(Continuação)
Discretamente, lhe dirigi a
palavra e pedi para me ausentar por breves segundos. Eu já estava agindo
diferente com ela, sendo muito gentil e, sinceramente, isto me incomodava.
Com um leve aceno, ela
permitiu minha saída.
Ao chegar ao banheiro,
averiguei se havia mais alguém comigo. Sem pessoas por perto, abri uma pequena
ampola de sonífero. Pequena, porém bem potente. Em 15 minutos ela estaria
dopada, à minha mercê.
Escondi a ampola aberta
entre os dedos. Este ritual já estava sendo repetido pela terceira vez... todas
caíam.
Conforme planejado, me
aproximei da mesa, estiquei o assunto por mais alguns minutos e, aproveitando
uma distração dela, despejei o conteúdo em seu capuccino. A
própria canela que ela havia pedido seria o ingrediente perfeito para disfarçar
o sabor do sonífero. Enfim, uma empreitada perfeita, pensei.
Ela se mostrou bem mais fácil de manipular, bem menos esperta do que
aparentava. Por sua estupidez, eu não poderei ser fraco com ela. A dor estará
estampada em sua face, ao encontrarem o corpo.
Minhas promessas não ficam
ao vento...
Ela se mostrou resistente.
Então pensei: - Afinal todas não fazem o mesmo no início?
Acabei minha xícara e
levantei. Fui para trás de sua cadeira e pedi que levantasse, com muita
educação. Ela olhou para trás e aceitou minha solicitação.
Saímos rapidamente do
cyber-café. Sem palavras ou questionamentos, apenas a certeza de que jamais nos
veríamos novamente. Pelo menos era o que ela pensava, tenho certeza.
Andamos alguns metros e ela
olhou para mim assustada. Não sei o que se passou por sua cabeça. Claro, o que
se passava em seu corpo era de meu total conhecimento.
Ela cambaleou e eu a segurei. Acho que dosei mal o sonífero, pois ela estava
muito fraca. Não calculei com exatidão o peso dela e, infelizmente, isso
poderia acarretar uma morte prematura.
Acenei e chamei um táxi,
antes que a situação chamasse demais a atenção dos que passavam.
Mais uma vez pensei sobre o
que estava pensando aquela mulher, desmaiando em meus braços.
Não sei o que se passa na
mente de um cara como ele. É uma pessoa interessante, não posso negar, mas acho
que me toma por uma completa idiota.
Ele deseja algo de mim, não há o que negar. Sua aproximação, seu jeito de
falar, seu destemor diante do que ocorrerá. Ele parece estar planejando tudo há
meses. Será possível?
Algumas coisas ruins se passam por minha cabeça, mas não me deixo levar. Não
tenho medo. O que tiver que ser, será.
Percebo sua vontade em sair
da mesa. Não o deixo perceber minha reação. Ele vai até o banheiro, apressado e
absorto em seus próprios pensamentos. Há algo mais e, por Deus, nada irá me
impedir de descobrir.
Sou mais astuta do que ele
pode imaginar. Frágil? Frágil é a pele humana, até mesmo diante do papel. Eu
sou muito mais dura que a rocha, mais fria que o gelo. Nada irá me impedir de
saber o que o levou a se aproximar de mim.
Ele retorna. Olho para ele,
indiferente. Há malícia em sua face. Há malícia em minha alma.
Eu me distraio
propositadamente. Algo chia em minha xícara de capuccino. Algo se rompe em
minha boca, uma pequena amostra do quanto não sou tão ingênua.
Hora de encarar a realidade.
É hora de mostrar até onde o show poder chegar. Cena 1 de uma história que não
deveria ter começado e que faço questão de não acabar.
Eu
entro no táxi com rapidez, não dando motivos para alarde. Ela está muito mole,
aumentando o peso. Contudo, a simples hipótese da obtenção do prazer amplia
minhas forças. Eu terei deliciosos momentos ao lado dela. Só não sei dizer se
ela irá apreciar tanto quanto eu.
O taxista olha para mim pelo
retrovisor. Há desconfiança em seu olhar, quando este se confronta comigo. Eu
digo calmamente:
- Minha esposa bebeu um
pouco além e não está muito legal, amigo. Espero que compreenda...
- Não sou do tipo que fica
perguntando, senhor. Apenas pensei que fosse melhor levá-la a um hospital. Ela
está me parecendo muito fraca.
Eu ri. Um sorriso que passou
calma, pois pude perceber isso na face do taxista. Então, retorqui:
- Agradeço sua atenção,
prova como esta de profissionalismo estou para ver. Mas, acredite, esta não
será a primeira ou a última vez em que ela faz tamanho vexame. Não se preocupe.
Um pouco de sono e umas três aspirinas irão resolver.
O carro começou a se
movimentar e ele me perguntou:
- Para onde então, senhor?
- Rua do Retiro, amigo. Quer
que indique o caminho? - questionei.
- Não. Só peço para me
informar em qual altura.
- Saberá, assim que
chegarmos à rua. Obrigado.
- Não há o que agradecer,
este é meu ofício.
O restante da viagem,
seguimos em silêncio.
Chegamos rapidamente. O
motorista era muito bom ao volante, como pude me certificar.
Assim que chegamos à rua,
indiquei o número. A rua estava deserta e ele, instintivamente, ficou nervoso.
Qualquer um ficaria, ao se deparar com um homem, uma mulher desmaiada e uma rua
completamente às escuras.
- Quanto deu a corrida?
Ele acendeu a luz interna do
carro e olhou para o taxímetro. O cálculo foi feito de cabeça, muito rápido.
- A corrida deu 22 reais e
cinquenta centavos, mas pode ficar em 22, apenas.
- Agradeço a gentileza. Tome
vinte e cinco e não se preocupe com troco. Seu trabalho foi ótimo.
- Ahn... obrigado.
Abri a porta do carro e
abracei a mulher. Ela ainda estava cambaleante, mas já apresentava sinais de
melhora. O tempo estava encurtando e eu não poderia me deixar levar pela
empolgação. Eu sempre serei um profissional e, como tal, erros são
imperdoáveis.
Em poucos minutos ela já estava deitada em minha cama, balbuciando palavras
desconexas e ainda entorpecida pelo sonífero. Restavam-me poucos minutos para me
banhar e iniciar o trabalho.
Olhei para o corpo dela e
pensei: "Não me oferece riscos, estou livre."
Tranquei a porta do quarto e fui ao banheiro, despreocupado e feliz por estar tão próximo do êxtase.
Tranquei a porta do quarto e fui ao banheiro, despreocupado e feliz por estar tão próximo do êxtase.
Eu só não poderia jamais
imaginar o quanto de êxtase seria...
Abri os olhos e comecei a me
certificar das coisas que me cercavam. O apartamento era pequeno, mal arrumado,
mas seria um bom lugar para se morar, assim que fosse feita uma boa limpeza.
Onde estava, no quarto, a
bagunça era generalizada. Pedaços de pizza sobre a cama, restos de comida,
latas de refrigerantes e cerveja em uma cesta, misturados a papéis e jornais
recortados. A cama onde eu fui posta estava muito desarrumada, cheirando a
suor.
Havia no quarto muitas armas em potencial: latas, garrafas, um pedaço de cabo de vassoura, um espelho que poderia se quebrado e usado como defesa. Mas a maior arma estava ao meu lado... a surpresa. Ele iria sair do banho, abrir a porta, pensar que me acharia deitada e desmaiada ainda, me estupraria e me mataria. Tudo quase que instintivamente planejado na mente deste facínora, mas não seria tão fácil quanto ele pensou. Eu iria promover uma festa só minha e dele, regada a sangue e violência.
Havia no quarto muitas armas em potencial: latas, garrafas, um pedaço de cabo de vassoura, um espelho que poderia se quebrado e usado como defesa. Mas a maior arma estava ao meu lado... a surpresa. Ele iria sair do banho, abrir a porta, pensar que me acharia deitada e desmaiada ainda, me estupraria e me mataria. Tudo quase que instintivamente planejado na mente deste facínora, mas não seria tão fácil quanto ele pensou. Eu iria promover uma festa só minha e dele, regada a sangue e violência.
Esta era minha promessa...
Interrompi
meus pensamentos no instante em que o chuveiro foi fechado. Os passos no
banheiro estavam abafados pelo som da rua... abafados, porém não inaudíveis.
Concentrei-me no roteiro a
ser seguido. As pistas no quarto dele já o denunciaram. Não me restava outra
opção.
Deitei na mesma posição em
que ele havia me deixado. Fechei os olhos e passei a controlar a respiração,
deixando-a mais moderada, sem denotar exaltação. O fim de um de nós dois estava
próximo. Era a hora de encontrar meu destino. É a hora de saber o quanto minha
vida tem valor para mim. Sem medo. Sem desculpas. Sem misericórdia.
Fechei os olhos. Abri meu
espírito.
Abri a porta e olhei-a. Ela
continuava com a expressão de torpor. Olhei para as pernas dela e senti meu
pênis se enrijecer. Eu estava muito excitado, contrariando as outras vezes em
que matei. Decidi tê-la, antes de dar cabo de sua vida.
Aproximei-me em silêncio. A blusa que
ela usava era bem leve e, através dela, pude reparar sua respiração lenta e
controlada.
Abaixei até seus pés. Tirei
lentamente os sapatos e comecei a tirar sua roupa. A calça resiste e, logo
depois, está jogada no chão. Eu admiro a pele dela, pálida e rija. Aproximo meu
rosto da calcinha e aspiro profundamente, absorvendo o cheiro de sua vagina.
Estou embriagado de desejo e...
Algo me atinge com força e
recuo. Há um calor intenso na minha cabeça, próximo à orelha esquerda. Abro os
olhos e vejo Kátia, a frágil mulher, com uma lata de cerveja cheia e quente na
mão (eu me lembro do dia em que desisti de bebê-la). Tento falar e sou
novamente atingido na fronte, estourando a lata. Minha boca seca e sinto a
visão escurecer. Novo golpe... tudo se apaga.
Acordo muito fraco, com
dores intensas na cabeça e algo quase seco e pegajoso em meus cabelos. Forço o
tronco para levantar e não tenho sucesso. Há algo me prendendo o peito.
Descubro, assustado, que meus braços e pernas também estão atados. Ainda com a
visão turva, percebo que fui amarrado com retalhos de lençóis. Estou
visivelmente preso e sem entender como tudo ocorreu.
Ouço passos e viro meu rosto
na direção deles. É a mulher, Kátia. Ela para diante de mim e diz:
- Sabe, as grandes leoas
morrem quando atacam as hienas por pensarem que elas são apenas frágeis. Elas
esquecem a astúcia e o poderio de um grupo de animais sedentos de sangue. Sabe
o que isso significa? - questionou-me.
Fiquei em silêncio.
- Eu vou te ensinar o que
isso quer dizer, - continuou - Doutor Flavius. - A lição é essa: nunca despreze
a caça, a menos que queira se tornar uma.
Ela levanta as mãos e joga
vários recortes de jornais em
mim. Um pequeno recorte cola no sangue que resseca em meu
rosto.
- Você realmente pensou que
eu iria ceder sem luta, maldito? Achou mesmo que eu iria ser mais uma nas
estatísticas? Pois eu vou lhe dizer e provar o quanto estava enganado. Eu não
sou uma vítima.
- Muito menos eu, mulher.
Você não tem idéia de com quem está se metendo. Vá embora e eu a pouparei.
- Poupar?
Respirei profundamente e, já
a vendo com nitidez, disse-lhe:
- Eu sou Nimbus. Eu sou a
nuvem que traz a sombra e a brisa, o acalento e a serenidade. Porém também
trago a tempestade, o frio e o desalento. Eu carrego a paz e a calamidade em mim. Venho sem avisar e
parto ainda mais sorrateiramente.
Ela me olhou e,
simplesmente, riu.
- Acha que vou sentir medo
de você? Eu não tenho mais nada a perder. Fui humilhada, abusada e torturada
por quase toda a minha vida. Eu sou uma eterna vítima... até agora. Mas vou
alterar isto.
Kátia ergue um caco de vidro
(do espelho) e o enterra em minha perna. Tento não gritar, porém as lágrimas
vertem de meus olhos.
- Por favor... pare. - digo,
involuntariamente.
- Pararei, Doutor. Pararei.
Eu
não vou medir esforços. Já havia lido alguns relatos sobre o assassino Nimbus.
Já sei das queimaduras de cigarro no rosto e nos olhos. Sei de toda a sua
insanidade ao agir.
Hoje, contudo, vendo-o tão
indefeso, sinto pena. Ele nunca esperou encontrar alguém que já havia sido
estuprada por conta de soníferos em bebida. Uma mulher que abortou ao ser espancada
por um ladrão e aproveitador de pessoas indefesas. Eu já sofri demais e, em
definitivo, chegou minha hora de fazer sofrer.
Parei bem perto do rosto de
Flavius e balbuciei:
- Seu trabalho acabou,
Doutor. Todavia, o meu está apenas começando. Tive tempo para ler seu diário,
interiorizar seus métodos. Vou matá-lo, sem dúvidas, mas peço que não se
preocupe. Seu legado irá continuar. Flavius morre. Nimbus permanece.
Eu acendo um cigarro e coloco uma mordaça em sua boca. Ligo a TV e aumento seu som. Ninguém o ouvirá.
Eu acendo um cigarro e coloco uma mordaça em sua boca. Ligo a TV e aumento seu som. Ninguém o ouvirá.
O cigarro queima minha pele
e me dá prazer. Enfim estou livre. Hoje, Nimbus matará duas pessoas: Kátia e
Flavius. No meu íntimo, eu sempre me senti morta, inútil. Hoje, ganhei um
propósito. Hoje, eu sou Nimbus.
- Doutor... olhe para mim.
Vamos nos divertir muito.
Ele olhou, incrédulo e
temeroso. Ainda assim, pude ver em seu íntimo, a resignação e a aceitação de
seu destino. Afinal, todos morrerão um dia, não?
Trago o cigarro e vejo a
ponta ficar incandescente. Aproximo-o dos olhos de Flavius e inicío meu
trabalho. Ele perderá primeiro a visão, depois a honra e, por último, a vida.
Eu... perdi minha alma. Perdi a alma e ganhei algo que me motive a continuar.
Ele grita, mas o som é abafado pela mordaça. O cheiro de carne queimando é familiar.
Ele grita, mas o som é abafado pela mordaça. O cheiro de carne queimando é familiar.
Tudo bem, já que teremos o resto da noite para continuar nossa diversão. Espero
que ele seja resistente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário