O mago inexperiente repousava dentro de uma pequena
tenda na floresta, reconfortado pelo ar morno da noite, quando ouviu o som de
folhas secas sendo pisadas.
Devido ao sono leve, despertou rapidamente e
ficou alerta. Mesmo a região estando em um período tranquilo, sem ataques
inimigos, não era conveniente ficar menos atento em zonas não civilizadas.
Como adormeceu trajando a sua túnica, pegou
apenas o seu cajado, através do qual canalizava as magias, e saiu para
averiguar o que estava perturbando o seu sono.
—Lux – sussurrou, fazendo um feixe em forma
de leque iluminar alguns metros a sua frente.
Ainda diante da tenda, deu um giro de
trezentos e sessenta graus, com a luz acompanhando o seu olhar, para ter a
certeza de que era apenas um pequeno animal que estava circulando por ali e não
algo que fosse realmente motivo para preocupações.
Estava virando-se para entrar na tenda,
afinal aquele foi um duro dia de trabalho em busca de uma planta raríssima que
seu mestre precisava para um encantamento, quando ouviu o som de passos às suas
costas. Imediatamente, encarou o que se aproximava e por muito pouco não
gritou.
Há pouco mais de seis metros, enxergou um
homem que vestia roupas de um nobre, mas estava sujo de terra. Os olhos dele
pareciam mergulhados em sangue, a sua cabeça tinha apenas alguns tufos de
cabelo e a pele era pálida como a de um cadáver. Quando a coisa sorriu,
exibindo caninos protuberantes, confirmou a suspeita, era um vampiro.
Algumas dessas criaturas costumavam aparecer em
reinos vizinhos, trazendo o pavor ao coração dos aldeões, mas ainda assim era em
quantidade baixíssima, tornando-os uma praga facilmente exterminável por
aqueles que manipulavam a magia.
Sem pestanejar, o aprendiz de mago conjurou
uma redoma sagrada, clamando ao seu deus, que cobriu a si mesmo e mantinha o
monstro estacionado.
O vilarejo ficava a cerca de três
quilômetros, poderia sustentar a magia enquanto caminhava, garantindo a sua
proteção contra o morto-vivo.
Quando recuou um passo, com a intenção de
seguir a trilha para a sua casa, ouviu mais passos ao seu redor. Nesse momento,
além do vampiro, viu uma corja de várias criaturas: lobisomens, zumbis,
fantasmas, demônios e muitos outros que não soube classificar. Todos queriam um
pedaço dele, as expressões não dissimulavam as intenções.
O jovem sabia que o seu mestre possuía muitos
inimigos, mas nunca considerou que todos eles poderiam formar uma aliança e
ainda mais atacar ao mesmo tempo. Eles estavam tirando vantagem do período de
paz para criarem o elemento surpresa.
Sem saída, estabeleceu contato mental com o
seu mestre, o mago mais poderoso que já existiu, gritando:
—Socorro, necessito de sua ajuda, monstros me espreitam
e, com o medo se apoderando de meu coração, desconfio que a fronteira que me
separa deles irá ruir!
O mestre disse apenas:
—Chegarei imediatamente.
O velho, profundo conhecedor dos mistérios
arcanos, podia manipular o espaço e se teletransportar, portanto o aprendiz não
se assustou com a súbita aparição ao seu lado.
—Não tenha medo, filho, o papai chegou – o
homem acendeu a luz do quarto – O que foi? Monstros?
—Sim, papai, os monstros apareceram e eu me
cobri com o lençol para me proteger deles, também me agarrei no meu ursinho e
acendi minha lanterninha – disse o garoto de apenas cinco anos de idade.
—Não precisa ficar assim, você sabe que eu
sempre vou lhe proteger – declarou abraçando o filho somente com o braço direito.
—Sempre, papai? – indagou a criança fazendo
um bico com os lábios.
—Nunca vou lhe abandonar e qualquer monstro
que se aproximar de você deve sentir medo, pois vai ter que se entender comigo!
– acariciou a cabeça do menino com a mão direita, deixando a outra escondida em
um bolso da calça jeans que usava.
—A mamãe também será protegida?
—Sim, a mamãe também – seus olhos pareciam
dois abismos desprovidos de emoção – Ela não precisa temer mal algum... – mexeu
os dedos da mão melada de sangue que estava ocultada.
Muitas vezes tememos os monstros dos nossos sonhos e também dos nossos pensamentos, não percebemos que o verdadeiro monstro pode estar ao nosso lado. Creio que esse conto não necessite de mais comentários. Mais uma vez, parabéns!
ResponderExcluirAbraços,
Ana Luis
Ana, o pior monstro, ao menos se assim ele decidir, é o ser humano...nada assusta mais que a realidade. Obrigado por comentar mais uma vez :)
ExcluirAbraços!