Há dois anos, desde o início da faculdade, Ruan
começou a cobiçar o corpo de Luana, sua colega de turma. Foi uma atração animal,
obsessiva e desmedida ocultada em sorrisos e palavras singelas, acima de
qualquer suspeita.
Ele tinha uma fome incomensurável de afeto, todavia não deixou que a emoção impetuosa o dominasse. Foi tão frio quanto operações matemáticas realizadas em uma calculadora.
Primeiro, cuidou de cativar a amizade daqueles
que eram mais próximos de sua amada, pois precisaria de alianças em sua
tentativa de conquista; depois sondou antigos relacionamentos da garota,
através das redes sociais, para saber onde os “Exs” tinham errado. O
comportamento poderia denotar uma psicose, mas quantas vezes a lógica é abatida
ao amarmos?
Daí em diante, agiu pacientemente até que ela
estivesse sob o seu jugo.
Esta era a noite em que coroaria a sua
vitória, finalmente compreenderia o que é o amor. Sentimento este que lhe foi
negado inúmeras vezes por almas insensíveis que se alegravam com o seu
tormento. Estava farto de ser manipulado como um personagem de videogame.
—O que está achando desse restaurante de
comida japonesa? Vi em seu perfil no Facebook que adora sushi – disse Ruan.
—Estou adorando o lugar! Os atendentes são
simpáticos, a refeição excelente e a decoração do estabelecimento me encanta.
Sabia que quando eu era mais nova queria morar no Japão? – ela sorriu, antes de
colocar mais um sushi na boca e mastigar com deleite.
Ruan falou muito pouco durante o encontro,
geralmente fazia colocações que estimulavam Luana a falar mais. O banquete dele
era observá-la comendo, enquanto salivava ao imaginar a sua língua passando
pelo corpo sinuoso dela.
Desfrutar dos seios fartos com a fome de quem
colhe duas maças suculentas, lambê-la entre as pernas como um cão sedento,
deixa-la de bruços e forçar passagem pelo ânus. Estas e muitas outras fantasias
rondavam a sua mente de forma segura, apenas por trás da cortina.
—No que você está pensando? – ela questionou
com simpatia.
—Nada importante – ruborizou-se, preservando
a atmosfera publicamente pudica.
Dissimular era essencial para um bom convívio
com pessoas, a verdade poderia ser perseguida por filósofos, mas a mentira era fundamental
para que tudo não ruísse em um estalar de dedos.
Na sobremesa, os dois degustaram sorvetes de
chocolate com cobertura de morango e flocos de arroz. Aquilo deu ainda mais
força para a libido de Ruan.
—Essa língua...
De repente, sentiu um gosto ferroso na boca e
tomou consciência de que mordia os seus lábios. Disfarçou o ocorrido.
Pagaram a conta e foram para a casa em que
Ruan morava sozinho, um presente dos pais, grandes empresários da cidade de
Maceió, pelo ingresso do filho único no ensino superior.
—Você quer beber algo, Luana? –as engrenagens
giravam como deveriam.
—O que você tem?
—Cerveja, vodka, uísque...
—Uísque! – optou, interrompendo-o.
—Ótimo, já volto.
Cada passo aumentava a ansiedade de Ruan. Andar
na linha só lhe rendia dor, então decidiu fechar todas as frestas em sua
armadura, tornar-se imune às mazelas da vida. Tudo bem que nesse processo a sua
inocência e bondade tiveram de ser sacrificadas, mas considerou o ato um preço
baixo.
Tudo o que sempre quis era amar simplesmente.
Pensava que sexo deveria ser bom, mas uma relação tinha de ser algo a mais que
isso. Do contrário, o que nos tornaria mais elevados do que animais selvagens
ou qual seria a nobreza contida em um sentimento para o qual as pessoas faziam
livros, músicas, pinturas e diversas outras formas de arte?
A adrenalina começou a correr em sua corrente
sanguínea, mal acreditava que convenceu Luana a vir até a sua casa. Serviu a
bebida em um grande copo e depois colocou um pó marrom, obtido com um contato
dos tempos de ensino médio. Retornou para a sala.
—Aqui está, madame – estendeu o copo.
—Obrigada.
Com goles grandes, Luana plantou o seu futuro
e satisfação de Ruan.
—Cara, essa bebida é forte mesmo, qual a
marca?
—Poxa, eu nem olhei a garrafa, foi cortesia
de um dos clientes dos meus pais.
A conversa se prolongou por mais ou menos
quinze minutos, quando o narcótico passou a agir.
—Não estou me sentindo bem.
—Venha, você pode descansar na minha cama –
antes de escutar uma resposta, ergueu-a e conduziu-a até o aposento.
—Pronto, durma – a deitou no leito.
Sombras modelaram o rosto de Ruan com um
esgar funesto, típico dos vilões das histórias de terror, Luana caiu na terra
de Morpheu antes do toque do metal frio em suas roupas e pele.
Lentamente, Ruan se despiu e subiu na cama
como um lobo que cerca a sua presa. Farejou-a no pescoço, inebriando-se com o
perfume extremamente doce que ela costumava usar. Mordiscou os mamilos rosados
até fazer pequenos cortes de onde escorreram alguns filetes de sangue para
saciar a sua sede infame.
Quando a penetrou, emitiu um baixo gemido de
prazer. Ainda não acreditava que estava com o coração dela em suas mãos.
Finalmente a tinha, somente para si.
—Luana, te amo – arfava e transpirava
copiosamente enquanto fazia o movimento de vai e vem.
Com estocadas pungentes, não demorou mais do
que cinco minutos para atingir o ápice do coito e tombar.
Olhou no fundo dos olhos dela e disse
lacrimejando:
—Você saciou a minha fome de amor.
Depois começou a devorar o músculo que até
algumas horas atrás bombeava sangue pelo corpo da jovem Luana, uma menina cheia
de sonhos, ansiosa em abrir o coração para a vastidão do mundo. Entretanto,
antes de sequer se formar, teve seu corpo aberto e serviu de alimento para a
besta que vestia uma pele humana. Foi atriz em mais uma dessas peças tétricas
que fazem os jornais venderem mais.
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