Fui arrastado para
uma sala escura. Pela primeira vez em dias, semanas, meses ou anos abri o
olho sem medo. Não há uma luz sequer, senão a que vêm da cabeça de um
homem todo vestido de escuro. Dos pés à cabeça, não enxergava nada senão aquela luz que emana de sua cabeça.
Ouço sons
de metais sendo manejados e sinto a espinha congelar a cada vez que
tilintavam. Tento levantar minha cabeça para enxergar algo mais, mesmo sem
conseguir movimentar a cabeça que estava presa com uma tira de couro. Um grito explode da minha boca - "Puta que o pariu" - assim que identifico um bisturi enorme refletindo a luz em direção aos meus olhos. Junto com a luz veio a voz do homem que estava de costas pra mim, manipulando
as ferramentas.
- Vejo que você é novato. Em
breve você conhecerá todas as regras. Perdoarei seu primeiro erro pois sou
piedoso.
Uma breve risada
cínica ecoou pela sala e ecoou dentro de mim. - "Agora fique em
silêncio" - Aquelas palavras não disseram nada que eu já não esperava, mas
as risadas mostraram tudo o que aquele executor seria capaz. Refleti sobre o
que pensei mais cedo - Não conseguirei suportar mais dor. É impossível desejar
mais dor, quando há dor só se quer que a dor cesse.
As luzes viram em
minha direção cegando-me momentaneamente. Fecho os olhos como se tentasse
escapar de algo que vinha em minha direção. Era aquele olho, aquele monstro de
um só olho que caminhava em minha direção. Tento me mover, mas percebi que
todo o meu corpo estava preso à uma espécie de cama. Mãos e braços, tornozelos
e coxas, cintura pescoço e cabeça. Todos estavam enlaçados com uma faixas e
fivelas tornando impossível qualquer manobra de escape. Aquela lanterna, aquele
olho pairava sobre minha cabeça.
- Caramba, a recepção foi
calorosa! Olha só o estado da tua boca! Deixa eu dar uma olhada.
Suas luvas de couro
tocam a pele morta de meu lábio. Ele apertou um pouco - "Ai!" -
"Olha só! Acho que precisaremos fazer uma pequena cirurgia aqui!" -
Sua risada cínica voltou, agora com mais força. Utilizando a pinça formada por
seu dedo polegar e indicador ele segura o lado esquerdo do lábio inferior e
começa a puxar a lentamente a carne que se desgruda do restante do
lábio.
Era possível sentir
cada fibra que se descolava da boca: carne, veias e pele. A saliva jorra dentro da boca enquanto o sangue
espirra por toda a sala negra. Olhando para baixo vejo metade da carne
arrancada enquanto a outra metade agarra-se ao corpo para não sair.
Meu corpo inteiro
começa a tremer. Eu gemo, implorando - "PARA! PELO AMOR DE DEUS
PARA!" - Mas ele não escuta. - "NÃO ESTOU AGUENTANDO" - Ele
sorri. - "EU IMPLORO" - Ele sorri cinicamente - "PELO AMOR DE
DEUS PARA!"
No súbito de dor e
agonia, eu projeto minha boca pra frente e mordo a mão do carrasco. Era apenas
uma luva de couro. Ele soltou aquela carne agarrada por pouco na boca e
gargalhou. Gargalhou uma risada sádica e contagiante. Eu choro com ele.
- A primeira regra: Nunca me
conteste. Eu sou a verdade e a vida.
Ele desfere um
murro em minha cara, forte o suficiente para me fazer calar, mas não me tirar a
consciência. Não! Ele não me deixaria dormir ali, antes faria de tudo para me
manter lúcido. Queriam que eu sentisse e visse todas as atrocidades que fariam
comigo.
Ele limpa o nariz
com a luva negra e em seguida agarra a pele e puxa de uma só vez. Eu consigo ouvir o som da pele rasgando por completo seguido do meu mais intenso grito. O
berro catapultou a saliva e sangue que lavavam a boca. Eu estava prestes a ser expulso
deste mundo de tanta dor quando um fio metálico e gelado colou em ambos os lados de meu peito.
A eletricidade
correu meu corpo assim que o botão vermelho foi pressionado. A corrente foi
intensa e correu duma só vez o corpo inteiro. Não durou nem meio segundo, mas
senti a alma sair e voltar do corpo imediatamente. O coração pulsou mais rápido
e respiração tomou um ritmo acelerado e ofegante.
- "Você sabe o que nós queremos?" -Eu ignoro a pergunta - "Sabe porque nós fazemos isto?" - Vociferei tentando evadir as respostas - "Eu não permitirei que
arranquem minha confissão." - A resposta veio seca - "Segunda regra: Responda o que
eu quero, quando eu quero, na velocidade que eu quero."
Outro choque correu
meu corpo, com a mesma intensidade, mas com duração pouco maior. Dois ou três
segundo onde meu corpo inteiro se contorceu e tremeu suando incansavelmente. As fibras de cada músculo se contraem ao máximo, com câimbras ruindo em todo canto. O cheiro de queimado subiu e olhando para baixo vi, ao redor dos fios, nacos de carne negra sangrando viscosamente. Bolhas de podridão se formaram ao redor de onde a eletricidade corria. A pele se contraiu tanto que rasgou, exibindo o interior do meu corpo em rachaduras extensivas.
- "Estou aqui para brincar
com você. Você é minha pequena diversão." - sua luva tocou na ferida, o dedo entrou na carne e deslisou suavemente. No final da ferida, deu um puxão brusco, rasgando mais a pele - "Eu diria até que você é meu
pequeno playground." - Desceu as mãos até encontrar meu orgão genital, suas mãos se
fecharam em meus testículos. Com dor e medo arregalei meus olhos esperando
o aperto que faria com que meu interior quizesse ser expulso do corpo.
Minha face transpareceu o medo - "Está vendo. Você é meu lindo e
pequeno brinquedo."
Novamente ele sorriu
e se afastou do meu corpo, largando-me sem nada fazer. - Meu herói! Lhe saúdo
pela honra de não estourar minhas bolas!
- De qualquer forma, eu tenho
que lhe arrancar a verdade. Por isso, temos uma terceira regra: Nunca
tente esconder a verdade da própria verdade. - Ele pausou a fala, escolheu
uma ferramenta metálica qualquer, assemelhando-se a uma faca extremamente
afiada. Admirou-a, ergueu-a na altura dos olhos e continuou - Vou lhe
fazer perguntas simples, e sei que você me responderá. - Virou-se em minha
direção com a faquinha nas mãos. - Você matou o Tenente Ramon?
Permaneci em
silêncio. Eu não matei homem algum, matei uma criatura, um monstro, um cachorro
sem coração!
- Quarta regra: Não pense para
responder.
Sinto um murro na
perna, mas junto à mão do carrasco, veio também a lâmina desenhando um corte profundo, arrancando uns dois centímetros de pele, músculo e
um punhado de sangue. A dor foi tremenda. Se ele jogasse álcool e
ateasse fogo naquela mesma região, a dor não seria mais intensa do que foi
agora. Mesmo chorando e tremendo de dor, senti que estava a me acostumar com
aquilo. Será assim até o último minuto de minha vida.
- "Eu... Ahh... Eu..." - Era
dificil falar. Os soluços ocasionados pelo choro e o tremor por todo o
corpo tornaram o simples fato de falar uma das mais difíceis tarefas de
minha vida. - "Eu não matei homem algum. Eu matei um monstro."
- "Quinta Regra: Não quero saber
de suas razões ou moralidades." - Outra fatia me foi arrancada - "Você matou
ou não o Tenente Ramon?" - Eu só tinha espaço para as lágrimas e choro - "Vamos homem, responda? Você o matou, não foi? Você o torturou e matou a
sangue frio! Foi capaz de espalhar o corpo dele por toda a cidade! Fale!
Foi você o monstro que cometeu este crime?"
Mantive-me calado,
não havia mais nada a declarar. Se ele já sabia de tudo, porque estava fazendo
aquilo comigo? Porque eu estava sendo interrogado? - Minha mente me respondeu
da forma mais simples e ridícula possível - Eu era apenas um brinquedo mesmo.
O botão vermelho foi
pressionado, desta vez sem ser desligado. Fritei por tanto tempo que nem me
lembro mais. Eu sentia o corpo inteiro em chamas, mas o pulmão debaixo do mais fundo oceano. Sem
forças e sem condições de respirar, eu apenas balançava naquela mesa de
horrores. Há muito já não tinha controle de minhas necessidades, elas eram
acionadas pelas dores que eu sentia. O circuito elétrico foi fechado -
"Sexta regra: Quando você for eletrocutado, não chore." - E em
seguida acionado novamente.
Fritei enquanto
controlava todas as minhas emoções. Parei de gritar, parei de chorar, parei de
sentir... Meu corpo caiu quase morto na mesa. Uma agulha penetrou minha veia
enquanto as fivelas eram retiradas - "Sétima regra: Não faça nada. Sente
enquanto aguarda minhas ordens. Se não há ordens fique em silencio." - A agulha sai, assim como a dor e a razão. Estou leve e calmo, estou tão bem... tão bem...
Sentei-me em
silêncio, como uma criança que recebe uma bronca do pai, fiquei quieto e
olhando para seu grande olho, que olhava diretamente dentro dos meus. -
"Oitava regra: "Você sempre fará o que eu lhe ordenar" - E esboçou no rosto um sorriso de vitória. - "Isso rapaz" - Deu dois tapinhas no meu rosto - "Está melhor agora? Está se sentindo bem?"
Sim, estava calmo e tranquilo. Meu pai, meu herói.
O homem que salvou-me das terríveis garras da dor. Confio em você agora e pro
resto da minha vida. Obrigado por cessar essa dor. Obrigado por para com toda
essa loucura. Obrigado, obrigado, obrigado!
Eu digo tudo o que
você quiser, eu faço tudo o que você quiser que eu faço, eu juro de pés juntos
que à partir de agora você é meu senhor, meu salvador, meu pai, meu querido
papai.
- Nona regra: Se não seguir as
regras, você será eletrocutado.
- Não papai, não farei isso!
Juro que serei um bom menino!
- Bom, agora me diga, você
matou o Tenente Ramon.
Eu lhe disse tudo
antes de conhecer a décima regra. Já foram regras demais para um só dia.
Um pouco menos nojento, um pouco mais de tortura e mistério sobre o que está acontecendo. Vamos ver onde isso vai nos levar...
ResponderExcluirE cuidado com os tempos verbais! Daqui a pouco você vai me torturar por tanto que falo disso né hahah
Hsuhauhsahusahushusahashuhsu
ExcluirTempos verbais do inferno, queimem! QUEIMEM!!!
Vai saber se o torturado do texto ja n tem sido inspirado em ti Juliano rs
ResponderExcluirRainier, Rainier, Rainier... QUE DOOOOOOOOOOOOOR!!!! Menino do céu, eu n consegui ler sem sentir dor, chega ne? rs
Ansiosa pelo fim pra saber o motivo de td!!!!
Chega nada... Ainda nem começou! SAHhuasuhashuashuasuh
Excluir