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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Prata cor de sangue.

Por: Mauricio C. Dovanci

E foi servindo-a uma taça de vinho tinto tão seco e antigo, que jamais encontrariam noutro lugar, que ele percebeu não estar sozinho, que alguém mais estava entre eles. Direcionando o seu olhar para aquele par de olhos que flutuavam em outro lugar, talvez estivesse encantada relembrando momentos de alegria com o outro, ele percebeu estar perdendo parte do seu coração. 

Talvez o amor estivesse lhes deixando, ou seria menos que o sentimental amor, paixão. Sua pele era tão nívea quanto a neve, era perfeito o traçado de seu pescoço, mesmo quando estava inerte parecia posar para um quadro e ficava na mesma posição por muito tempo, encantadora como o pôr do sol. Mas devastadora como um tornado. Seu vestido vermelho rosava-lhe as coxas carnudas e ávidas de prazer, o lado estragado de sua imagem estava ali, como uma meretriz, ela usava seu dom e gozava das cenas que estavam em sua mente e alcançava o prazer.

O homem com a interrogação sentou-se, pouco confortável, mas sentou-se. Ereto e com um olhar louco, sádico e paranóico, era um jantar numa noite pouco especial, será que podia uma mulher ser tão perfeita ao trair o amor de um homem?

Dafina, essa era a mulher que se encontrava sentada sobre a mesa na companhia de um demônio, o seu criado demônio. Dafina, essa era a mulher que lhe traíra e que por sua causa, encontrava-se perdido em um misto de medo e vergonha, sangue e raiva.

Um sorriso perfeito lhe ofuscava o rosto, essa era a resposta mais traiçoeira que o homem fez em toda sua vida, por trás sua vontade de matá-la era grande, imensa e impulsiva. O frango sobre a mesa estava abrindo o apetite de ambos, o cheiro defumado no ar, penetrava a narina dela, mas fugia do olfato dele.

- Joul, querido - disse ela. Abreviando seu nome com um carisma podre. - Talvez você queira partir o peito deste frango tão apetitoso.

Partir o peito, ela sabia muito sobre isso, mas gostava mesmo de partir corações, não haveria outra vez.

- É claro. - respondeu. Tão simples, nem menos, nem mais.

O homem jogou para o alto seus ombros largos e pesados, imaginou-se carregando uma dessas máscaras de palhaço pouco assustadoras. Passou por ela enquanto saboreava do seu vinho, com a sua taça. Com a sua boca que havia estado em outro lugar, talvez parecido, mas em outro lugar.

Era assim tão triste, mas o fim deveria ser bom. A faca foi sacada sadicamente do faqueiro, um feixe de luz correu-lhe sobre sua superfície, era prata, tão argênteo como nunca. Seu punho serrado aproximou-se da mulher.

- Voltei minha querida. - Pelas costas, na alça do vestido vermelho a navalha tocava delicadamente, procurando pelo sangue, quase sempre cega, mas afiada. A seda era o que encontrara, depois do corte só ar que lhe envolvia.

- Você está ficando muito mal acostumado, Joul. - murmurou ela.

- Não fale Dafina, apenas se levante - seu suspiro ainda era intenso, o alivio não chegara, ele tinha que fazer o que tinha que ser feito. - Não há costume algum, pois eu não me acostumei ainda, não há modos, só sexo.

Frio e indolor, talvez sua ex-mulher, - como ele já a considerava - estivesse acostumada em ser tratada como ninguém, só um pedaço de carne quente, com vida, mas sem vida.

Ele a fez saltar sobre a mesa, tocando-lhe as coxas sadias, levantando seu vestido e ainda segurando a faca. A taça de vinho caía sobre a madeira e o líquido se acomodava só que agora livre. Longe do lábios tentadores e prazerosos de Dafina, era assim que ele começava, buscando cair pela liberdade, livrar-se do medo.

Enquanto a penetrava, lembrou-se das fotos que seu agente lhe mostrara, eram claras e mostrava tudo. Era tudo causado por ela, que levaria ao nada causado por ele.

A faca foi da esquerda para a direita de modo rápido, abrindo uma fenda horrível e brutal na garganta de sua amada, sem nenhum intervalo pra gritos. Desferido o primeiro golpe a faca buscou mais vermelho, só que agora no ventre. O sexo ainda acontecia de maneira brutal e psicótica. Enquanto o corte era aberto o sangue jorrava em sua cintura, a liberdade saía por ali como numa cesárea. Uma liberdade cor de prata, prata-cor-de-sangue.


Conto dedicado a todos os escritores e leitores sádicos e psicóticos, um pouco do terror lascivo, sangue e morte. - Maurício C. Dovanci

3 comentários:

  1. Cara, tu é sadico! rs Talvez levemente necrofilo... Oh não... Lá vou eu entrando demais na historia e falando com o personagem O.O

    Brincadeiras a parte, Mauricio, está de parabens... Apesar de o conto ter alguns momentos confusos - alguns trechos tive de ler mais de uma vez, e nem todo mundo faz isso - ele passou bem a idéia da loucura. Uma coisa que eu sempre digo pra galera quando sou beta: O personagem pode ser maluco o quanto for e ter os pensamentos perturbados e desalinhados o quanto quiser, pode não se entender nem um tequinho, mas o escritor não pode deixar que o leitor se confunda com as letras e não entenda nada. Temos de buscar o equilibrio entre a loucura do personagem e a sanidade do leitor, pra que não fique aquela sensação de "poxa, é muito ruim por que não entendi nada!" e sim "nossa, eu me senti dentro da mente do cara, completamente maluco! Parecia que EU tava perdido!".

    Você não chegou a ser completamente confuso, compreenda, mas em alguns pontinhos fiquei tão perdida quanto o cara e não no bom sentido.

    Mas devo te parabenizar... Terror e sadismo na medida certa, a pitada de sexo fez a coisa ir prum outro nivel que nem tem explicação... Palmas pra ti! Só realmente tomar cuidado com a forma com que narra a historia e terá um texto mais que brilhante! *.*

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  2. Aí Maurício, chegou a sua hora aqui então. Não sei se minha revisão ajudou, espero que sim.
    E repetindo aqui o que eu já te disse, esse final ficou muito show. Asoro esse tipo de coisa hahaha...

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  3. A Tati tem razão! No inicio tem umas sentenças que são extremamente confusas. A idéia foi muito bem pensada, o final muito louco, mas a escrita atrapalhou um bom bocado

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