Pages

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A Vingança de Kali - Parte Seis

Não Fique Perdido.Leia antes Parte I, Parte II, Parte III, Parte IV e Parte V




Conto por: Tatiana E Karen


Emanuel ouviu aquelas palavras e sentiu o sangue gelar.

– O que ta acontecendo aí, Karen? – um som estranho, de algo caindo, se fez ouvir – Alô! Karen? Caralho, Karen, responde!!! Porra! – virou para o colega mais próximo e ordenou que continuasse tentando acionar Hedomon e Edilton. – Eu vou atrás daquela maluca.

Confirmou que a arma estava carregada, por via das duvidas levou mais um ou dois pentes cheios. “Só pro caso de precisar” dizia a si mesmo, na vã tentativa de se convencer que tudo ficaria bem sem precisar recorrer a isso.

***

– Merda, merda, merda, merda...

Karen não parava de repetir enquanto olhava para os lados, tentando descobrir o que fazer. A chamada tinha sido finalizada, o barulho ainda estava longe o suficiente pra saber que tinha vantagem se tentasse fugir, embora não soubesse exatamente quanta. Foi até Tatiana, analisar os danos. Ela tinha pulso, embora não muito forte, e respirava. Já era algo bom, pelo menos estava viva. Estavam em pleno escuro, o que não facilitava muito para enxergar, mas pôde notar que – apesar do tanto de sangue – o ferimento não era tão grave. Pelo menos aparentemente.

– Acorda... Tatiana, acorda... – falava baixo, perto do ouvido dela, enquanto chacoalhava seu braço – Por tudo de sagrado, acorda!

Começava a se desesperar. O que quer que fosse aquilo, já devia estar sentindo o cheiro ferroso e viria por elas. A jovem se mexeu levemente e Karen deu graças aos céus. Começou a chacoalha-la um pouco mais forte até ver seus olhos se abrindo. O que aconteceria com ela depois era um mistério, não sabia se tinha algum ferimento interno ou algo perigoso, mas naquele momento não importava. Tinham de sair dali, não poderia deixa-la para trás.

– Vem, tem alguma coisa atrás da gente, temos que ir depressa. – começou a puxa-la enquanto, desorientada, Tatiana tentava se erguer.

– O que... houve? Eu... – levou a mão até a nuca, que doía como o inferno, e sentiu algo molhado. Ao levar a mão até bem perto dos olhos deu um grito. Karen se apressou em tapar sua boca.

– Você tá louca? Quer nos foder de vez? – Karen disse baixo, mas fora de si, num misto de pavor e raiva – Eu te digo que tem algo atrás de nós e você grita? Como se o nosso sangue já não fosse suficiente pra isso nos achar. Cala essa boca e vem logo, antes que não tenhamos mais nenhuma chance! Vem, eu te ajudo.

Começaram a caminhar no passo que conseguiam. Karen apoiando Tatiana – a bem da verdade, praticamente a arrastando –, sempre tentando se certificar de que não havia nada por ali. O barulho tinha sumido e aquele silencio a preocupava. Alcançou o celular e andou apenas mais o suficiente para um pino de sinal, então novamente chamou Emanuel.

– Emanuel, cadê você? Eu te falei que a moça ta machucada, eu to precisando de ajuda! – Karen havia deixado Tatiana sentada na raiz de uma arvore e começou a caminhar enquanto falava. Estava tão tensa que não conseguia ficar parada. Ficou em um vai e vem quase hipnótico, a cada ida e volta se afastava um pouco mais do ponto de partida.

– Eu já te falei que aqui tá complicado! Tu é surda ou o que? Não dá pra eu largar toda essa merda nas mãos de estagiários imbecis e novatos. Alguém tem que cuidar dessa zona. – o delegado respondeu, com raiva.

– Ah tá. E pra eles não ficarem sozinhos nós é que ficamos, né? – “Boa, chefe! Continue assim... Seu Filho duma...” seus olhos se arregalaram e em seu pensamento mal pôde terminar de formular aquele e todos os outros xingamentos destinados ao patrão. Sentiu uma mão invisível apertando sua garganta: eram as lagrimas, que a sufocavam, buscando um caminho até a saída. O celular escapou de suas mãos e foi ao chão, quicando até próximo ao corpo que estava estirado – motivo de sua agonia.

– Edilton... Não... – balbuciou. A voz de Emanuel ainda ecoava no celular, mas Karen já não o ouvia. Abaixou-se e checou os sinais vitais e, como já esperava, os encontrou a zero. Foi até Tatiana. Precisavam sair dali. Ao chegar encontrou a moça chorando.

– É tudo culpa minha... Se eu não tivesse ido lá falar com ele... Com ela... Com aquela coisa! Eu nunca devia ter ido la... – parecia em choque, falando sozinha diversas coisas que a investigadora não conseguia entender. Seu olhar permanecia vidrado à frente – Mas você também teve culpa! Se não tivesse decidido fugir assim sem avisar isso jamais teria acontecido! E agora? Como vou explicar isso pra mãe e pro pai? Porra Lais, por que você me forçou a fazer isso?

– Fazer o que? – algo naquela frase gritou na mente de Karen – Fazer o que, Tatiana? O que você fez? – ela apenas repetia “Por quê? Por que me forçou a fazer isso?” e a mulher a chacoalhou desesperada, exigindo uma resposta.

Mas Tatiana se calou. Ela observava algo atrás de Karen e seus olhos se arregalaram em profundo pavor. Karen se virou lentamente – o cheiro e o barulho estavam mais fortes, o que significava que o monstro estava ali. Elas perderam tempo. E agora pagariam por isso.

Havia um bicho enorme observando as duas, urrando para o céu escuro como o lamento de um animal ferido. Ele possuía pelos vermelhos, longas garras e – agora sim aquilo fazia um terrível sentido – pés virados ao contrário. Porém, o mais impressionante era mesmo uma bocarra gigantesca bem no estômago da criatura, que se abria e fechava, mostrando dentes afiadíssimos.

- CORRE! – Karen gritou, esquecendo toda a prudência. Ela puxou as mãos de uma catatônica Tatiana, que a acompanhou primeiramente aos tropeços, mas depois o próprio medo a recompôs e as duas corriam lado a lado, desesperadas. Era uma corrida inútil, porém, já que o monstro tinha pernas muito mais longas que as duas e elas sentiam o cheiro horrível que emanava dele, como o de um gambá. Aquele cheiro atordoava seus sentidos, e Karen já estava sentindo a mente obscurecida, como se estivesse envolta em sombras quando viram um menininho no meio da mata.

- Venham aqui! – ele disse. – Por aqui!

Sem alternativa melhor, as duas seguiram o garoto. Ele estava montado em um porco do mato e seguia rapidamente pela floresta, como se a conhecesse muito bem. À primeira vista, parecia um menino normal, exceto que usava tangas como se fosse o Tarzan ou algo do tipo.

- Essa porra não faz mais sentido nenhum. - Karen disse mais para si mesma do que para qualquer outro, porém surpreendentemente Tatiana respondeu.

- Não. Agora sim está fazendo sentido. E a culpa é minha.

Ainda sentiam o cheiro do monstro atrás delas, derrubando árvores, deixando um rastro de destruição na mata. O garotinho continuava correndo pela mata até que encontraram um rio enorme. O menino parou e apontou para ele.

- Vão! Nadem. Não deixem a margem do rio. Nadem!

- O quê?! – Karen exclamou. – Nadar? Por quê?!

- Aquele monstro não poderá nos perseguir na água. – disse Tatiana e agora era ela quem puxava a mão de Karen. – Vamos, quem sabe a gente ainda consiga sobreviver. – ela se virou para o menino. – Obrigada... Caipora.

O menino sorriu largamente. Karen foi logo à procura dos pés do garoto, porém eles não eram virados para trás. Pelo menos o Caipora ela conhecia, mas aquele menino parecia normal, apesar de excêntrico. De qualquer maneira, aquilo tinha que ficar para outra hora. Karen também acenou com a cabeça, agradecendo, e as duas pularam nas águas frias do rio. Enquanto a correnteza as conduzia, as duas observaram o monstro alcançar a margem do rio. O garoto já tinha sumido. O monstro urrava e gritava, mas não estava sozinho: havia alguém próximo a ele, como uma sombra.

- É ela... – Tatiana murmurou. – Ela está aqui.


[Continua...]

PS.: Me sinto muito feliz de poder fazer parte desse projeto, e agradeço à Karen Alvares por ser minha parceira nesse momento tão decisivo da historia. Aproveito e deixo meu agradecimento especial aos leitores, que tem sido compreensivos com nossos pequenos percalços e continuam nos acompanhando sempre.

Um comentário:

  1. Show! Adorei a dinamica e ritmo do conto, que está cada vez mais frenético!

    Não estou muito a par dos problemas, mas se for possível, deixem-me dar mais uma corrida neste texto. Seria uma honra HERCÚLEA!

    ResponderExcluir