Por: Rodolfo Pomini
Jhenny deu uma vasculhada no texto, dando a resposta:
- Interior do Texas.
- Nunca ouvi falar dessa cidade – diz Elton.
- Como centenas de outras – Liz abriu a boca para corrigi-lo.
- E o que está dizendo sobre ela? – indagou Chris.
Lendo a parte interessante, ela esclareceu a todos sobre o fato da cidade, apesar dos quase 600 km², se encontrava atualmente deserta e a última pessoa a ter estado lá, faleceu há pouco mais de cinco anos.
Morte incógnita, pois se suicidou ao tentar fugir do quarto almofadado, apertando-se por entre os cilindros de aço da janela gradeada do hospital psiquiátrico alguns quilômetros da cidade, perto da capital. O Sr. Hudston nunca conseguiu concluir sua visão dos fatos que o levaram a loucura para que fosse feito o diagnostico. A ficha foi arquivada incompleta e sem resolução.
- Uma coisa dessas e tão perto daqui! – exclamou surpreso Elton. – Como não vimos isso antes?
- Pode ter sido postado pouco tempo atrás – diz Jhenny.
- Realmente, tanto é que você teve de pular por 34 páginas – intrometeu-se Liz.
Quieto durante todo esse tempo, Ronald finalmente falou entre a fumaça:
- Nós vamos ou não para Steel City?
Não contaram as horas de viagem. Sabiam que já era tarde pelo sol a cair no hori-zonte às costas, inundando de laranja as construções inteiras e perfeitas logo depois da ponte, onde corria o largo rio de água azul.
Cinco faces tinham estampado uma grande interrogação. Mas em início de estado delirante, Chris ligou o carro novamente, cantando pneu, guiando o veículo pela ponte, gritando:
Risos do casal acompanharam-no na loucura. Liz permanecia ao mesmo tempo in-crédula e com medo naquela situação, por estar um triz de morrer tão cedo. Havia pedi-do várias vezes durante o percurso e até antes de saírem com o carro que Chris não en-chesse a cara, ou dirigisse com menos empolgação. O amigo gótico, Ronald, ficava calado. Divertia-se com o risco, sorrindo levemente os lábios. Faria diferença? Haviam adentrado na zona de perigo!
Cabeças saíram de sob o teto do Ford Focus, e a metade do tronco de Elton pelo teto solar. A paisagem não tinha nada demais. Nenhum edifício com janelas estraçalhadas, carros revirados pelas ruas, todo e qualquer tipo de ferro retorcido ou destruído… A única coisa estranha em tudo aquilo, era a ausência de habitantes, ou de quem pertence-ra as roupas espalhadas no asfalto, além de maletas, pastas, celulares, joias e etc.
- Alguém vê algo estranho nisso aqui? – diz Chris.
- Parece mais aqueles cenários de filmes sobre vírus, como o Resident Evil – opinou Liz.
- Concordo. – diz Jhenny.
Parou o carro no meio da rua.
Desceram.
Papéis jogados no chão rodopiavam com a passagem do vento.
- OLÁ! – gritou Elton. – TEM ALGUÉM EM CASA! – riu logo em seguida. Continuava meio chapado.
- O que pretendem fazer agora? – questionou Liz para a turma.
- Procurar saber o motivo do sumiço de todos. Pode ser? – perguntou Chris.
- Que clichê – ela rebateu.
- O que mais se pode fazer numa situação desta? – Elton interveio.
- Verificar qual o sentido desta placa – diz Ronald, chegando à calçada, tocando o suporte cilíndrico de 1,90m. Dez centímetros mais alto que ele.
Voltaram a atenção ao amigo. Aproximaram-se.
A placa exibia em tipografia padrão das outras, a indicação: CASA DO PRÉDIO WEALTHY HOME. Uma seta na vertical indicava literalmente o céu.
- Vamos subir pra descobrir – diz Ronald, já distante do grupo, subindo os degraus da portaria.
Atravessaram o salão da recepção iluminado por luzes nas paredes e o teto envidra-çado radiante. Ninguém a vista. Só a paisagem de pertences pelo chão. Tomaram o primeiro dos seis elevadores dispostos num curto corredor amplo.
Liz observou o redor e sentiu um calafrio, esfregando os braços.
- Esta cidade parece diferente de tudo que já vimos.
- Todos os lugares são diferentes – diz Jhenny.
- Eu me refiro à sensação que o lugar passa.
O dedo com anel de caveira de Ronald apertou o botão da cobertura. A caixa metálica disparou acima. Pouco mais de três minutos atingiram o último andar. A porta se abriu revelando dois corredores acarpetados de vermelho sangue. Um a contar com cinco portas a frente e o segundo a cruzá-lo.
Ronald se fez de guia, pois novamente foi o primeiro a partir para a última porta na extremidade oposta. Números prateados sobre portas de madeira polida ficavam às costas do grupo. O gótico não esperou um segundo sequer, girou a maçaneta e entraram no local de evacuação emergencial, subindo as escadas que os levaram à outra porta, desta vez de ferro. Nesta sim, Ronald estancou segurando a comprida maçaneta, mostrando medo no rosto.
- O que houve?! – pergunta Liz, preocupada, igualmente ao restante.
O companheiro esperou alguns instantes, para depois… sorrir.
- Peguei vocês.
Olhos reviraram de ódio.
- Quer abrir logo essa porra?! – diz Chris irritado.
O punho do amigo gótico puxou a maçaneta e empurrou a porta. Mais alguns degraus e voilá.
Sob pupilas e pálpebras comprimidas pela luz, erguia-se perante os cinco uma bela casa branca de dois andares, rodeada por jardins. O caminho feito de pedra os levava a entrada e a um capacho marrom.
- Quem se atreve a tocar a campainha? – falou Elton em tom de sarro.
Parados, olham por mais um tempo a habitação, depois entre si.
- Vamos tirar no par ou impar? – sugeriu Elton.
- Que ideia idiota – acha Liz.
Cheio desse receio besta dos amigos, Chris passou a frente deles. O jardim emanava os adoráveis odores de rosas vermelhas e brancas, margaridas coloridas, gerânios e íris. No espantoso pequeno lago quase a beirar o prédio, lírios d’água.
- Que coisa mais impossível – comentou para si mesmo enquanto pisava na estreita passarela de pedrinhas brancas.
Sobre o carpete, com aquele habitual “BEM VINDO”, afundou o botão preto fazendo soar o dim-dom. Virou a cabeça para trás verificando a permanência dos colegas ainda do outro lado.
- Achei que vocês também gostassem de lidar com o sobren…
A porta se abriu, calando Chris. Voltou-se para ela. O interior da residência estava escuro. Deu um passo, tentando enxergar melhor o interior. De repente o susto.
- Há algo de estranho aí dentro? – a voz de Elton fez o coração de Chris acelerar.
- Ficou maluco?! – respondeu irado antes de ser sugado misteriosamente para dentro da casa e a porta ser fechada num estrondo.
- OH MEU DEUS! – Jhenny se apavora juntamente quando Liz grita sem controle e os rapazes expressam o assombro. Elton com um alto “UOW!”. Ronald esbugalha os olhos e empalidecido, berra:
- VAMOS CAIR FORA DAQUI, RÁPIDO! – empurra as meninas, puxando Elton.
Esta era a primeira vez que o outro lado fazia seu maior contato. Do modo mais ina-creditável possível.
Três corriam, tirando as pedras brancas do caminho. Jhenny era levada aos gritos, querendo voltar para resgatar o namorado. Desceram as escadas, retornando para o inte-rior do edifício.
A casa iniciou a transformação, desgastando a pintura, janelas e portas, mostrando a sua realidade. Do rodapé das paredes a sombra se estendeu sobre o jardim e além. As flores murcharam, perdendo cor. O gramado pareceu pisoteado, falho, com partes de terra a vista aqui e acolá. No lago, a água virou sangue, os lírios afundaram mortos, dando lugar a partes de corpos mutilados.
- Qual é! – diz Elton – Nós já estamos dando o fora daqui! – falou para aquilo que existia lá em cima a crescer no seu despertar.
- Mexemos com algo poderoso – Ronald dá sua sentença.
Jhenny e Liz haviam se acalmado, mas lágrimas ainda vertiam pelas faces.
Tim. Chegaram ao térreo. Andaram correndo atravessando o salão. Luzes piscaram. Iam se apagando a medida que o lugar se revertia. Elton deu uma rápida observada pe-las costas e teve o corpo todo arrepiado, tomado pelo medo. Desocuparam o prédio, pularam os degraus em pares. Quando ele pela última vez viu a ação sobrenatural desfi-gurar o edifício inteiro, avançar sob os pés da turma a contemplar o desfecho do ato, a continuidade da destruição da cidade, onde os postes, carros, fios e o resto ocuparam os devidos lugares nas ruas, calçadas e no interior de estabelecimentos e os papéis e rou-pas desintegrados… foram surpreendidos com suas sucções repentinas.
Quatro corpos voaram para o topo do mesmo prédio, horrorizados. A casa tinha a porta aberta novamente. Cada um fez a curva do parapeito, sendo engolidos pelas trevas.
Liz despertou. Metade do corpo banhado pela claridade da lua. Não sentia dores no corpo, mas sua cabeça latejava como se tivesse enchido a cara. Sentou-se na cama apertando de leve a têmpora com a mão, enrugando o lado direito do rosto pela dor aguda.
- Droga, o que aconteceu? – pergunta antes de notar a ausência de terceiros no que parecia um quarto. O abajur estava apagado, mas também não se fazia necessário estar aceso. Só o facho de luz proporcionado pela noite cheia dava-lhe um bom farolete para descobrir o resto das coisas: um armário na parede diante da cama; uma cômoda à esquerda do leito com o que parecia ser pela forma, um castiçal; e uma poltrona no canto direito, dois passos ao lado do armário, acompanhada de uma luminária para leitura.
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