Aquela manhã estava sendo uma tortura. Tortura. Raquel repetia isso a si mesma a cada dois minutos. O problema tinha começado muito, muito cedo. No metrô, extremamente lotado, um homem "alojou-se" logo atrás dela e, assim, qualquer solavanco ou movimentação de outros passageiros era motivo para... Pressioná-la.
Quando saiu, antes dela, ainda disse: "Bunda perfeita, hein, cavala? Perfeita, carnuda". Falava isso salivando, como um (homem) animal. Raquel nunca se sentiu tão aviltada. O pior é que esse tipo de situação se repetia com frequência. Raquel, tinha, de verdade, uma "bunda perfeita". Seu corpo era "delicioso, carnudo". Se não tivesse algum pouco de bom senso ou convicções próprias, poderia ganhar a vida rebolando em algum (homem) programa de auditório. Porém, sabia que, provavelmente, teria que se vender muito mais que isso... Portanto, trabalhava e estudava como uma pessoa comum.
Na medida do possível.
No escritório, a coisa não era muito diferente, afinal. Nem mesmo no curso de pós-graduação. Dependendo de por onde passava, ouvia as "propostas" mais indecentes. Todos (homens) queriam "provar" de seu corpo... Como animais no cio, mesmo que elogiassem sua "perfeição". Um dos (homens) professores da faculdade, inclusive, fez com que ela desistisse de uma matéria muito importante; o homem a encarava durante toda a aula e, na turma de seis alunos - sendo ela a única mulher -, lhe dava atenção demais. Indevida, alguns diriam. Mas a coisa passou do limite quando, ao encontrar Raquel sozinha, ainda, na sala de aula, o velho se aproximou, cumprimentou e, quando apertou-lhe a mão, puxou-a para perto de si.
Agarrando, com a outra mão, uma das nádegas dela.
Ela chorou por três dias, e quase cancelou o curso. Nunca teve coragem de denunciá-lo. A vergonha, acreditava, seria maior para ela.
Inclusive, enquanto esses fragmentos de memória a retomavam, ouviu algum comentário distante, enquanto adentrava o prédio comercial onde o escritório se localizava: "Que vadia gostosa. Metia até nas orelhas dela. Me deixa latejando por esse rabo", uma voz arrastada, em um meio sussurro, declarava para dois ou mais outros homens. Não demonstrou reação, no momento, mas Raquel reconheceu aquela voz.
Enquanto subia as escadas - não entraria no mesmo elevador que eles, não agora -, quase correndo, não parou de pensar naquela voz até entrar em sua sala pessoal e trancar a porta.
Era a voz de seu chefe.
O que ela estava fazendo de errado? Por que as pessoas (homens) se comportam assim?! Ela não fazia nada para (homens) que a tratassem com uma cadela!! Como uma puta!!! Porém, sempre foi assim. E uma memória lhe tomou. Uma memória antiga e quase suprimida. E algo mudou nela.
E não precisou chorar, desta vez.
O resto do dia passou como se nada tivesse acontecido a Raquel - os abusos, o desrespeito, as memórias sujas. Sua obstinação e serenidade foi percebida por outros (homens), aliás. Entre seus cubículos, observavam sua passagem com certa reverência... Como uma sensação diferente. Não era, agora, uma presa deliciosa. Era... Era outra coisa.
E, antes do dia acabar, pediu para ter uma reunião particular com ele.
Com seu chefe.
Curiosamente, ele a esperou com toda a paciência e (desejo) do mundo. Afinal, o expediente havia terminado há dez minutos quando Raquel entrou na sala dele. Mesmo assim, ele (um homem) lhe recebeu com toda a atenção, mesmo que não tenha a deixado falar... Na verdade, ele acreditava que Raquel tinha, de fato, ouvido a sua "indiscrição" anterior e pretendia pedir demissão. Ou pior: processá-lo por assédio moral. E ganhar muito dinheiro às suas custas.
Por isso, por (medo) precaução, já descarregou todo o texto que tinha pronto sobre a qualidade de seu trabalho, sobre como a empresa reconhecia seu valor e como ela era (gostosa) importante. Falou por, aproximadamente, vinte minutos. Vinte minutos. E ela não mencionou palavra alguma. Como tal retórica falaciosa exige, ele olhou diretamente nos olhos dela o tempo todo e... Ele achava que não tinha a visto piscar, inclusive.
Mas, logo, esqueceu disso. E reparou que, nesses vinte minutos, ficaram sozinhos no escritório... E no andar todo.
Quando Raquel, finalmente, falou, disse que não se importava com isso. Só queria uma coisa dele. Foi o bastante. O (homenzinho) se aproximou dela, daí. Quase ofegando. E (desejando) tocando a cintura dela, no processo.
E (a fera) Raquel notou que ele, de fato, estava "latejando".
Foi nesse ponto que ela ergueu os braços. Ele achou que fosse para facilitar a retirada da roupa. Quando chegou perto o suficiente, Raquel desceu as (garras) mãos. Com a velocidade de um açoite, de um relâmpago.
E atingiu o crânio daquele (fraco) verme como a força de um martelo atingindo a bigorna. Atingiu dezenas de vezes. O sangue (pútrido) espesso já formava, no assoalho, um padrão.
De terrível simetria.
Na medida do possível.
No escritório, a coisa não era muito diferente, afinal. Nem mesmo no curso de pós-graduação. Dependendo de por onde passava, ouvia as "propostas" mais indecentes. Todos (homens) queriam "provar" de seu corpo... Como animais no cio, mesmo que elogiassem sua "perfeição". Um dos (homens) professores da faculdade, inclusive, fez com que ela desistisse de uma matéria muito importante; o homem a encarava durante toda a aula e, na turma de seis alunos - sendo ela a única mulher -, lhe dava atenção demais. Indevida, alguns diriam. Mas a coisa passou do limite quando, ao encontrar Raquel sozinha, ainda, na sala de aula, o velho se aproximou, cumprimentou e, quando apertou-lhe a mão, puxou-a para perto de si.
Agarrando, com a outra mão, uma das nádegas dela.
Ela chorou por três dias, e quase cancelou o curso. Nunca teve coragem de denunciá-lo. A vergonha, acreditava, seria maior para ela.
Inclusive, enquanto esses fragmentos de memória a retomavam, ouviu algum comentário distante, enquanto adentrava o prédio comercial onde o escritório se localizava: "Que vadia gostosa. Metia até nas orelhas dela. Me deixa latejando por esse rabo", uma voz arrastada, em um meio sussurro, declarava para dois ou mais outros homens. Não demonstrou reação, no momento, mas Raquel reconheceu aquela voz.
Enquanto subia as escadas - não entraria no mesmo elevador que eles, não agora -, quase correndo, não parou de pensar naquela voz até entrar em sua sala pessoal e trancar a porta.
Era a voz de seu chefe.
O que ela estava fazendo de errado? Por que as pessoas (homens) se comportam assim?! Ela não fazia nada para (homens) que a tratassem com uma cadela!! Como uma puta!!! Porém, sempre foi assim. E uma memória lhe tomou. Uma memória antiga e quase suprimida. E algo mudou nela.
E não precisou chorar, desta vez.
O resto do dia passou como se nada tivesse acontecido a Raquel - os abusos, o desrespeito, as memórias sujas. Sua obstinação e serenidade foi percebida por outros (homens), aliás. Entre seus cubículos, observavam sua passagem com certa reverência... Como uma sensação diferente. Não era, agora, uma presa deliciosa. Era... Era outra coisa.
E, antes do dia acabar, pediu para ter uma reunião particular com ele.
Com seu chefe.
Curiosamente, ele a esperou com toda a paciência e (desejo) do mundo. Afinal, o expediente havia terminado há dez minutos quando Raquel entrou na sala dele. Mesmo assim, ele (um homem) lhe recebeu com toda a atenção, mesmo que não tenha a deixado falar... Na verdade, ele acreditava que Raquel tinha, de fato, ouvido a sua "indiscrição" anterior e pretendia pedir demissão. Ou pior: processá-lo por assédio moral. E ganhar muito dinheiro às suas custas.
Por isso, por (medo) precaução, já descarregou todo o texto que tinha pronto sobre a qualidade de seu trabalho, sobre como a empresa reconhecia seu valor e como ela era (gostosa) importante. Falou por, aproximadamente, vinte minutos. Vinte minutos. E ela não mencionou palavra alguma. Como tal retórica falaciosa exige, ele olhou diretamente nos olhos dela o tempo todo e... Ele achava que não tinha a visto piscar, inclusive.
Mas, logo, esqueceu disso. E reparou que, nesses vinte minutos, ficaram sozinhos no escritório... E no andar todo.
Quando Raquel, finalmente, falou, disse que não se importava com isso. Só queria uma coisa dele. Foi o bastante. O (homenzinho) se aproximou dela, daí. Quase ofegando. E (desejando) tocando a cintura dela, no processo.
E (a fera) Raquel notou que ele, de fato, estava "latejando".
Foi nesse ponto que ela ergueu os braços. Ele achou que fosse para facilitar a retirada da roupa. Quando chegou perto o suficiente, Raquel desceu as (garras) mãos. Com a velocidade de um açoite, de um relâmpago.
E atingiu o crânio daquele (fraco) verme como a força de um martelo atingindo a bigorna. Atingiu dezenas de vezes. O sangue (pútrido) espesso já formava, no assoalho, um padrão.
De terrível simetria.
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