Dia
15 de Agosto de 2006, foi quando começou. O primeiro incidente;
Tatiana Sanchez, idade doze anos.
Eram
dez e quarenta da manhã, o recreio recém tinha terminado. A sala
estava em silencio durante a prova de matemática, e como de costume,
a maioria dos alunos estava muito nervosa. Tatiana era uma dessas
pessoas. Noite passada ela teve um sonho estranho; sonhou que corria
selvagem no mato, e era capturada e enjaulada como um animal. Apesar
do medo, ela sentiu ao acordar, uma sensação de liberdade e força.
Na verdade, vinha tendo esses sonhos a alguns dias, mas nunca comentou
pra ninguém.
Ela
despertou do seu transe; estava lembrando do sonho e esqueceu da
prova, ali na sua frente. O professor; um gordinho de oculos de aro
redondo, estava de braços cruzando, olhando-a com olhar de
reprovação. Ela sabia o que ele estava pensando: pensava no quanto
vai amar dar notas vermelhas pra ela e para mais uns na turma. Ele
era ruim, gostava de ser mal, e isso a irritava.
Aqueles números e cálculos na sua frente também a irritavam;
pareciam estar rindo dela, de sua falta de concentrarão. A prova
estava irritante. Isso sem falar nas pontadas que estava sentido no
peito, a manhã toda. Era como se a cada dez minutos, alguemlhe
enfiasse uma estaca no coração, como fazem com vampiros nos livros
e nos filmes.
No
silencio, só se ouvia barulhos dos lápis riscando papel; o
professor foi sentar-se em sua mesa, olhando a sala toda com olhos
atentos, pronto para pegar um infrator.
Sem
motivo algum as pontadas começaram a aumentar, assim como a dor
causada por elas. Tatiana rangeu os dentes; era como se algo dentro
dela estivesse rasgando-a, querendo sair; devorando sua carne e
ossos. Parecia seu peito iria explodir. Apertou os olhos tentando
suportar a dor sem fazer barulho.
O silencio foi rompido por pequenos gemidos de dor. Os colegas a
olhavam, assustados . O professor ficou de pé, encarando-a, pronto
para arrancar a prova das mãos dela, pronto para abusar da sua
autoridade como professor malvado de matemática.
“Liberte-se,
libere-se, deixe sair, deixe explodir, você não pode segurar o
desejo...”
As
dores pioram: se antes estavam incomodando, agora passaram a ser
insuportáveis. Tatiana derrubou o lápis no chão, sentia muito
calor. Seu rosto se torcia de dor e os gemidos viraram gritos. Ela
levantou da cadeira, gritando e com as mãos no peito, como se
estivesse tendo um ataque cardíaco. E então começou:
Seu
corpo ficou mais largo, sua pele, escura. A mão torcia e girava como
se estivesse sem ossos, as unhas caíram no chão. O rosto alongou-se
para frente, com os dentes para fora da boca. Sua pele esticou até
começar a rasgar como pano, revelando uma segunda pele por baixo,
uma pele coberta de pelos cinzentos. As orelhas ficaram compridas e
pontudas e os cabelos ficaram cinzentos, como os pelos. Os olhos
ganharam uma cor amarelada e os dentes triplicaram de tamanho. Nos
braços podiam-se ver músculos sólidos. A mão rasgou-se, deixando
sair uma nova mão com unhas negras compridas.
Ela
gritou mais uma vez, pedindo socorro, mas todos estavam paralisados
de medo olhando-a se rasgar toda daquele jeito. Seus olhos incharam
como balões, girando loucamente fora das órbitas, quando então
explodiram como uma bolha de água, revelando um novo par de olhos
por baixo.
A
garota ficou de pé, derrubando a mesa da escola. Os outros alunos se
afastaram gritando, enquanto ela levava as mãos à cabeça, rosnando
de dor e raiva. Com as garras, rasgou e arrancou a carne do próprio
rosto. Seus pés tornaram-se patas como de cachorro, destruindo
totalmente seu tênis e uma cauda esticou-se para fora de sua coluna,
Tatiana tinha se tornado, um híbrido de lobo e humano, com pelos
cinzas, quase o dobro do tamanho... linda, majestosa mas ainda assim,
furiosa.
Liberou
um uivo alto e estridente, intimidando todos a sua volta, fazendo-os
calar seus choros e gritos. Sua mente estava perdida na mente da
besta, ela olhava ao redor e não reconhecia ninguém. Rosnou
raivosamente para todos em especial para o professor:, sentia ódio
especial por aquele homem de jaleco branco. Ele falava coisas...
Coisas que ela não entendia e que a irritavam.
Rápida
como um relâmpago, Tatiana pulou sobre o professor e decepou sua
cabeça com as garras de navalha. O corpo do professor caiu no chão
como uma boneca de pano e a cabeça voou pela janela, quebrando-a. Os
alunos ameaçam começar a gritar, mas Tatiana virou seu olhar
amarelo e paralisante para eles e para eles, fazendo-os calar-se.
Sem
saber o que fazer, a garota saltou pela janela da sala. A sala era no
segundo andar, e sempre lhe pareceu alta, mas dessa vez não; caiu
suavemente no chão, com graça e sutileza.
Um
lobisomem cinza correu pelo pátio, atropelando crianças e outros
empregados. Em poucos minutos o caos era total, todos evacuaram a
escola, correndo e gritando por suas vidas.
Tatiana
entrou no banheiro, onde começou a sentir mais dores. Seu enorme
corpo lupino caiu no chão, rosnando de ódio, mas, por algum motivo,
muito enfraquecida.
Não
se sabe quanto tempo ela ficou ali caída, foi quando então, “ele”
apareceu. Entrou no banheiro e encarou a fera no chão; aquilo não
era novidade para ele, já tinha visto aquela situação, ela estava
morrendo.
-
A besta está tomando sua mente – disse a ela. Sua transformação
tem um efeito colateral terrível.
Ele
sabia que ela o ouvia e entendia, só não conseguia reagir às
palavras dele. Essa era a melhor hora para a aproximação, quando a
besta enfraquece, qualquer outra hora ela teria matado-o. Tirou do
casaco uma seringa com um “tranquilizante” potente, na verdade,
um remédio para ajudar os transformos a se controlarem.
-
Por sorte eu posso fazer algo por você.
Injetou
o conteúdo em seu pescoço e esperou o resultado... O uivo de dor
foi lentamente diminuindo, tornando-se um gemido de menina, e em
minutos, Tatiana está de volta em sua antiga forma, com as roupas
destruídas... O remédio funcionou, ela está viva.
Logo
depois, umas pessoas de roupas brancas apareceu: eles cobriram o
corpo dela com um pano preto e a levamos dali como se estivesse
morta.
Tatiana
Sanchez foi um dos que não morreram, mas ainda faltavam localizar
quatro... quatro outros como ela. Quatro que “eles” não queriam
perder de maneira alguma.
Ela
acordou em uma sala pequena e tétrica. Era manhã, como todas as
manhãs têm sido à dois anos. Não sabe o que lhe aconteceu; estava
um dia na escola e aí não lembra de muita coisa; tudo parece
nebuloso e distante.
Seu
nome era Tatiana. Ainda lembrava-se do seu nome, pois tinha escrito-o
com sangue, na parede. As vezes, lia e repetia o próprio nome
diversas vezes para não esquece-lo.
Ninguém nunca a explicou o que aconteceu aquele dia, e nem porque
ela estava presa a tanto tempo. A sala era pequena, com paredes de
concreto e uma porta metálica. Uma vez por dia, uma bandeja com
comida era atirada para dentro. No começo ela tentava gritar por
ajuda, mas logo viu que isso era inútil, a ajuda nunca viria.
Pensou em se matar várias vezes,
cortando os pulsos com os próprios dentes; em seu desespero,
mordeu-se com força, mas, por algum motivo, suas feridas
cicatrizam-se numa velocidade assustadora. Era tão rapido que ela
conseguia ver a ferida fechando sozinha.
Resolveu fazer disso um passatempo; se
cortava e arranhava, só pra ver a ferida fechando.
Não tem certeza de quanto tempo
passou ali presa; perdeu a conta das horas e dos dias. Desistiu de
falar e gritar, só ainda não desistiu de viver, poque não
conseguia morrer. “Tem que haver um motivo para eu estar viva”
pensava.
Um dia a porta foi aberta. A luz cegou
os olhos de Tatiana e ela só conseguia ver vultos entrando.
Pegaram-na e a levaram para uma sala estranha, parecia uma sala de
dentista, com maquinas estranhas e agulhas. Por algumas horas os
homens furaram sua pele, retiraram seu sangue, amostras de pele e
cabelos. A garota implorou para ser solta,mas eles a ignoravam, era
como se estivesse muda. Seus braços e pernas estavam fortemente
presos na mesa de cirurgia.
Seu ódio e sua dor chegaram num ponto
máximo; ela sentia que a sanidade tivera abandonado sua mente,
rosnando e gritando. Desejava rasgar e matar todos naquela
sala.Sentiu-se forte e superior a todos, iria estraçalhar eles, um
por um... Porém, quando começou a acreditar que seria livre...
Acordou na mesma sala de sempre. Nenhuma ferida no corpo.
Seu rosto estava colado no chão frio
daquela odiosa sala. Seus olhos estavam entreabertos, não queria
acordar e não queria levantar. Não houve fuga e talvez nunca haja.
“Será que se eu ficar sem comer eu poderei morrer?” É possível,
pensa ela. Não importa mais o porquê de a quererem viva, Tatiana
agora prefere estar morta... Mas a idéia a fazia tremer de pavor;
morrer de fome deve ser uma morte horrível e dolorosa.
No chão ela ficou, não se sabe por
quanto tempo; sentia-se sonolenta, quase dormindo, mas ainda
acordada, num estado de meio sono, com meios sonhos. Nesses sonhos,
ela está sempre em casa, com seus pais, feliz, mas no final do dia,
ela se transformava num monstro e os matava...e então,acordava.
E foi assim, em mais uma manhã de
devaneios impossíveis, que aconteceu: a porta metálica veio abaixo,
rasgada como uma folha de papel. Tatiana abriu os olhos e se encolheu
em um canto da sala, enquanto garras rasgavam a porta pelo por fora.
Seus olhos quase cegos conseguiram
notar uma forma naquela silhueta a sua frente: era grande e largo.
Esfregou os olhos para enxergar melhor, mas não acreditou no que
tinha visto: Era um tigre. Um tigre branco de dois metros de altura,
bípede e com um olhar muito humano.
- Fuja.
O
tigre falou num rosnado, assustando-a.
-
Vamos! Fuja daqui! É sua única chance! Vou soltar os outros!
Tatiana
ainda estava atordoada com aquela visão, mas a palavra fuga a
despertou. Esse era seu momento, sua chance de sair dali, entender o
que estava acontecendo e quem sabe até voltar a sua vida de antes. O
tigre já se foi, correndo pelo corredor, deixando-a só. Decidiu
fazer o mesmo; correu até a porta... Olhou para os lados, escolheu
um caminho e saiu.
Sensacional Ramon! Muito bem descrita a transformação da garota, e a sensação da prisão lembra um mix de Old Boy e V de Vingança.
ResponderExcluirE agora?? Terei que esperar uma semana para saber o que vai acontecer?? Que MALDADE Ra! >_<
ResponderExcluirmuito bem escrito (descrição show). Parabéns Ramon
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