Tatiana
abriu a porta e deu de cara com uma mulher jovem, porém com o rosto tão cansado
que aparentava vários anos a mais. O coração de Tatiana saltava no peito: ela
não abriria a porta de sua casa para uma estranha qualquer, mas a mulher disse que
era da polícia e que precisava muito falar com Tatiana.
- É
sobre sua irmã, Laís. – ela disse. Não foram as credenciais que a mulher
apresentou ou a palavra “polícia” que fizeram Tatiana abrir a porta. Foram
essas últimas palavras.
- O que
aconteceu com a minha irmã? – Tatiana perguntou sobressaltada. Pensou em muitas
coisas. Pensou no bolo de dinheiro, no lenço, no sorriso com dentes podres
daquela vidente e na imagem na parede daquele lugar, aquela imagem da mulher
azul com uma saia de braços e um colar de crânios.
A mulher
suspirou longamente, como se estivesse reunindo coragem.
- Posso
entrar, Tatiana?
- Quem é
você?!
-
Desculpe, não me apresentei... é que estou... – ela pigarreou, balançando a
cabeça de um lado para o outro e evitando o olhar de Tatiana. – Meu nome é
Karen e eu sou investigadora da delegacia da cidade de Terom, provavelmente
você nunca ouviu falar...
- Eu já
ouvi sim. – Tatiana a interrompeu sentindo as pernas bambas. – Por favor,
investigadora... entre.
Karen
entrou e se sentou no sofá velho que Tatiana indicou. Ela olhava para todos os
cantos, parecendo assustada. Caminhou até a janela, observou-a e depois se
sentou no mesmo sofá.
- Ainda
bem que meus pais saíram... – ela comentou, torcendo as mãos de nervosismo. –
Investigadora...?
- Pode
me chamar apenas de Karen... – ela sussurrou, ainda evitando os olhos de
Tatiana. – Acho que estamos no mesmo barco, Tatiana.
Havia um
nó na garganta de Tatiana. Ela só conseguia olhar em silêncio para a mulher à
sua frente, sentindo um enorme peso no fundo do coração.
- Bem,
Tatiana... A sua irmã... – Karen suspirou. – Tatiana, não há como dizer isso de
uma forma gentil: encontramos o corpo de sua irmã e do marido dela, Rainier, em
um bosque nos arredores de Terom. Foi... foi uma cena horrível... Eles estão
mortos... Eu... eu sinto muito.
-
C-como...? – Tatiana balbuciou, tão chocada, tão amedrontada, que nem conseguia
chorar.
- Como
eu disse foi horrível... – Karen disse e parecia que ela também carregava seu
próprio peso no peito. – Os corpos estão... irreconhecíveis. Parece obra de um
monstro.
“- Mas esse susto poderia matá-la...
- Pois
que mate!”
Fora
tudo culpa dela. Fora ela quem provocara isso. Tatiana fechou
os olhos, pensou na irmã, pensou nos pais. Como ela contaria aos pais? Não
poderia contar, não agora... tinha que... tinha que...
-
Preciso vê-la. – disse Tatiana, decidida.
Karen
arregalou os olhos. Obviamente não era isso que ela esperava.
-
Tatiana, você não vai querer vê-la... Sua irmã está...
- Eu preciso vê-la. Preciso.
***
Karen
dirigia segurando com tamanha força o volante que os nós de seus dedos estavam
vermelhos e doloridos. Ao seu lado encontrava-se Tatiana, no banco do
passageiro, os olhos vermelhos pregados na estrada escura e na luz projetada
pelos faróis, o pensamento muito distante.
A
investigadora ainda não entendia porque a moça insistira tanto em acompanhá-la
até Terom para ver os restos mortais da irmã. Quer dizer, os poucos restos da pobre mulher. Não havia
o que ver.
Karen se
lembrou de Franz, seu parceiro e amigo, seu rosto destroçado, suas pálpebras destruídas
que nem puderam se fechar para a morte. Aquilo precisava parar. Aquelas coisas
horríveis, aquele monstro ou sei lá o
que estava causando o horror na cidade. Karen não conseguia parar de pensar nas
últimas palavras do amigo – “meus filhos” – porém não conseguia enxergar nenhum
significado para elas. E aquelas letras gravadas nos corpos?! Sua cabeça doía
só de tentar desvendar o mistério. Era tudo horrível e confuso demais.
- O que
está acontecendo?
Karen
nem lembrava mais que Tatiana estava ao seu lado. Ela olhou para a moça pelo
canto do olho, processando a pergunta na mente cansada.
- Eu já
disse a você, Tatiana. Uma série de assassinatos que começou com a morte da sua
irmã e do seu cunhado.
- Mas
isso não é obra de uma pessoa, não é?
É algo... sobrenatural.
Karen
virou o rosto para olhar a moça. De que
raios ela estava falando? O que ela
sabia?
-
Você...?
- Ei,
olhe! – Tatiana gritou.
Karen se
virou bem a tempo. Havia algo na
estrada. Não alguém, mas alguma coisa
debruçada, alimentando-se.
A
investigadora girou o volante bem a tempo de evitar a colisão com aquilo. Depois disso foi tudo muito
rápido. O carro saiu da pista, entrou no mato e bateu em uma árvore.
Quando
Karen acordou da batida percebeu o sangue escorrendo de um corte na sua testa.
Ela olhou para o lado e percebeu que Tatiana estava numa situação muito pior; desacordada,
o sangue escorrendo em profusão por um ferimento na nuca. O cinto de segurança
a prendia pelo pescoço em um ângulo grotesco e cruel.
- Merda,
merda! – Karen exclamou procurando a fivela do próprio cinto para se soltar. As
imagens do acidente iam e voltavam em sua cabeça. Havia algo, algo realmente horrível, no meio da estrada. Ela tinha uma
sensação ruim a respeito. Mas antes de qualquer coisa precisava sair dali e
ajudar Tatiana.
Soltou-se
do cinto e depois procurou a fivela do cinto da moça e soltou-a também. Com
esforço, saiu do carro e ficou de pé; o bosque girou ao seu redor, mas Karen
tentou se manter consciente. Deu a volta no carro, abriu a porta do passageiro
e arrastou Tatiana para fora do carro.
Precisava
de ajuda para sair dali. Buscou seu celular no carro com urgência até que
finalmente o encontrou. Ligou para seu chefe, Emanuel, o delegado de polícia.
- Alô?!
Porra, Karen, onde é que você se meteu nesses dois dias?!
-
Emanuel, não tenho tempo para isso... – merda,
chefes são simplesmente uma merda.
- Puta
merda, Karen, a gente precisando de força policial aqui e você some! Você não faz
ideia do tamanho da merda que aconteceu –
-
Emanuel, eu estou no meio da estrada, aconteceu um acidente! Fui encontrar a irmã
da Lais, a primeira vítima, esposa do Rainier! Eu avisei a você que faria isso,
que iria avisá-la pessoalmente da morte da irmã, cacete!
- Porra,
mulher, volta logo pra delegacia que eu preciso –
- A
gente bateu, Emanuel, vê se me ouve! Havia alguma
merda na estrada, algum... – ela queria dizer “monstro”, mas não conseguiu
se forçar a dizer a palavra. – Alguma criatura.
A moça está ferida, eu preciso de uma viatura...
- Karen,
porra, me ouve você! O Edilton sumiu! E o Hedomon também!
- Mas...
O QUÊ?!
- É,
mulher! Tô te falando, cacete. Eles sumiram há quase 48 horas! Eles podem
estar...
Mas
Karen não conseguiu completar com a palavra “mortos”. Ela ouviu sons no bosque,
sons horríveis e gorgolejantes, sons de alguma
coisa se alimentando.
-
Emanuel?
- O quê,
porra?
- Tem
alguma coisa aqui perto. Alguma coisa que não é humana.
CONTINUA...
Nota da autora: É uma grande honra e uma enorme responsabilidade continuar esse conto. Espero que minha contribuição tenha feito jus a qualidade dessa ideia! Abraços a todos! :)
Sexta-feira 12/04/2013: Karen Alvares
Sábado 20/04/2013: Edilton Nunes
Domingo 28/04/2013: Ednelson Jr
Domingo 28/04/2013: Ednelson Jr
CLAP, CLAP, CLAP!
ResponderExcluirAgora a p@#$# ficou séria!
Parabéns Karen, você deixou a história num excelente ponto. Muitos pontos foram fechados e a história evoluiu bem! A narrativa está impecável e agora consigo ver um final bem claro.
Agora minha fé está depositada nos últimos escritores. Estou ansioso pela conclusão da história!
Muito feliz e honrada aqui de receber um comentário tão positivo do dono da ideia! *_____*
ExcluirObrigada, Rainier!!!
Tentei fechar o máximo que pude! Agora quero ver o que o Edilton e o Ed vão fazer - com a história e com eles mesmos! rsrs.
Quero muito saber o final dessa história!!!
Eu não consigo visualizar um final menos que trágico a essa história. A trama está cada vez mais coerente e as partes estão entrelaçadas de forma brilhante. Novas perspectivas surgiram com a colaboração da Karen - brilhante - e a tensão só aumenta.
ResponderExcluirMuito boa a busca pelas partes anteriores, Karen, mostrando que o comprometimento com o projeto foi total. Vamos aguardar pelos dois próximos escritores (Deus tenha piedade deles). Parabéns pelo ótimo conto...
Obrigada, Franz! :)
ExcluirEu reli todos os contos já publicados e selecionei algumas partes que gostaria de mostrar no meu conto - e algumas pistas que vocês foram deixando nos outros, para me situar melhor. Queria mesmo começar a dar um fim para essa história. E um fim trágico, sim! hahaha
Boa sorte ao Edilton e ao Ed com o final dessa trama!