Antes de ler o conto abaixo, talvez seja mais interessante, antes, ler Brenda, Victor , Campeão , o da tempestade e a coletividade. Embora as histórias sejam fechadas, todas fazem parte do mesmo processo... Assim como os próximo conto deste autor.
Já eram oito semanas sem tomar um banho. E não teria como,
tão cedo... Desde que deixara o sítio da avó, e veio viver com a mãe e “o novo
padrasto rico”, não podia mergulhar em um igarapé quando bem entendesse. Esse
lugar “maravilhoso” não possibilitava “maravilhas”. Contudo, para um
adolescente procurado pela polícia e sem recursos, estava se virando bem... Até
fez seu primeiro amigo – o único, nesses últimos seis anos.
Fez.
Enquanto tentava evitar a polícia e tudo mais, escondeu-se
entre os proscritos e doentes. Quando foi para lá, na verdade, avisaram-no
muitas vezes para não ir a certas partes da cidade e não se aproximar de
pessoas com certas características. Pessoas doentes, que precisavam de ajuda,
mas odiadas por, simplesmente, existirem – depois, como todos os outros, ele
descobriria que ela saberia usar isso. Entre esses, nos escombros e na sujeira,
conheceu o “moleque doi’de pedra”. Com ele, aprendeu o suficiente para se virar
nas ruas. Era incrível como uma criança que mancava permanentemente pudesse ser
tão autossuficiente, um sobrevivente... Assim, pouco antes do amiguinho ser
tocado por ela e quase matá-lo, ganhou um presente de uma criança que nunca
teve nada.
***
Agora, ele acompanhava, de longe, o único sujeito que parecia,
assim como ele, não ter sido afetado. Até o momento, só havia escapado dos
predadores porque conhecia os caminhos que a maioria das pessoas não usa e
porque tinha consigo aquilo que o colocara nessa situação. Olhar para o machado
trazia uma sensação confusa de justiça, precipitação e... E de amor.
Infelizmente, ainda não sabia como Brenda reagiu aos presentes. Como reagiu a
tudo, na verdade: ao seu amor e, principalmente, se percebeu a verdade – eram
todos tocados pela boa senhora.
Mas isso era assunto para outro dia. Ele precisava saber se
aquele sujeito poderia ajuda-lo nessa crise... Mas era engraçado. Tinha quase
certeza que conhecia aquele rosto de algum lugar... Porém, viu gente demais nas
últimas semanas e poderia ser qualquer um. Bom, não “qualquer um”: o homem
parecia ter saído do âmago da coisa, quando começou, e sabia como agir numa
situação tão caótica. Tinha algo de profissional, inteligente, ali. Não
importava, agora; o importante era que, em algum lugar próximo, a responsável
por todo aquele mal deveria estar acompanhando tudo...
E realmente estava. Abrigada em uma daquelas pequenas e
simples casas... Afinal, apesar de tudo, não suportaria lidar, novamente, com
pingos d’água, mesmo sendo responsável pela chuva.
***
“O homem é a glória da natureza.”, a frase soava arrogante,
hoje, mas lembrava de como tinha sido marcante, na infância... Curiosamente, na
mesma página do livro que recebeu de presente da avó, há tanto tempo, havia a
frase “um comer o outro é a lei da vida” – sua memória era excelente para essas
coisas. Observando o curto trajeto que o separava da casa que o outro rapaz
entrou, chegou a conclusão que, na verdade, existia uma “lei da morte”.
Depois de matarem, e consumirem, algumas das poucas pessoas
não convertidas em monstros, se voltaram uns contras os outros. Os menores, os
mais fracos... Eram acossados e estraçalhados. Sangue e entranhas adornavam os
mais poderosos. Outros, mesmo mutilados e moribundos, tentavam fazer parte do
festim, derrubando e ferindo seus “iguais”.
Esse era o tipo de humor da senhora sorridente.
***
Na madrugada, finalmente, conseguiu se deslocar melhor, mas
com lentidão. Com uma pequena queda de temperatura, muitos ficaram letárgicos,
sonolentos... Imóveis. Contudo, alguns dos maiores e mais alterados pela “neblina”
estavam em movimento, muito alertas. Ele não sabia, mas essas pessoas já eram,
nas suas “vidas normais”, mais próximas da senhora...
Mesmo assim, chegou ao portão da casa. E quase desmaiou; o
fedor e a maldade ali eram tremendos... E estavam estagnados, como se também
dormissem naquela pequena atmosfera repulsiva. De fato: tremendo, abriu
lentamente a porta da frente e viu a pequena sala que servia, também, como
cozinha. A despeito do horário, a escuridão era maior, lá dentro, e o ar tinha
algo anormal – era rançoso, pesado e fervilhava de vida bacteriana...
Era como uma fossa na terra... Uma gruta.
Lá dentro, no escuro, alguém estava sentado à mesa, e
sozinho. Resolveu se aproximar, depois de alguns minutos de hesitação... E, ao
se aproximar, quase cedeu o suficiente para chorar.
Aquele rapaz... O que entrou mais cedo... Estava em choque,
com o olhar perdido. Era compreensível: em suas mãos, segurava parte de alguém.
Apenas a cabeça e um pouco do torso – o resto, pelas marcas, claramente tinha
sido mastigada, arrancada pedaço por pedaço, lentamente. Poderia ser uma mãe,
uma tia... Era um quadro depressivo. Aproximou-se, pensando que poderia fazer
algo a respeito, mas se sobressaltou com um som vindo do fundo da casa. Foi
quando o sujeito sussurrou, com tristeza, loucura e ódio:
“Ela dorme. Ela c-c-comeu; agora, precisa dormir. E
a-a-ainda ronca, a f-filha da puta! Você p-precisa fazer algo! Eu sei quem você
é e porque está aqui! Ela atacou todos que podiam pará-la, enganá-la ou
feri-la: menos v-v-v-você! Vai estar sozinho, mas ainda pode parar tudo isso!!”
Ele conhecia a história, sabia, em termos, o que deveria
fazer. Vendo pouco mais que o brilho fraco dos olhos molhados de Victor, moveu
a cabeça em concordância.
“O-obrigado... Muito obrigado, Pedro.”
AI EU QUERO SABER COMO TERMINAAAAAAAAA
ResponderExcluirTo morrendo de curiosidade! Parabéns cara!!! rsrsrs