Por: Mauricio C. Dovanci
E foi servindo-a uma
taça de vinho tinto tão seco e antigo, que jamais encontrariam noutro lugar,
que ele percebeu não estar sozinho, que alguém mais estava entre eles.
Direcionando o seu olhar para aquele par de olhos que flutuavam em outro lugar,
talvez estivesse encantada relembrando momentos de alegria com o outro, ele
percebeu estar perdendo parte do seu coração.
Talvez o amor estivesse
lhes deixando, ou seria menos que o sentimental amor, paixão. Sua pele era tão
nívea quanto a neve, era perfeito o traçado de seu pescoço, mesmo quando estava
inerte parecia posar para um quadro e ficava na mesma posição por muito tempo,
encantadora como o pôr do sol. Mas devastadora como um tornado. Seu vestido
vermelho rosava-lhe as coxas carnudas e ávidas de prazer, o lado estragado de
sua imagem estava ali, como uma meretriz, ela usava seu dom e gozava das cenas
que estavam em sua mente e alcançava o prazer.
O homem com a interrogação sentou-se, pouco
confortável, mas sentou-se. Ereto e com um olhar louco, sádico e paranóico, era
um jantar numa noite pouco especial, será que podia uma mulher ser tão perfeita
ao trair o amor de um homem?
Dafina, essa era a
mulher que se encontrava sentada sobre a mesa na companhia de um demônio, o
seu criado demônio. Dafina, essa era a mulher que lhe traíra e que por sua
causa, encontrava-se perdido em um misto de medo e vergonha, sangue e raiva.
Um sorriso perfeito lhe
ofuscava o rosto, essa era a resposta mais traiçoeira que o homem fez em toda
sua vida, por trás sua vontade de matá-la era grande, imensa e impulsiva. O
frango sobre a mesa estava abrindo o apetite de ambos, o cheiro defumado no ar,
penetrava a narina dela, mas fugia do olfato dele.
- Joul, querido - disse
ela. Abreviando seu nome com um carisma podre. - Talvez você queira partir o
peito deste frango tão apetitoso.
Partir o peito, ela
sabia muito sobre isso, mas gostava mesmo de partir corações, não haveria outra
vez.
- É claro. - respondeu.
Tão simples, nem menos, nem mais.
O homem jogou para o
alto seus ombros largos e pesados, imaginou-se carregando uma dessas máscaras
de palhaço pouco assustadoras. Passou
por ela enquanto saboreava do seu vinho, com a sua taça. Com a sua boca que
havia estado em outro lugar, talvez parecido, mas em outro lugar.
Era assim tão triste,
mas o fim deveria ser bom. A faca foi sacada sadicamente do faqueiro, um feixe
de luz correu-lhe sobre sua superfície, era prata, tão argênteo como nunca. Seu
punho serrado aproximou-se da mulher.
- Voltei minha querida.
- Pelas costas, na alça do vestido vermelho a navalha tocava delicadamente,
procurando pelo sangue, quase sempre cega, mas afiada. A seda era o que
encontrara, depois do corte só ar que lhe envolvia.
- Você está ficando
muito mal acostumado, Joul. - murmurou ela.
- Não fale Dafina,
apenas se levante - seu suspiro ainda era intenso, o alivio não chegara, ele
tinha que fazer o que tinha que ser feito. - Não há costume algum, pois eu não
me acostumei ainda, não há modos, só sexo.
Frio e indolor, talvez
sua ex-mulher, - como ele já a considerava - estivesse acostumada em ser
tratada como ninguém, só um pedaço de carne quente, com vida, mas sem vida.
Ele a fez saltar sobre a
mesa, tocando-lhe as coxas sadias, levantando seu vestido e ainda segurando a
faca. A taça de vinho caía sobre a madeira e o líquido se acomodava só que
agora livre. Longe do lábios tentadores e prazerosos de Dafina, era assim que
ele começava, buscando cair pela liberdade, livrar-se do medo.
Enquanto a penetrava,
lembrou-se das fotos que seu agente lhe mostrara, eram claras e mostrava tudo.
Era tudo causado por ela, que levaria ao nada causado por ele.
A faca foi da esquerda
para a direita de modo rápido, abrindo uma fenda horrível e brutal na garganta
de sua amada, sem nenhum intervalo pra gritos. Desferido o primeiro golpe a
faca buscou mais vermelho, só que agora no ventre. O sexo ainda acontecia de
maneira brutal e psicótica. Enquanto o corte era aberto o sangue jorrava em sua
cintura, a liberdade saía por ali como numa cesárea. Uma liberdade cor de
prata, prata-cor-de-sangue.
Conto dedicado a todos
os escritores e leitores sádicos e psicóticos, um pouco do terror lascivo,
sangue e morte. - Maurício C. Dovanci