Conto por: Tatiana E Karen
Emanuel ouviu
aquelas palavras e sentiu o sangue gelar.
– O que ta
acontecendo aí, Karen? – um som estranho, de algo caindo, se fez ouvir – Alô!
Karen? Caralho, Karen, responde!!! Porra! – virou para o colega mais próximo e
ordenou que continuasse tentando acionar Hedomon e Edilton. – Eu vou atrás
daquela maluca.
Confirmou que a
arma estava carregada, por via das duvidas levou mais um ou dois pentes cheios.
“Só pro caso de precisar” dizia a si mesmo, na vã tentativa de se convencer que
tudo ficaria bem sem precisar recorrer a isso.
***
– Merda, merda,
merda, merda...
Karen não parava
de repetir enquanto olhava para os lados, tentando descobrir o que fazer. A
chamada tinha sido finalizada, o barulho ainda estava longe o suficiente pra
saber que tinha vantagem se tentasse fugir, embora não soubesse exatamente
quanta. Foi até Tatiana, analisar os danos. Ela tinha pulso, embora não muito
forte, e respirava. Já era algo bom, pelo menos estava viva. Estavam em pleno
escuro, o que não facilitava muito para enxergar, mas pôde notar que – apesar
do tanto de sangue – o ferimento não era tão grave. Pelo menos aparentemente.
– Acorda...
Tatiana, acorda... – falava baixo, perto do ouvido dela, enquanto chacoalhava
seu braço – Por tudo de sagrado, acorda!
Começava a se desesperar.
O que quer que fosse aquilo, já devia estar sentindo o cheiro ferroso e viria
por elas. A jovem se mexeu levemente e Karen deu graças aos céus. Começou a
chacoalha-la um pouco mais forte até ver seus olhos se abrindo. O que
aconteceria com ela depois era um mistério, não sabia se tinha algum ferimento
interno ou algo perigoso, mas naquele momento não importava. Tinham de sair
dali, não poderia deixa-la para trás.
– Vem, tem
alguma coisa atrás da gente, temos que ir depressa. – começou a puxa-la enquanto,
desorientada, Tatiana tentava se erguer.
– O que...
houve? Eu... – levou a mão até a nuca, que doía como o inferno, e sentiu algo
molhado. Ao levar a mão até bem perto dos olhos deu um grito. Karen se apressou
em tapar sua boca.
– Você tá louca?
Quer nos foder de vez? – Karen disse baixo, mas fora de si, num misto de pavor
e raiva – Eu te digo que tem algo atrás de nós e você grita? Como se o nosso
sangue já não fosse suficiente pra isso nos achar. Cala essa boca e vem logo,
antes que não tenhamos mais nenhuma chance! Vem, eu te ajudo.
Começaram a
caminhar no passo que conseguiam. Karen apoiando Tatiana – a bem da verdade,
praticamente a arrastando –, sempre tentando se certificar de que não havia
nada por ali. O barulho tinha sumido e aquele silencio a preocupava. Alcançou o
celular e andou apenas mais o suficiente para um pino de sinal, então novamente
chamou Emanuel.
– Emanuel, cadê
você? Eu te falei que a moça ta machucada, eu to precisando de ajuda! – Karen
havia deixado Tatiana sentada na raiz de uma arvore e começou a caminhar
enquanto falava. Estava tão tensa que não conseguia ficar parada. Ficou em um
vai e vem quase hipnótico, a cada ida e volta se afastava um pouco mais do
ponto de partida.
– Eu já te falei
que aqui tá complicado! Tu é surda ou o que? Não dá pra eu largar toda essa
merda nas mãos de estagiários imbecis e novatos. Alguém tem que cuidar dessa
zona. – o delegado respondeu, com raiva.
– Ah tá. E pra
eles não ficarem sozinhos nós é que ficamos, né? – “Boa, chefe! Continue
assim... Seu Filho duma...” seus olhos se arregalaram e em seu pensamento mal
pôde terminar de formular aquele e todos os outros xingamentos destinados ao
patrão. Sentiu uma mão invisível apertando sua garganta: eram as lagrimas, que
a sufocavam, buscando um caminho até a saída. O celular escapou de suas mãos e
foi ao chão, quicando até próximo ao corpo que estava estirado – motivo de sua
agonia.
– Edilton...
Não... – balbuciou. A voz de Emanuel ainda ecoava no celular, mas Karen já não
o ouvia. Abaixou-se e checou os sinais vitais e, como já esperava, os encontrou
a zero. Foi até Tatiana. Precisavam sair dali. Ao chegar encontrou a moça
chorando.
– É tudo culpa
minha... Se eu não tivesse ido lá falar com ele... Com ela... Com aquela coisa!
Eu nunca devia ter ido la... – parecia em choque, falando sozinha diversas
coisas que a investigadora não conseguia entender. Seu olhar permanecia vidrado
à frente – Mas você também teve culpa! Se não tivesse decidido fugir assim sem
avisar isso jamais teria acontecido! E agora? Como vou explicar isso pra mãe e
pro pai? Porra Lais, por que você me forçou a fazer isso?
– Fazer o que? –
algo naquela frase gritou na mente de Karen – Fazer o que, Tatiana? O que você
fez? – ela apenas repetia “Por quê? Por que me forçou a fazer isso?” e a mulher
a chacoalhou desesperada, exigindo uma resposta.
Mas Tatiana se
calou. Ela observava algo atrás de Karen e seus olhos se arregalaram em
profundo pavor. Karen se virou lentamente – o cheiro e o barulho estavam mais
fortes, o que significava que o monstro estava
ali. Elas perderam tempo. E agora pagariam por isso.
Havia um bicho
enorme observando as duas, urrando para o céu escuro como o lamento de um
animal ferido. Ele possuía pelos vermelhos, longas garras e – agora sim aquilo fazia um terrível sentido –
pés virados ao contrário. Porém, o mais impressionante era mesmo uma
bocarra gigantesca bem no estômago da criatura, que se abria e fechava,
mostrando dentes afiadíssimos.
- CORRE! – Karen
gritou, esquecendo toda a prudência. Ela puxou as mãos de uma catatônica
Tatiana, que a acompanhou primeiramente aos tropeços, mas depois o próprio medo
a recompôs e as duas corriam lado a lado, desesperadas. Era uma corrida inútil,
porém, já que o monstro tinha pernas muito mais longas que as duas e elas sentiam
o cheiro horrível que emanava dele, como o de um gambá. Aquele cheiro atordoava
seus sentidos, e Karen já estava sentindo a mente obscurecida, como se
estivesse envolta em sombras quando viram um menininho no meio da mata.
- Venham aqui! –
ele disse. – Por aqui!
Sem alternativa
melhor, as duas seguiram o garoto. Ele estava montado em um porco do mato e
seguia rapidamente pela floresta, como se a conhecesse muito bem. À primeira
vista, parecia um menino normal, exceto que usava tangas como se fosse o Tarzan
ou algo do tipo.
- Essa
porra não faz mais sentido nenhum. -
Karen disse mais para si mesma do que para qualquer outro, porém
surpreendentemente Tatiana respondeu.
- Não. Agora sim
está fazendo sentido. E a culpa é minha.
Ainda sentiam o
cheiro do monstro atrás delas, derrubando árvores, deixando um rastro de
destruição na mata. O garotinho continuava correndo pela mata até que
encontraram um rio enorme. O menino parou e apontou para ele.
- Vão! Nadem.
Não deixem a margem do rio. Nadem!
- O quê?! –
Karen exclamou. – Nadar? Por quê?!
- Aquele monstro
não poderá nos perseguir na água. – disse Tatiana e agora era ela quem puxava a
mão de Karen. – Vamos, quem sabe a gente ainda consiga sobreviver. – ela se
virou para o menino. – Obrigada... Caipora.
O menino sorriu
largamente. Karen foi logo à procura dos pés do garoto, porém eles não eram
virados para trás. Pelo menos o Caipora ela conhecia, mas aquele menino parecia
normal, apesar de excêntrico. De qualquer maneira, aquilo tinha que ficar para
outra hora. Karen também acenou com a cabeça, agradecendo, e as duas pularam
nas águas frias do rio. Enquanto a correnteza as conduzia, as duas observaram o
monstro alcançar a margem do rio. O garoto já tinha sumido. O monstro urrava e
gritava, mas não estava sozinho: havia alguém próximo a ele, como uma sombra.
- É ela... –
Tatiana murmurou. – Ela está aqui.
[Continua...]
PS.: Me sinto muito feliz de poder fazer parte desse projeto, e agradeço à Karen Alvares por ser minha parceira nesse momento tão decisivo da historia. Aproveito e deixo meu agradecimento especial aos leitores, que tem sido compreensivos com nossos pequenos percalços e continuam nos acompanhando sempre.
Show! Adorei a dinamica e ritmo do conto, que está cada vez mais frenético!
ResponderExcluirNão estou muito a par dos problemas, mas se for possível, deixem-me dar mais uma corrida neste texto. Seria uma honra HERCÚLEA!