Há muitos anos o sol
nasceu à oeste pela primeira vez. Emergindo de forma inimaginável, a seca e
insípida luz desabou elevando uma bola de mil sóis revelando no centro um
anjo tão brilhante, mortal e pujante que a própria morte sentiria inveja. Não pude
enxergar sua severa expressão, apenas uma luz alva quase inidentificável que
luzia dos cabelos, olhos e face. Carregava em seu corpo pálido, uma armadura
branquíssima e nas mãos uma espada flamejante que entoava luzes ainda mais
magistrais e intensas, cujo olhos humanos quase não são capazes de ver.
A queda do celestial
foi bem no meio da cidade e esmagou centenas de pessoas. No lugar onde ele
caiu emergiu um enorme tsunami de poeira, folhas, tijolos e arvores a uma
velocidade incrível. Um enorme círculo de detritos voando pelos céus se formou
ruindo prédios e levantando carros. Eu poderia jurar que as montanhas pularam e
ao encontrar o solo bateram em vidro, tamanha a energia que emanou dos pés do
gigante.
Nesse mesmo
instante, centenas de pessoas ficaram cegas e os feridos por detritos foram aos
milhares ainda nos primeiros dois segundos de sua chegada. Ele nem tinha começado
a descarregar a sua fúria. Com pés firmes no solo o anjo ergueu seu corpo,
empunhou sua arma e preparou-se para caçar toda forma de vida existente.
Da sua primeira e
breve rajada de fogo, conjurada de sua espada, outras centenas de almas foram
ceifadas. As chamas queimavam os cabelos até alcançar o couro, formando bolhas
que explodiam água e pus, puxando em seguida a pele para baixo, escalpelando as
vítimas e deixando expostos a carne viva e o sangue que antes de jorrar secava
e tornava-se pó no vento.
As gorduras e
vísceras, que não tinham nem tempo de cair no chão, eram apresentadas como
holocausto diante de Deus que as recebia de bom grado enquanto o fogo comia a
carne, dilacerando os músculos com mandíbulas caninas prontas para devorar cada nervo
com prazer e alegria. Não foram poucos os braços e pernas que não resistiram
ficar colados no corpo e saíram voando junto com o vento. Por fim, os ossos
eram roídos até que nada mais restasse.
Ainda houveram
homens que provaram da lamina do celestial. Uns tiveram as costas dilaceradas
enquanto outros foram rasgados no meio com seu corte abrasado. Ambos explodiam
logo em seguida em puro pó. Não houve um só que sentiu o raio certeiro o
acertar que tenha sobrevivido e dizem que o poder das explosões foram tão
grandes, que até hoje a marca de seus corpos decoram as paredes com suas silhuetas.
Somando-se a isto o
celestial brincava de arrancar pinturas de carros com chamas só para depois
explodi-los. Prédios eram derrubados no sopro, quando não com pontapés e
murros. Vários desses golpes, em poucos segundos, encheram o inferno e os
portões celestiais de almas esperando pelo bem ou mal eterno. A cidade virou
pó, pois do pó surgiu. E enfim o segundo
sol se pôs.
Ainda surgiu do
hálito do Anjo de Morte, um veneno que invadiu os corpos de todos que
sobreviveram. Muitos ainda morrem pela maldição entoada enquanto ele nos
matava com lamina e fogo. Eu tive sorte de estar longe do poente no nosso primeiro encontro.
Meu azar foi ter o segundo encontro com este anjo em Nagasaki Cruel, covarde e pujante ele
executou das mesmas manobras e artimanhas, levando milhares consigo. Lá eu estava muito mais próximo dele, pude sentir do seu hálito que apodreceu meu sangue e órgãos. Estou morrendo de leucemia e um câncer no estomago que em breve me levará aos céus.
Neste segundo encontro pude também enxergar seu rosto que carregava a expressão severa cheia de arrogância e prepotência da qual nunca esquecerei -
Era a imagem e semelhança da humanidade.
Baseado na vida de Tsutomu Yamaguchi.
Wow... Hiroshima e Nagasaki são pra mim tragedias tão inexplicaveis quanto inesqueciveis... Quando era criança ouvia a musica "Rosa de Hiroshima" na voz de Ney Matogrosso e chorava, sem conseguir entender como a humanidade pode ser tão ruim e mesquinha...
ResponderExcluirAté hoje as pessoas sofrem os efeitos da radiação, e isso é mais assustador do que qualquer historinha que se possa criar... A humanidade é o pior monstro dentro do armário que pode existir...
Parabéns pelo conto Rainier... Adorei a visão que deu - que chegou a ser quase romantica, embora não menos assustadora - pro ocorrido.
Engel, você disse tudo: "isso é mais assustador do que qualquer historinha que se possa criar"
ExcluirO pior é imaginar que existam países criando essas armas e que nem metade das que foram criadas estão desativadas. A qualquer momento o mundo verá outra dessas explodir. É terrível, mas é a mais pura realidade.
Nó! O pior ainda é que, quem "liberou" esse anjo foram os homens... mas, isso é outra estória!!!
ResponderExcluirHey Daddy! Bom te ver aqui!
ExcluirE sim, esse anjo criado por homens pode ser chamada de Little Boy!
Belo post,conheci o blog há poucas horas atrás e realmente estou adorando esse medo,digamos,"inteligênte" que nos proporciona.Ótimo trabalho e eu estou disposto para acompanhar esses 365 Dias de Medo. ;-)
ResponderExcluirValeu Alexandre, espero que você nos acompanhe! Todos os cinco escritores fixos deste site são excepcionais e os visitantes também nos prometem grandes histórias! See you later!
ExcluirVocê acha mesmo que novas bombas realmente serão lançadas em novas Guerras?eu acho que também vai,é triste mas é consequência iminente da ignorância humana,é terrível,a proposito parabéns pelo texto.
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