Eu tava voltando pra casa, era uma quarta-feira à noite, você sabe, eu saio as 9 da noite as quartas, não sabe? Como sempre, eu cortei caminho pela praça, só pra passar por perto da nossa árvore... Sempre quis gravar nossos nomes naquela árvore, mas nunca fiz isso, porque, sinceramente, é bem brega.
Eu
tava super empolgado aquele noite; iriamos sair na noite seguinte e
eu tava esperando isso há muito tempo. Tá certo que a galera toda
iria estar junto mas, era uma noite que passaríamos muito tempo
juntos; eu e você. Mas... o destino, ou Deus, se preferir, não quis
assim, não é? Ah... foi quando eu senti.
Primeiro
me assustei (eu tava com os pensamentos muito longe), senti aquela
ponta dura e gelada nas minhas costas. Dei um pulo de susto e tentei
olhar para trás, mas ele me acertou um soco ou um tapa na nuca. Gemi
de dor e ele ficou bravo, me mandou calar a boca e passar tudo. Tudo
o que? Perguntei. Ele se irritou de novo e disse: Carteira, celular,
tudo!
Senti
um aperto na garganta, meu estomago pulou e então, eu finalmente
tinha entendido, era um assaltante com um revolver nas minhas costas.
Sabe o que eu fiz? Exatamente como nossas mães e professores mandam:
cooperei. Pedi pra ele ficar calmo, que não era preciso ficar
nervoso, eu daria o dinheiro e o celular pra ele, e ele iria embora
tranquilo e tudo ficaria bem.
Acho
que ele não gostou disso. Deve ter pensado que eu tava tirando com a
cara dele. Acho que foi porque usei um tom de voz muito calmo. Eu
tava lutando pra me manter calmo, e não queria morrer, eu queria
muito te ver de novo, te encontrar no nosso encontro, que seria dia
seguinte. Eu iria sobreviver pra ver seu sorriso de novo.
Quando
ele pegou minha carteira, eu perguntei:posso ir agora? Mais uma vez
eu acho que irritei ele. Foi então que... eu senti, a pior dor
fisica que eu já senti na vida. Ele me acertou um tiro nas costas.
Sabe, um tiro doi demais. Toda força das minhas pernas sumiram num
instante, parecia um brinquedo quando acaba a pilha e desaba sem
forças.
Meu
rosto estava colando na grama molhada, eu sentia a terra umida na
minha boca e nas minhas mãos. Nem ao menos vi o rosto dele... Meu
coração tava tão acelerado... eu estava morrendo, a vida estava
escapando do meu corpo a cada segundo. Eu precisava viver! Eu
precisava voltar aqui e te ver! Me recusei a morrer. Gemendo pela
dor, eu comecei a me arrastar, ou tentar me arrastar; enfiava minhas
unhas na grama, cavando a terra e me puxava para frente, se eu
encontrasse ajuda, talvez eu ainda pudesse ser salvo. Era tudo que eu
conseguia pensar na hora.
Lembro
das luzes dos postes da rua; iluminava muito mal, eu não conseguia
ver direito pra onde ia, e quanto mais eu tentava me arrastar, mais
escuro as coisas ficavam à minha volta. Não era falta de luz. Não.
Era a morte chegando. Mesmo cego, eu continuei puxando o corpo para
frente, como um zumbi do Walking dead, um cadáver que não sabe que
morrer e se prende ao único impulso de se jogar pra frente. Minha visão estava toda escura e os barulhos da rua estavam cada vez mais
distantes, enquanto aquela bala me queimava como fogo do inferno nas
costas. E ai, eu te vi.
Sei
que não era você mesmo, era alucinação minha, eu vi seu rosto na
minha frente, seu rosto, no meio das trevas que me cercavam. Voce
pode até rir, mas te ver sorrindo pra mim, renovou minhas forças
para continuar. Levantei a cabeça e gritei, (ou tentei gritar) e
voltei a me arrastar. Quando senti que minhas mãos tocaram a calçada,
desabei, sem mas força alguma.
Quando
eu abri os olhos, eu tinha certeza que tava morto... Mas eu não
estava. Eu tava no hospital, tinha um medico e uma enfermeira do meu
lado. Perguntei se ali era o céu e eles deram risada. O medico me
disse que foi salvo por um milagre. Um milagre, acredita? Que minha
vontade de viver era absurda e que um tiro daquele poderia facilmente
ter me matado, mas eu estava ali, vivo e recuperado, nem ao menos um
ponto vital tinha sido acertado.
Mais
tarde vi meus pais. Pedi para te ver e falar com você, mas me
disseram que você tinha viajado. Minha mãe não parou de falar em
Deus e m milagre, mas sabe, não foi nem Deus, nem milagre. Eu fui
salvo por você. Minha vontade de viver e voltar a te ver foi o que
me impediu de morrer. Meu amor por você, Gabriela, foi o que não me
deixou partir para sempre, você entende isso?
E
quando eu me recupero, eu compro o buquê de rosas mais lindo da
floricultura, venho até a sua casa...e o que eu vejo? Você beijando
o Paolo? Sério... PAOLO? Justo ele?? Eu me senti tão... idiota!
Tão... revoltado... meu coração estava partido em milhões de
pedaços... Você se quer chegou a sentir minha falta? Ou será que já estavam saindo há muito tempo e só o idiota aqui que não viu?
Porque Gabi, porque? Porque fez isso comigo? O que sobrou de mim
agora?
A
moça lutava para se soltar das amarras. Estava amarrada numa cadeira
de madeira. Um pano na boca a impedia de gritar. Seu rosto estava
todo vermelho de tanto chorar. Soluçava e tremia em pânico.
Ele estava sentado à frente dela,
numa poltrona, na sala da casa dela. Ele estava com lágrimas nos
olhos também, parecia irritado e triste ao mesmo tempo.
Do bolso da jaqueta, ele puxa um
revolver 38.
Gabriela arregalou os olhos, tentando
gritar e se soltar. Ele levantou-se e caminhou para trás dela,
lentamente. Ela ouviu o barulho da arma sendo engatilhada.
- Eu entendo que não me ame como eu
te amo. Mas se quer mesmo ficar com o Paolo, tem que ser pra
sempre, tem que ter certeza que ele é o cara certo.
Ela sentiu o cano da arma tocando-a
nas costas. Tentava implorar para que ele parasse, mas as palavras
não lhe saiam da boca.
- Vamos ver o quão forte é o seu
amor por ele, Gabi. Se a vontade de voltar a vê-lo for maior que a
dor da bala, então,você vai sobreviver como eu. Agora... se ele
não for seu verdadeiro amor... bom, é melhor nem pensar nessas
coisas, não é?
Boa ideia esta ahn? Rsrs...Gostei! *_*
ResponderExcluirMuito bom o texto. Parabéns.
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