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segunda-feira, 17 de junho de 2013

A outra parte de mim III

           

           As crianças se apertam umas às outras, com medo. O Tigre encara a menina lobo com seriedade; logo outros guardas ou coisa pior apareceriam ali, mas ele tinha que fazer algo para proteger as crianças que ainda estavam vivas.

       A loba pula sobre o tigre, tentando rasga-lo com unhas e dentes, mas é habilidosamente imobilizado pelo oponente; o tigre branco segura as mãos da loba, impedindo o ataque. Depois, acerta uma joelhada no estomago dela. Ainda segurando-a pelos pulsos, ele a arremessou de cabeça contra o muro. Estava seguro da força dela, sabia que aqueles golpes não a matariam, mas quem sabe a dor a assustasse?

              Tatiana levantou-se atordoada e rosnando. O tigre a acertou com uma pancada na cabeça, com a mão fechada, mas não antes dela acerta-lo na altura no peito com a garra. O rapaz recuou, rosnando de dor, mas ela já estava no seu limite, aqueles golpes na cabeça a desnortearam demais. Rangeu os dentes com raiva e foi lentamente se afastando, acuada e com medo.

            O pelo branco dele estava manchado de vermelho, a dor estava latejante mas ele não se mexeu; apenas olhou-a recuar ate correr para o mato, sumindo da vista.

Um inimigo mais forte fez com que a mente bestial dela mudasse de foco, pensando menos na raiva e mais em sobreviver. Com as mãos no chão, ela correu pela floresta como um animal. Passou por varias árvores, saltou sobre pedras até chegar a um rio.

Cansada, ela cai de joelho à beira do rio,metendo o focinho na agua, matando sua sede, e foi então, que pela primeira vez, Tatiana pôde se ver em forma de lobo: refletida na superficie espelhada do rio, viu seu rosto bestial. O susto lhe deu um choque e o choque despertou sua mente. Tocou o o rosto, olhando o próprio reflexo, incrédula.
     - Essa sou eu? Como isso? Não! Não!
         Olhou-se por inteiro; estava peluda, cinza, grande... mas não ainda assim, bonita. Bonita como uma loba selvagem. A expressão de raiva não estava mais em seu rosto. “Como foi que eu virei um lobo? Então é isso que acontece quando eu fico com raiva?” Pensou consigo mesma. Era assustador, mas ao mesmo tempo, incrível.

Fechou os olhos com força e desejou voltar ao normal. Tentou lembrar-se de sua vida antiga, com os pais, indo ao comer lanche no shopping, das amigas na escola...Quando abriu os olhos, não viu mais o lobo, mas sim, seu rosto normal... Bem mais diferente do que e lembrava; nesses dois anos que ficou presa, mudou muito.

           Floresta. Então aquela prisao ou seja lá o que era, ficava numa floresta? Em que lugar do mundo? Em que país? Ficou de pé e olhou a sua volta: estava cercada por árvores, à beira de um rio, com muitas pedras ao redor.

Um grito estridente ecoou ao longe, era um misto de dor e terror, e, claramente, feminino. Tati deu um pulo por causa do susto; procurou ao redor pela mulher que gritava, mas não viu ninguém.

            Outro grito. Dessa vez, mais próximo. Relutante, olhou para o céu e viu o que não queria ver: uma coisa grande e com asas, voava na direção dela. Os gritos vinham dessa coisa voadora, e não parecia nada amigável. Horrorizada, a menina se pós a correr para a floresta, esperando que as árvores a ajude a escapar daquilo, o que quer que fosse.

          Correr pela mata desconhecia não era fácil, especialmente estando descalça e fugindo de algo desconhecido. Espinhos e pedras machucavam seus pés e galhos feriam sua pele; quanto mais corria, mais se machucava, mesmo assim, não pensava em parar, não podia. Aquela coisa ainda estava atrás dela, gritando como se tivesse sofrendo de dor terrível, não sabia o que ela era nem o que queria, mas estava certa de que não era boa coisa.

              Seu coração estava acelerado pela correria e pelo pânico, não sabia o que fazer e sentia que o cansaço já estava derrubando-a, não aguentaria correr por muito tempo mais.

             Tropeçou.

            O corpo de Tati foi ao chão violentamente, perdendo o resto de ar que ainda tinha no peito. Toda a dor que estava em seu corpo veio à toma com a queda; rangeu os dentes e gemeu. Não conseguia mais se mover.

            Sentiu a mulher voadora pousando no chão, atrás dela. Ouviu um gemido, como se ela estivesse chorando. Com muito esforço, virou-se de barriga pra cima para poder vê-la.

             Aquilo era uma menina, não muito mais velha que ela, ou melhor dizendo, aquilo um dia foi uma menina. Estava vestida com um collant preto que cobria o corpo quase todo, menos o rosto. A face da menina era acinzentada e completamente tenebrosa: as pálpebras e os lábios tinham sido arrancados, como se tivessem sido cortados por uma tesoura. Os olhos eram completamente negros e os dentes amarelados e separados.

Aquele par de olhos negros e esbugalhados encarou-a, enquanto a boca soltava pequemos gemidos. As asas nas costas estavam dobradas e a mão dela, esticou-se na direção de Tatiana, que agora estava indefesa.

           Paralisada de medo, a menina fechou os olhos e esperou a morte certa... mas alguma coisa não quis assim.

           Começou com um longo e agudo pio de águia, seguido de uma lufada de vento muito forte. Depois, ouviu mais gritos da menina alada, dessa vez, os gritos eram puramente de dor. Arriscou, com muito medo, abrir os olhos e o que viu a deixou embasbacada: Uma águia de cabeça branca, muito grande estava atacando a menina-que-voa-e-grita; estava em cima das costas dela, com suas garras de ave cravadas naquela carne semi-pútrida. Com o bico, acertava-a na cabeça, causando-lhe profundos cortes.

        Sem força para reagir, a menina assistiu aquelas duas bestas lutando, enquanto sangue voava sobre as pernas dela. A águia então desferiu o golpe fatal, perfurando o crânio da gritadora. Ela solta um ultimo grito, que lentamente vai diminuindo. A cabeça dela cai mole no chão, indicando falta de vida, porém, aqueles olhos negros e arregalados, ainda olhavam para Tatiana.

       Um das bestas estava morta, mas e quanto a outra? Iria aquela águia gigante devora-la? Olhou-a nos olhos, e notou compreensão no olhar do animal, era quase como se fosse...

            A gigantesca ave soltou um pio e começou a se encolher... diminuir de tamanho. As penas foram caindo e sumindo em seu corpo. Lentamente, pele humana, morena pôde ser vista por entre elas. O bico recuou para dentro da boca, onde foram cercados por lábios humanos. Os olhos azuis do animal escorreram como gelatina pela face, dando lugar a um par de olhos castanhos e humanos. Um longo cabelo preto se desenrolou às suas costas enquanto as asas se tornavam braços.

              “Ela é um anjo?” pensou Tati ao olhar para a moça que se formava à sua frente.

Era uma garota bonita: estava usando um vestido velho e em condições precárias, mas de alguma forma, lhe caia muito bem. Era bem alta e parecia ter uns 16 ou 17 anos. No pescoço, trazia um colar de penas estilo indígena e no rosto, um simpático sorriso.
   -  Quem... quem... o que...? 
               A moça lhe sorriu e estendeu a mão:
    - Meu nome é Thaís, sei como você se sente. Vem comigo se quiser viver.


CONTINUA...

2 comentários:

  1. Muito FOOOOOODAAA!!! *_* Quanta honra! *_*

    =*******

    Parabéns, está cada vez melhor a história! Agora falta só esperar a próxima segunda..O_O

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  2. Sem palavras :X! Você nasceu para o terror Ramón, ficou sensacional, emocionante e surpreendente. Muito bom mesmo!!!

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