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segunda-feira, 18 de março de 2013

Carta de um Suicida


Para alguém que se importe.

Só eu sinto, descendo como acido nas entranhas, a lágrima que corrói meu peito. Mas nem eu entendo a razão deste sentimento lacrado no coração. Guardo dentro desse corpo o prisioneiro mais cruel. E hoje ele tirou o dia para rebelar, tocar fogo em colchões e degolar o carcereiro filha da puta que se chama auto-controle.
É tanta força desse sentimento que é impossível não se entregar. Toco o terror, desprezo e falo na lata. Não tenho medo de ferir, e machucar esse bando de imprestáveis que me cerca. Eu, prisioneiro deste corpo frágil me rebelo, domino e subjugo a tudo e a todos apenas para sentir ridículo senso de poder e pensar estar no controle de tudo.
Entretanto não adianta explodir. Me liberto apenas para ser aprisionado novamente. Agora com pena maior e mais anos de confinamento. As forças acabam, o poder e controle de minhas ações tornam-se o pó que o vento lentamente espalha. E o vento tem sido forte ultimamente. Espalho-me e desapareço como cinzas no ar. Torno-me pó, pois do pó eu vim.
Então eu começo minha revolução, lanço minhas palavras aos quatro cantos. Reconstruo  a minha realidade sabendo na verdade, que de nada servirá pois tudo vai ter um fim. É inevitável que a vida em seus ciclos caóticos destrua tudo. O vento, em suas insistentes campanhas, destruirá nossos castelos como soprasse cartas. Somos castelos de cartas.
Nosso pedaços voam no ar enquanto tentamos nos remontar, nos reconstruir e ir para frente. Juntamos partes de quem somos, nossos cacos espalhados pelo chão. Tentamos encaixar todas as peças, mas elas sempre desaparecem. Sempre esquecemos uma parte fundamental e acabamos nos sentindo incompletos. Nunca estamos completos, nem nunca estaremos
Por vezes juntamos ao nosso castelo, outras pessoas, somamos forças para construir um só castelo. Construímos sem perceber que carta é nossa ou que carta é do outro. Ficamos fortes e belos até que o vento destrói tudo. É a vida, o que mais deveriamos esperar?
Um relacionamento só não acaba tragicamente quando os dois morrem juntos num acidente na BR-316, carbonizados após um choque com um caminhão. Quando sobra um para contar história, o que sobra é dor e angústia. E o vento bate; as cartas voam; os sonhos se vão; E fica contigo aquele pedaço infeliz que nunca vai se desgrudar de você. Pedaços de um quebra-cabeças incompleto.
Quero ventania. Queto tempestade e furação. Quero chamas e tormenta. Sangrar, apenas para sentir que estou vivo. Quero viver e viver e viver até que todo o meu sangue esteja fora de mim. Quero ter com o pai, com a mãe e com as 40 virgens que nunca me foram prometidas, mas eu continuo acreditando.
Quero voar, mesmo que seja para o inferno. Quero sentir minha cabeça explodir, meu corpo envenenar. Quero beber até dormir na sarjeta. Quero foder e conhecer o inferninho. Quero morrer, apenas para dizer que já vivi.
Mas sou covarde. Mesmo em cima do prédio com a pistola na mão não faço nada. E é por isso que essa vida me cansa. Estou tão cansado que nem para morrer eu tenho animo. Não tenho animo para acordar, nem para dormir.
Não suporto mais isto.
E aqui estou, escrevendo essa carta para ver se tomo coragem. Para ver se arranjo animo para fazer qualquer coisa. Tenho animo para escrever, mas a mente está cansada. O coração doendo e a garganta apertada. Quero chorar, mas não tenho forças para isso.
Quero gritar e sair daqui, mas não consigo. Quero falar com alguém que não jogue tudo em cima de mim depois. Quero falar. Quero morrer.

2 comentários:

  1. Muito bom o texto.A depressão, angustia e solidão. Pessoas fracas de espirito, aquelas vozes do lado direito e esquerdo, leva uma pessoa a se suicidar.

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