Session Finale: INDOMAVEL
– Regra dez: Você nunca sairá vivo daqui.
Com essas palavras o
homem me deu uma pancada na nuca e desfaleci. Depois de ter confessado o meu crime e meus motivos que percebi que o
torturador, complexado com tudo o que eu disse, permaneceu imóvel, escutando cada
centímetro da minha história.
Talvez o mais cruel
dos homens também ache que um estuprador é um monstro, mas neste mundo ainda há
quem ache que eles merecem uma segunda chance. Eu confesso que todo pai, se
tivesse a oportunidade que eu tive faria o mesmo, sem hipocrisia. Ser hipócrita
é não concordar que a morte é a única punição para um monstro desses, e ainda
assim é pouco.
Eu acordo na mesma
sala escura, só que desta vez ela está iluminada e sem ninguém por perto. Ainda
estou preso, mas consigo ver as ferramentas de tortura sobre uma mesa não tão
distante e um bisturi colocado em minha mão. Como não vejo o agressor, tomo o
bisturi em minhas mãos e corto com dificuldade o couro que prende minha mão.
Ouço o ranger das
botas e sei que devo ser extremamente rápido para me libertar e conseguir fugir
deste lugar, antes que me peguem novamente. Antes de que me torturem até a
morte. Utilizo a direita, já livre, para desamarrar a esquerda.
Com as duas mãos
soltas logo me desamarro por completo e saio da cama. Chego até a porta e ouço
que as botas estão exatamente na frente. Sinto o coração acelerar e todas as
feridas voltando a doer lentamente. Estou completamente anestesiado, mas sinto
que pouco a pouco, o cotovelo volta a explodir, a costela volta a perfurar-me
por dentro, a boca volta a sangrar e morrer e os cortes nas pernas voltam a
queimar.
Mas mais do que toda
essa dor, o que realmente me consome é a falta da raposinha, da minha amada e
querida filha que nunca mais verei.
Esvazio a cabeça e
tento me concentrar. Volto a concentrar minhas forças na fuga e atentamente
ouço o som das botas se afastando. Abro a pequena porta e corro em direção
contrária à dos milicos. O local parecia um hospital velho e decadente. A
pintura era branca, mas as marcas de sujeira nas paredes a deixavam amareladas
e as marcas de bota no chão o deixava parecendo uma zebra, cheia de riscos
negros e disformes.
Chego até uma
esquininha. À frente vejo mais salas, incluindo uma que estava se abrindo.
Olhei rapidamente para esquerda e direita, e sem ver ninguém, escondi-me
grudando na lateral da parede onde o soldado que estava saindo da sala não me
veria. Pelo menos por pouco tempo.
Utilizei o bisturi
que estava em minhas mãos para ver quem
estava vindo, e percebi que era o cavalheiro negro que me torturara até
pouco tempo. Esperei que ele passasse por mim e enfiei o bisturi em sua nuca.
Ele nem mesmo sentiu a arma entrar em seu cerebelo quando desmontou no chão e
morreu. Mais uma vez estava vingado, mas havia chamado a atenção. Qualquer um
que visse aquele corpo saberia que alguém estava fazendo algo errado por ali.
Entrei em desespero.
Não haveria como fugir, ainda mais agora. O lugar inteiro estava tomado de
militares e não tenho nem noção para onde devo ir. Quando estou para desistir
vejo a luz do dia brilhando através de um corredor a frente e deduzo que a
saída é por aquele lado.
Disparo correndo na
direção daquela luz. Enfim estaria livre daquele lugar terrível. Mas ao chegar
perto do corredor, aonde a luz do sol emanava, uma sombra negra passou tornando
a luz escuridão. Era alguém que estava vindo por ali. Estava morto, caramba,
não há como escapar.
Mas assim que o sol
voltou a brilhar a esperança reapareceu. Ele dobrou o corredor e correu em
direção aquela porta de vidro. Era a saída. Sem pensar em mais nada
simplesmente segui o correndo até alcançar a porta. Ao me deparar com o vidro o
reflexo do que eu vi abalou minhas estruturas.
O corpo magro cheio
de hematomas e feridas e boca rasgada pouco me assustaram. Foram os chifres e
cauda que me deixaram boquiaberto. Abri a porta, confuso, mas pela primeira vez
entendendo o que eu sou, um monstro, um verdadeiro demônio.
Ao olhar para baixo,
noto uma multidão de jornalistas, câmeras e gravadores de áudio. Com certeza a
minha história tinha se espalhado e todos sabiam da tortura que eu fiz. Olhei
para o bisturi e para a multidão, não havia mais nada o que fazer. A décima regra
era real. Olhei para trás e vi os militares dentro do edificio me seguindo. Era
tarde demais.
Enfiei o bisturi no
lado esquerdo do pescoço e o trouxe para o direito. O sangue jorrou em todos os
homens daquela plateia. Seguido disso os militares liberaram rajadas de tiros,
espalhando para a plateia sedenta de sangue e morte, vidro e mais do meu sangue.
De olhos fechados
entrego-me ao destino e sinto a liberdade tomando conta de mim. O vento sopra
uma brisa suave e eu sinto dentro dos meus pulmões o seu doce e suave aroma.
Ele invade meu corpo e carrega a paz e tranquilidade para a minha alma. Sabendo
que ela está ali abro os olhos apenas para encontrá-la. Entre todos aqueles
homens e mulheres de preto ela está lá, com seu vestidinho rosado, sorrindo e
olhando para mim com seus olhos brilhantes. Aqui e agora ela está feliz, pois
estou indo para o infinito para ficar com ela.
E enfim morro pelos
crimes que cometi por amor, apenas por amor.
FIM
*****
Noticia:
Na noite de quinta-feira um homem estuprou a própria filha matando ela e a sua
empregada friamente. Um militar que passava pelo local ouviu os gritos vindos
da casa e foi socorrer as vítimas, mas acabou sendo também executado pelo
agressor.
O
agressor também ateou fogo contra a sua casa. Vizinhos informam que não viram
nada e só notaram que algo estranho estava acontecendo quando a casa estava
pegando fogo: "Foi uma loucura, nunca vimos nada igual aqui no bairro. O
Sérgio sempre foi um homem tão bom, realmente ficamos impressionados com a
história." – Diz vizinha do maníaco.
O
Sérgio Ziefman de Carvalho foi preso no local enquanto as equipes do corpo de
bombeiros apagavam as chamas no local: "Ele foi tão frio que mesmo com a
casa em chamas ele permanecia deitado com a vítima. Quando fomos retirá-lo de
seu quarto ele se recusou a soltar a vítima, foi a cena mais terrível que já vi
em minha vida. Um homem desses não merece ser chamado de pai. É um monstro, um
monstro."
Sérgio
foi encaminhado para o hospital Santa Clarisse, acompanhado pela polícia local.
Entretanto há poucos instantes, o homem fugiu de seu leito, assassinou um dos
funcionários do hospital e tentou realizar uma fuga, que foi frustrada graças a
nossos jornalistas que estavam ao redor do prédio no momento da fuga.
.
Às
três da tarde desta sexta-feira ao ver que não havia como escapar, o homem
suicidou-se na frente de toda a nossa equipe de jornalismo. As cenas são
chocantes, <Veja vídeo no link ao lado> e nosso correspondente que estava
no local diz: "Nunca vimos ou filmamos algo igual. É aterrador até onde a
mente de um psicopata como esse pode ir."
Os
policiais presentes no local também efetuaram disparos contra o fugitivo. A
alegação da polícia é que o homem era extremamente perigoso e poderia ferir os
civis que estivessem passando pelo local: "Nossa equipe agiu bem, no
intuito de preservar a integridade de todos os que estavam ali. Tanto que não
houve nenhum ferido no incidente." diz o Coronel Silva, que comandou as
operações neste dia. Entretanto os policiais ainda devem ser ouvidos para
prestar esclarecimento sobre suas ações.
Se
você quiser saber mais sobre esta notícia veja também:
Reconstituição
dos fatos – Como o assassino executou suas vítimas.
Inquérito
confirma sua versão inicial da polícia.
Homem
que violentou filha jogava jogos violentos..
Especial:
Psicopatas Urbanos.
A
mente de Sérgio Ziefman.
Cara, eu gostei do conto, mas a unica coisa que não me convenceu e que achei completamente fora de proposito foi o reflexo da porta de vidro... Sério, até agora não entendo o motivo dele... Mas de resto, a noticia, tudo, ficou muito bom... Parabens^^
ResponderExcluirHá vários propósitos no vidro com seu reflexo.
Excluir1 - Mostrar que o personagem se tornou um monstro, como qualquer outros.
2 - Dar indicios de esquizofrenia para sustentar o final.
Mas se não lhe convenceu, é uma falha minha. Vou tentar dar uma olhada melhor em detalhes assim no futuro.
Obrigado.