Não poderia mais negar o fulgor de minha paixão por
ti. Desde tenra idade, em nosso primeiro encontro, meu coração é vosso devoto.
A maneira como você se move, rebelde, desperta a
minha libido de tal modo que todos os médicos versados na mente humana me
classificam como portadora de um sentimento doentio. Mas o que compreendem do
amor verdadeiro estes homens acorrentados a vidas de mediocridade alarmante?
Obedecendo aos ditames da força que está acima de minha
razão, faculdade aprimorada por anos de estudo em filosofia, saboreio a
sensação preliminar do nosso ardente coito. É quase como várias mãos deslizando
sobre mim sem pudor, infiltrando-se em todos os meus recantos, molhando-me
ainda mais entre as pernas.
O aroma que me impregna é um pouco agressivo ao meu
delicado olfato, confesso, crendo que me perdoará por tal observação, todavia
sei que ele é o arauto de vossa chegada.
Em minha mão direita, te seguro ainda tímido,
pequeno. Puxo-o para junto de meus seios, não tenho mais controle da ansiedade.
Rapidamente, teu ardor espalha-se pela minha pele morena, destruindo meu
vestido de seda impiedosamente, chega aos meus cabelos, enfim, domina-me. O
êxtase é igual ao de um baile de máscaras, logo cedo ao seu convite para
bailar.
Nesse instante, alguns criados entram em meu
aposento. Estão desesperados. Sei o quanto deve ser horroroso para eles verem a
sua senhora, banhada em óleo de lampião, ser consumida pelo fogo, enquanto
gargalha e dança uma valsa com uivos, vindos de uma floresta próxima, como
música.
Incapaz que meu corpo é de sustentar o teu afeto,
tombo em meu leito após tropeçar na tocha aos meus pés, alimentando-te, meu
venerado fogo. Vamos celebrar a nossa entrega mútua por toda a mansão,
arrebatando alguns criados em nossa orgia de carne e fogo. Que nossos espíritos
cantem, noite após noite, em um coro de doces gemidos consagrados à morte.
Ecoemos, pois que continuamos a queimar em um plano além deste denominado
realidade.
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