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domingo, 21 de abril de 2013

Acenda-me



Não poderia mais negar o fulgor de minha paixão por ti. Desde tenra idade, em nosso primeiro encontro, meu coração é vosso devoto.

A maneira como você se move, rebelde, desperta a minha libido de tal modo que todos os médicos versados na mente humana me classificam como portadora de um sentimento doentio. Mas o que compreendem do amor verdadeiro estes homens acorrentados a vidas de mediocridade alarmante?

Obedecendo aos ditames da força que está acima de minha razão, faculdade aprimorada por anos de estudo em filosofia, saboreio a sensação preliminar do nosso ardente coito. É quase como várias mãos deslizando sobre mim sem pudor, infiltrando-se em todos os meus recantos, molhando-me ainda mais entre as pernas.

O aroma que me impregna é um pouco agressivo ao meu delicado olfato, confesso, crendo que me perdoará por tal observação, todavia sei que ele é o arauto de vossa chegada.

Em minha mão direita, te seguro ainda tímido, pequeno. Puxo-o para junto de meus seios, não tenho mais controle da ansiedade. Rapidamente, teu ardor espalha-se pela minha pele morena, destruindo meu vestido de seda impiedosamente, chega aos meus cabelos, enfim, domina-me. O êxtase é igual ao de um baile de máscaras, logo cedo ao seu convite para bailar.

Nesse instante, alguns criados entram em meu aposento. Estão desesperados. Sei o quanto deve ser horroroso para eles verem a sua senhora, banhada em óleo de lampião, ser consumida pelo fogo, enquanto gargalha e dança uma valsa com uivos, vindos de uma floresta próxima, como música.

Incapaz que meu corpo é de sustentar o teu afeto, tombo em meu leito após tropeçar na tocha aos meus pés, alimentando-te, meu venerado fogo. Vamos celebrar a nossa entrega mútua por toda a mansão, arrebatando alguns criados em nossa orgia de carne e fogo. Que nossos espíritos cantem, noite após noite, em um coro de doces gemidos consagrados à morte. Ecoemos, pois que continuamos a queimar em um plano além deste denominado realidade.

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