Isso aconteceu há muitos anos. Ou há poucas semanas.
Tanto faz.
Os grilhões estavam dilacerando a carne dos pulsos e, nos pés, pareciam fazer cada passo parecer uma punição. Mas não podia parar de correr. Correr com todas as forças. Estava ferida, enfraquecida, sendo perseguida e sua vida nunca mais teria paz, mas a criança em seus braços precisava chegar ao seu destino. Contudo, seus perseguidores não tinham a mesma intenção; precisavam do bebê para seus próprios fins... Dela, só sobraria um crânio rachado e entranhas no solo corrompido, provavelmente.
Assim, correu para aquele bosque sombrio e sem vida. Com sorte, achariam que ela nunca teria coragem de adentrar ali e desviariam-se muito para o sul... Ainda melhor, teriam que entrar ali a pé, e ela tinha a dianteira, por ora. E a pequena garoa que caía estava se tornando uma forte chuva.
"Qual era o nome desse lugar, mesmo? Eu não lembro de muito...", falava para si mesma, ofegante. Agora, abrigados da chuva entre uma árvore com uma densa copa e a parede formada por uma grande rocha, não ficariam encharcados e, afinal, era bom descansar.
Assim, o horror parecia muito menor.
Dormiu.
Seus sonhos foram vazios e suarentos. Uma sombra curvilínea. Uma risada apodrecida. Um cordão ensanguentado. Entranhas devoradas. Amantes cadavéricos.
Acordou com o choro distante da criança. Se aproximando do pequeno corpo que se contorcia - provavelmente, querendo algo como leite materno ou um colo que o aquecesse - e lacrimejava, evitou um esgar. O sonho ainda era vívido e pungente. Sabia o que fazer. Juntou os trapos e cordões que faziam as vezes de roupa e cama do recém nascido...
...E voltou a correr quando ouviu o primeiro uivo e o vozerio.
"Cães!", desesperou-se.
Foi assim que, certamente, encontraram seu rastro tão fácil. Por algum motivo, não esperava por essa... Mas, com a motivação renovada pelo "sonho profético", corria com mais velocidade e vigor... Precisava alcançar logo seu destino.
Logo atrás de si, as sombras se avolumavam.
***
"A meretriz conseguiu", disse aquele que parecia ser o líder. Um homem baixo e atarracado, com um olhar que podia ser de desprezo ou de negligência - mas não de raiva e frustração, curiosamente.
"Essas puta é coisa louca foda, chefe. Eu disse. Toda estrepada e conseguiu chegar aqui com o monstrinho. Incrível. Pelo jeito, alguém contou sobre o 'buraco de Rogen'. Jogou o corpo da criança lá, mas, antes esmagou a cabecinha com aquela pedrona ali, ó. Vários golpes, eu diria. Assim como fez com a mãe do monstrinho. Num dá pra recuperar o cadáver, lógico, mas...", esse era mais eufórico com a situação todo, um homem de pele muito escura e muito magro. Parecia feliz, na verdade. Isso só mudou quando foi interrompido.
"Mas o quê?", disse o estrangeiro, debaixo de suas muitas camadas de roupas. Todos se silenciavam quando esse se proclamava com seu sotaque caricato, mas cruel. Diziam que estava no país há poucos dias, e já dominava a língua nativa... E muito mais.
"Mas ela não entendeu. Hã, senhor. Matou a criança, mas deixou o que queríamos, senhor. Nós temos o Sepulcro Vermelho."
A risada se ouviu em Terom.
Agora eu pirei... Realmente teremos que alongar o conto, principalmente por conta da gama de informações que surgiram. Adorei o suspense que colocou no conto, Emanuel, abrindo um leque ainda maior de opções para a Karen (coitada rsrsrsrsrs). Acho que o final no domingo do Ed será impossível, mas são mais três escritores e tudo pode acontecer.
ResponderExcluirAmarrar isso tudo será uma obra desgastante e grandioso.
Parabéns pelo interlúdio, Mano...
Mas o Sepulcro sempre esteve presente. :P
ExcluirHueheueheue!
Hahahahaha!
Hihi!
Hoh!
Hah!
Vish, tem tanta coisa que posso fazer que estou até meio perdida. Mais uma reviravolta!!! O_o
ResponderExcluirGostei muito do suspense do conto! ^^