou se deixar aquela parede branca era um novo experimento, e se fosse, que tinha gostado, antes básica assim do que rebuscada como o restante da casa, ela havia completado.
Básico! Como assim básico? Ele estava sendo chamado de básico por alguém que não tinha um pingo de conhecimento técnico na área, mas mesmo assim aquilo lhe subiu o sangue. Ele nunca poderia ser chamado de básico. Aquilo era o mesmo que ser tratado como apenas mais um pintorzinho de paredes qualquer.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Victor (Ou: “Não perca as crianças de vista”.)


“Mãe, eu preciso desligar agora. Tenho que ir. Tem algo acontecendo. Avisa a Rita.”, e Victor sentiu que a resposta de mãe a isso tinha sido dolorosa. Ela nunca tinha concordado com a carreira que ele escolheu e, agora, as coisas estavam ficando piores a cada dia, literalmente. “É como em O Espírito do Mal. Ela tem razão.”, refletiu enquanto corria em direção à viatura. O sargento Almeida fazia gestos muito violentos, indicando a urgência da situação.

“Parece que rolou uma desinteligência muito séria na Praça da Independência, cabo. ‘Bora logo.”, e já foi arrancando antes mesmo de Victor estar com todo o corpo dentro do veículo. Contudo, a praça ficava a menos de um quilômetro dali – era algo mais grave do que aparentava, pelo jeito. E isso era péssimo, com certeza.

Calendário de publicações de escritores convidados.

Amigos, continuamos contando com a ajuda de todos. Escreve sobre terror, sobrenatural ou suspense? Mande seu conto para que possamos incluí-lo na lista de autores convidados.

A programação atual é a seguinte:

Dia 19/01/13 - Juliano Rossin
Dia 26/01/13 - Carolina Mancini
Dia 02/02/13 - Maurício C. Dovanci
Dia 09/02/13 - Géssica da Rosa 

Todos os contos passarão por uma avaliação prévia, mas nada no padrão Academia Brasileira de Letras. Aguardamos o envio de seus textos...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Nunca deixarei de te amar...


Ele se chamava João Roberto. E como naquela famosa canção antiga, tinha um "opala-metálico-azul”. Mas as coincidências paravam por ai, porque ele não costumava pegar rachas na “asa sul” e nem morreu em um acidente de carro, nem sofreu perdidamente por um amor não correspondido. Coisas que não impediam o jovem João Roberto – com seus grandes e expressivos olhos azuis, seus cabelos louro ondulados caindo por sobre os ombros fortes, e seu corpo atlético de jogador de futebol americano – de fazer sucesso com as menininhas mais novas – e consequentemente menos requintadas – do colégio. Foram muitas as vezes em que João Roberto passara com seu opala, em frente ao colégio em que estudava, rangendo até a ultima engrenagem suja de óleo, enquanto os alto-falantes do carro “explodiam” tocando “Boys don´t Cry” no ultimo volume. E quando ele passava todos diziam; “Vejam... Lá vai o João Roberto com seu opala metálico azul... O cara mais boa pinta do colégio”. As menininhas então suspiravam e soltavam gritinhos silenciosos de “Ai!!! Como ele é lindo!”, enquanto outras menos comportadas se esgoelavam em uma disputa informal de voz; “ROBERTOO... GOSTOSOOO!”. Mas ficava só nisso. Ou ao menos ficou, até aquele último verão, quando J.R conheceu Amanda em uma feira de ciências realizada no ginásio do colégio...


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sorrir é o que me resta.

Será que um dia irão esquecer o que fiz? Creio que sim, pois a humanidade sempre terá outros casos mais malignos que o meu. E o passado, além disso, não dá lucro. Meu tempo aqui, presa, prova-me diariamente que nada melhor que um dia após o outro. Com o passar dos dias, meses e anos eu me tornarei uma pálida lembrança, algo a se esquecer, algo que não dá mais lucros para a imprensa ou aos advogados. Reclusa estou e é assim que provavelmente morrerei.
Mas nem tudo foi sempre assim. Houve uma época em que eu era bela, rica, cobiçada. Meus dias eram um conto de fadas, mesmo com todos os problemas que há em uma família. Eu era feliz e nunca valorizei de verdade essa felicidade. Aliás, praticamente todos nós jamais damos o devido valor ao que temos, até que o perdemos...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A Cor da Morte.



Quando vi a face dela, pálida e seca como a bruma, me dei conta de que a morte não se veste de preto, ela é branca, silenciosa e sutil. Não há nada de escuro na morte, obscura é a vida negra e obscura, já a morte é claramente o fim de tudo. 

A visão que temos do céu é um lugar de brilho intenso onde a estrela da manhã invade cada canto que enxerga os olhos, se é que olhos e todo o resto de nossos corpos carnais existem nos céus. Não nos céus tudo é estridente de tão pálido. Tudo reluz, tudo reflete, tudo é tão claro. Nossas almas, brancas, saem de nossos corpos em direção ao brilhante céu. E se há céu, há o inferno onde tudo também brilha, mas na cor da lava laranja. 

É isso, tudo o que brilha demais é morte. Veja só, como os insetos seguem cegamente à luz que os mata! Basta acender uma fogueira em um acampamento que milhares de seres tolos se jogam na fornalha. Preste atenção em como mosquitos se jogam em suas cadeiras elétricas bastando apenas uma luz azul intensa para chamar sua atenção! 

Entrei em meu carro, liguei o motor e tomei o caminho para casa pensando no que aquela face pálida me ensinou que a luz é morte! E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz, já diz o livro sagrado. Alias, sempre tive medo de anjos e suas espadas de fogo; Sempre tive medo da religião que nos ilumina, mas causa as maiores guerras do mundo. Sempre tive medo de uma explosão atômica e da energia brilhante que irradia dela e mesmo tendo medo de uma explosão solar, que nos aniquilará, amanhã ou daqui há dez milhões de anos, sempre achei belo o poder destrutivo de uma supernova. 

E o que é a vida, senão escuridão? Não sabemos de um segundo de nossas vidas; não sabemos o que acontecerá na próxima curva; não sabemos qual será nosso próximo passo, onde estamos e para onde vamos. Sei que nada sei, não é isso? Sabemos que somos cegos e nunca notamos isto. Escuridão é vida! É na escuridão da noite que nossos corpos se aquecem em outras carnes, é na escuridão da noite que nossa mente descansa e que nos encontramos em paz em nossos sonhos. Durante a escuridão recuperamos as forças para enfrentar a luz, a morte em doses diárias e rotineiras. É na escuridão que conseguimos esconder todos os nosso medos e anseios do mundo e somos enfim quem realmente somos. 

Entro em um túnel e tenho minha ultima visão sobre o assunto. O final da vida não é o túnel negro no qual andamos infinitamente, mas sim a luz intensa que brilha ao seu final. Nós andamos na escuridão e encontramos lá no final a iluminação que nos faltava. É isso! 

Proponho isto: Façamos o branco a cor oficial da morte! Afinal, tudo o que resta de nossos corpos quando morremos são nossos ossos, que são, espante, brancos! Vestiremos em nossos velórios a mesma cor que usamos para celebrar a morte de um ano! Branco! Temamos o branco e celebremos o preto! O preto é sobretudo a marca da vida! 

Sim, tudo ficou claro agora! Não só pelas idéias que enfim iluminaram meus pensamentos, mas também pela luz branca do caminhão que perdeu o controle no fim do túnel, invadiu a contramão e chegou tão perto que senti entrar nela.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Te sigo, me segue de volta?


Como nas últimas noites, Aldemar não conseguia dormir, então passava mais uma madrugada navegando em sites pornográficos e conversando com garotas ingênuas. Algumas das quais caiam em sua lábia peçonhenta e lhe proporcionavam um espetáculo particular de depravação. Eis o seu principal entretenimento, mesmo com o tormento que vinha enfrentando.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Brenda



“O que a gente precisa é de um cara decente que lute por nós”, a voz ecoava para as duas únicas pessoas que ouviam todo o relato anterior – e mais um garoto; aquele que sentava sozinho, no fundo, ouvindo música e fazendo origamis; mais um “pária”. Brenda acostumou-se em ficar por todo o intervalo dentro da sala de aula. Para ela, era perigoso e infeliz ir para o pátio, mesmo nesta altura do Ensino Médio... E Luana e Francine a acompanhavam pelo mesmo motivo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O Homem dos Olhos Vermelhos



Leitos de hospitais geralmente são lugares tristes durante o dia. A noite essa tristeza se intensifica, solidificando-se nas paredes recobertas de limo, no teto mal iluminado pelas lâmpadas fluorescentes, na camada de tinta que escapa das paredes. Fiz essa pequena constatação pessoal quando passei três dias e três noites inteiras, devidamente hospitalizado, graças a um calculo renal de aproximadamente dois milímetros, semelhante a um grão de arroz alojado em meus rins. Dizem que a dor do parto é uma das maiores dores que o ser humano pode sentir. Besteira! Passei dois anos nutrindo esse “filho bastardo” em meu “ventre”, e no fim me vi obrigado a expulsá-lo já em fase adulta. Cinco milímetros em forma de uma pequena pedra pontuda, formada basicamente de oxalato de cálcio e acido úrico...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Predadores.

Eu já a acompanhava há quase duas horas. Ela, claro, nada percebeu. 
Minha maleta urrava para mim, implorando para ser aberta. Nela, alguns dos mais vorazes instrumentos cirúrgicos que um médico pode ter. Sim, pois eu fui um médico. Fui até o dia em que descobriram minhas experiências, descobriram meus apetites. Então, na calmaria que só uma conspiração é capaz de englobar, planejaram o flagrante e a minha posterior prisão. Todos falharam...
Há exatos 5 anos e 28 dias eu vagueio pela imensidão do Brasil. Já estive em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e continuo subindo. Em cada Estado eu faço uma nova vítima. Todas mulheres. Todas culpadas... só não sei de quê.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Enfermeiro Negro.



Dedico este conto à Alisson Zimermann, pois roubei a idéia dele!

- Você nunca pensou em fazer isto? – Já havia pensado milhões de vezes à esta tendencia viciosa que nossa mente tem de desistir de tudo, mas havia resistido à esta tentação. – Nunca desejou largar tudo o que tem para trás e se jogar?
A tentadora proposta não veio do velho barbudo que batia na janela do meu carro às sete e quinze em ponto em busca de suas moedinhas, o que me surpreendeu: Jovem e bem vestido a única coisa que entregaria as idéias do sujeito era a sua cara de cansaço a barba de ontem e olhos vermelhos, talvez de drogas, talvez de choro ou mesmo ambos.
- Eu já. Cansei de sentar aqui e ficar apenas olhando o quão insignificantes somos. – Seu olhar manteve fixo no reflexo que a lua produzia na água, mas o corpo vacilava. – Somos que nem uma gota de aguá no oceano. – Cuspiu para pensar.
Eu também tinha cansado, cansei do meu emprego de enfermeiro. Cansei de ver gente morrendo em minhas mãos e estava determinado a não permitir mais uma dessas no meu turno. Tudo bem que não estava a trabalho, estava apenas caminhando por aí, Mas eu sei o que esse jovem vai fazer, ou pelo menos o que pensa fazer.
Pensei em dizer algo, mas é provável que só piorasse a situação. Aproximei um pouco e cuspi observando a queda demorada, tanto do cuspe, quanto da lágrima que brotou dos olhos e terminou nas mãos que ele mordia inquietamente. Ele olhou em meus olhos, mas deixou o olhar cair na borda do chão, talvez em meus sapatos escuro, ainda manchados do sangue da ultima paciente.
- Esse mundo é injusto – riu chorando – É uma piada de péssimo gosto, só pode ser – A mente dele compreendeu a peça que a vida lhe pregava. Sim, se eu estou aqui é porque algo vai acontecer. É inevitável. Como somente aqueles que estão preparados tem tato comigo, toquei suas costas e senti um arrepio cortar meu corpo. Ele é mais um dos meus.
Sou o princípio do fim e atendo ao último chamado humano. Tranquilizo meus pacientes em seus últimos momentos, como um enfermeiro que prepara o paciente para cirurgia. Em breve o médico virá separar corpo do espírito. O que me resta senão tranquilizar aquele que está prestes a morrer? Ao mesmo tempo, o que me resta dizer à um suicida ao qual já tenho certeza que morrerá?
Mal percebi que ele já estava de pé, inclinando o corpo pra frente. Como posso ser tão idiota, não falei nada com o cara, nem notei o que ele estava fazendo! Ele fechou os olhos e respirou fundo, caramba é agora.
Ele mal desfez os nós com o qual seus dedos se laçavam ao corrimão e eu já saltei em sua direção agarrando o braço direito. Fui puxado com intensidade, batendo os primeiros ossos da costela no mesmo corrimão. Tinha o homem pendurado em minhas mãos, mas ele escorregava urrando socorro.
Cada centímetro de tecido que deslizou de minhas mãos, cada linha a mais que perdia daquele homem era uma navalha na minha alma. Quando a camisa acabou e comecei a puxar sua pele, o desespero pareceu correr mais forte em nossas veias.
Inclinado e com as mãos cansadas, eu vi aquele corpo balançar freneticamente, tentando sem sucesso subir os pés na ponte novamente. Cada vez mais longe de mim, senti que perderia aquele homem pra sempre até que sua mão direita conseguiu se firmar em mim.
Um pouco mais racional, pedi para que ele se segurasse firme, assim como tentasse segurar com sua outra mão em mim. – No três eu te puxo. Um, dois, três. HUMPF…
Ele subiu o suficiente para conseguir colocar o pé esquerdo na ponte, onde depois de um bom esforço, conseguiu uma ridícula, mas já suficiente estabilidade. Respirei um pouco mais forte, já me preparando para o esforço de tentar levantar e segurar o jovem.
Após ficar de pé, do outro lado do corrimão, abracei-o tentando dar segurança para ele pular para o lado de cá do corrimão. Ele passou uma perna, depois a outra, tropeçou e caiu no asfalto. O farol iluminou sua face antes de acertar-lhe com um golpe seco e preciso. Seu cérebro enfeitou de rosa suave o asfalto e seus olhos ainda estatelados, jogados no canto da rua, me olhavam vermelhos pedindo piedade.
Sim, se eu estava aqui é porque algo ia acontecer. Era inevitável. Somente aqueles que estão preparados tem tato comigo. Se não fosse, nunca teria tocado em seu corpo ou sentido seu desespero me gritar: Ele era mais um dos meus.

Apresentação...

O que lhes causa desconforto? Quais são as coisas, fatos ou pesadelos que são capazes de fazer com que sintam medo?
Todos, absolutamente todos os seres humanos tem medo de algo. O medo é uma reação natural que permite que sobrevivamos ao perigo. Não ter medo é quase uma sentença de morte pois, cedo ou tarde, iremos confrontar alguma coisa capaz de nos infligir dor, capaz de travar nossas pernas e pensamentos e, então, será tarde demais. Respeitar esse instinto tão natural é uma questão de sobrevivência.
Mas o que há de tão atraente em temer? Por que lemos, assistimos e pensamos tanto nisso? Há um certo masoquismo em nós, latente e que precisa ser periodicamente alimentado? Estar próximo da morte é um vício? Nós acreditamos que sim. Na verdade, nós sete acreditamos nisso tão piamente que resolvemos compartilhar nosso vício com vocês.

Edilton Nunes (Stephen King Brasil), Ednelson Jr (Leitor Cabuloso), Franz Lima (Apogeu do Abismo), Karen Alvares (Por Essas Páginas e Papel e Palavras), Mano (Profundo Desenho e Masmorra Cast) e Rainier Morilla (Roda de Escritores), além de um escritor convidado a cada semana. Nós seremos os responsáveis por fazer com que seus corações batam mais rápido... ou parem. 

Durante os 365 dias do ano nós iremos lhes oferecer contos de terror, suspense e sobrenatural. Um ano inteiro de medo. Um ano convivendo com seus mais profundos temores. E então, estão preparados? Sejam bem-vindos a esse ambicioso projeto, mas não se esqueçam de espalhar a notícia. Temos muito a contar e sabemos que muitos querem ouvir. Divulgue e faça com que nossa rede de pesadelos se espalhe por todas as mentes e corações do mundo. 

Beba de nossa fonte... e saibam que estão vivendo um momento histórico: o nascimento da mais tenebrosa experiência literária do país.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Sinal vermelho


Sábado. Noite. Vinte e uma horas e trinta minutos. Cidade de Maceió. Avenida Fernandes Lima. Sinal de trânsito em frente a uma agência bancária qualquer.