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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Indomável - III - Dez mandamentos.

Leia antes: Indomável - II - Fome e sede


Fui arrastado para uma sala escura. Pela primeira vez em dias, semanas, meses ou anos abri o olho sem medo. Não há uma luz sequer, senão a que vêm da cabeça de um homem todo vestido de escuro. Dos pés à cabeça, não enxergava nada senão aquela luz que emana de sua cabeça.

Ouço sons de metais sendo manejados e sinto a espinha congelar a cada vez que tilintavam. Tento levantar minha cabeça para enxergar algo mais, mesmo sem conseguir movimentar a cabeça que estava presa com uma tira de couro. Um grito explode da minha boca - "Puta que o pariu" -  assim que identifico um bisturi enorme refletindo a luz em direção aos meus olhos.  Junto com a luz veio a voz do homem que estava de costas pra mim, manipulando as ferramentas.

- Vejo que você é novato. Em breve você conhecerá todas as regras. Perdoarei seu primeiro erro pois sou piedoso.


Uma breve risada cínica ecoou pela sala e ecoou dentro de mim. - "Agora fique em silêncio" - Aquelas palavras não disseram nada que eu já não esperava, mas as risadas mostraram tudo o que aquele executor seria capaz. Refleti sobre o que pensei mais cedo - Não conseguirei suportar mais dor. É impossível desejar mais dor, quando há dor só se quer que a dor cesse.

As luzes viram em minha direção cegando-me momentaneamente. Fecho os olhos como se tentasse escapar de algo que vinha em minha direção. Era aquele olho, aquele monstro de um só olho que caminhava em minha direção. Tento me mover, mas percebi que todo o meu corpo estava preso à uma espécie de cama. Mãos e braços, tornozelos e coxas, cintura pescoço e cabeça. Todos estavam enlaçados com uma faixas e fivelas tornando impossível qualquer manobra de escape. Aquela lanterna, aquele olho pairava sobre minha cabeça.

- Caramba, a recepção foi calorosa! Olha só o estado da tua boca! Deixa eu dar uma olhada.

Suas luvas de couro tocam a pele morta de meu lábio. Ele apertou um pouco - "Ai!" - "Olha só! Acho que precisaremos fazer uma pequena cirurgia aqui!" - Sua risada cínica voltou, agora com mais força. Utilizando a pinça formada por seu dedo polegar e indicador ele segura o lado esquerdo do lábio inferior e começa a puxar a lentamente a carne que se desgruda do restante do lábio.

Era possível sentir cada fibra que se descolava da boca: carne, veias e pele. A saliva jorra dentro da boca enquanto o sangue espirra por toda a sala negra. Olhando para baixo vejo metade da carne arrancada enquanto a outra metade agarra-se ao corpo para não sair.

Meu corpo inteiro começa a tremer. Eu gemo, implorando - "PARA! PELO AMOR DE DEUS PARA!" - Mas ele não escuta. - "NÃO ESTOU AGUENTANDO" - Ele sorri. - "EU IMPLORO" - Ele sorri cinicamente - "PELO AMOR DE DEUS PARA!"

No súbito de dor e agonia, eu projeto minha boca pra frente e mordo a mão do carrasco. Era apenas uma luva de couro. Ele soltou aquela carne agarrada por pouco na boca e gargalhou. Gargalhou uma risada sádica e contagiante. Eu choro com ele.

- A primeira regra: Nunca me conteste. Eu sou a verdade e a vida.

Ele desfere um murro em minha cara, forte o suficiente para me fazer calar, mas não me tirar a consciência. Não! Ele não me deixaria dormir ali, antes faria de tudo para me manter lúcido. Queriam que eu sentisse e visse todas as atrocidades que fariam comigo.

Ele limpa o nariz com a luva negra e em seguida agarra a pele e puxa de uma só vez. Eu consigo ouvir o som da pele rasgando por completo seguido do meu mais intenso grito. O berro catapultou a saliva e sangue que lavavam a boca. Eu estava prestes a ser expulso deste mundo de tanta dor quando um fio metálico e gelado colou em ambos os lados de meu peito.

A eletricidade correu meu corpo assim que o botão vermelho foi pressionado. A corrente foi intensa e correu duma só vez o corpo inteiro. Não durou nem meio segundo, mas senti a alma sair e voltar do corpo imediatamente. O coração pulsou mais rápido e respiração tomou um ritmo acelerado e ofegante.

- "Você sabe o que nós queremos?" -Eu ignoro a pergunta - "Sabe porque nós fazemos isto?" - Vociferei tentando evadir as respostas - "Eu não permitirei que arranquem minha confissão." - A resposta veio seca - "Segunda regra: Responda o que eu quero, quando eu quero, na velocidade que eu quero."
  
Outro choque correu meu corpo, com a mesma intensidade, mas com duração pouco maior. Dois ou três segundo onde meu corpo inteiro se contorceu e tremeu suando incansavelmente. As fibras de cada músculo se contraem ao máximo, com câimbras ruindo em todo canto. O cheiro de  queimado subiu e olhando para baixo vi, ao redor dos fios, nacos de carne negra sangrando viscosamente. Bolhas de podridão se formaram ao redor de onde a eletricidade corria. A pele se contraiu tanto que rasgou, exibindo o interior do meu corpo em rachaduras extensivas.
  
- "Estou aqui para brincar com você. Você é minha pequena diversão." - sua luva tocou na ferida, o dedo entrou na carne e deslisou suavemente. No final da ferida, deu um puxão brusco, rasgando mais a pele  - "Eu diria até que você é meu pequeno playground." - Desceu as mãos até encontrar meu orgão genital, suas mãos se fecharam em meus testículos. Com dor e medo arregalei meus olhos esperando o aperto que faria com que meu interior quizesse ser expulso do corpo. Minha face transpareceu o medo - "Está vendo. Você é meu lindo e pequeno brinquedo."

Novamente ele sorriu e se afastou do meu corpo, largando-me sem nada fazer. - Meu herói! Lhe saúdo pela honra de não estourar minhas bolas!

- De qualquer forma, eu tenho que lhe arrancar a verdade. Por isso, temos uma terceira regra: Nunca tente esconder a verdade da própria verdade. - Ele pausou a fala, escolheu uma ferramenta metálica qualquer, assemelhando-se a uma faca extremamente afiada. Admirou-a, ergueu-a na altura dos olhos e continuou - Vou lhe fazer perguntas simples, e sei que você me responderá. - Virou-se em minha direção com a faquinha nas mãos. - Você matou o Tenente Ramon?

Permaneci em silêncio. Eu não matei homem algum, matei uma criatura, um monstro, um cachorro sem coração!

- Quarta regra: Não pense para responder.

Sinto um murro na perna, mas junto à mão do carrasco, veio também a lâmina desenhando um corte profundo, arrancando uns dois centímetros de pele, músculo e um punhado de sangue. A dor foi tremenda. Se ele jogasse álcool e ateasse fogo naquela mesma região, a dor não seria mais intensa do que foi agora. Mesmo chorando e tremendo de dor, senti que estava a me acostumar com aquilo. Será assim até o último minuto de minha vida.

- "Eu... Ahh... Eu..." - Era dificil falar. Os soluços ocasionados pelo choro e o tremor por todo o corpo tornaram o simples fato de falar uma das mais difíceis tarefas de minha vida. - "Eu não matei homem algum. Eu matei um monstro."

- "Quinta Regra: Não quero saber de suas razões ou moralidades." - Outra fatia me foi arrancada - "Você matou ou não o Tenente Ramon?" - Eu só tinha espaço para as lágrimas e choro - "Vamos homem, responda? Você o matou, não foi? Você o torturou e matou a sangue frio! Foi capaz de espalhar o corpo dele por toda a cidade! Fale! Foi você o monstro que cometeu este crime?"

Mantive-me calado, não havia mais nada a declarar. Se ele já sabia de tudo, porque estava fazendo aquilo comigo? Porque eu estava sendo interrogado? - Minha mente me respondeu da forma mais simples e ridícula possível - Eu era apenas um brinquedo mesmo.

O botão vermelho foi pressionado, desta vez sem ser desligado. Fritei por tanto tempo que nem me lembro mais. Eu sentia o corpo inteiro em chamas, mas  o pulmão debaixo do mais fundo oceano. Sem forças e sem condições de respirar, eu apenas balançava naquela mesa de horrores. Há muito já não tinha controle de minhas necessidades, elas eram acionadas pelas dores que eu sentia. O circuito elétrico foi fechado - "Sexta regra: Quando você for eletrocutado, não chore." - E em seguida acionado novamente.

Fritei enquanto controlava todas as minhas emoções. Parei de gritar, parei de chorar, parei de sentir... Meu corpo caiu quase morto na mesa. Uma agulha penetrou minha veia enquanto as fivelas eram retiradas - "Sétima regra: Não faça nada. Sente enquanto aguarda minhas ordens. Se não há ordens fique em silencio." - A agulha sai, assim como a dor e a razão. Estou leve e calmo, estou tão bem... tão bem...

Sentei-me em silêncio, como uma criança que recebe uma bronca do pai, fiquei quieto e olhando para seu grande olho, que olhava diretamente dentro dos meus. - "Oitava regra: "Você sempre fará o que eu lhe ordenar" - E esboçou no rosto um sorriso de vitória. - "Isso rapaz" - Deu dois tapinhas no meu rosto - "Está melhor agora? Está se sentindo bem?" 

Sim, estava calmo e tranquilo. Meu pai, meu herói. O homem que salvou-me das terríveis garras da dor. Confio em você agora e pro resto da minha vida. Obrigado por cessar essa dor. Obrigado por para com toda essa loucura. Obrigado, obrigado, obrigado!

Eu digo tudo o que você quiser, eu faço tudo o que você quiser que eu faço, eu juro de pés juntos que à partir de agora você é meu senhor, meu salvador, meu pai, meu querido papai.

Nona regra: Se não seguir as regras, você será eletrocutado.
- Não papai, não farei isso! Juro que serei um bom menino!
- Bom, agora me diga, você matou o Tenente Ramon.

Eu lhe disse tudo antes de conhecer a décima regra. Já foram regras demais para um só dia.

4 comentários:

  1. Um pouco menos nojento, um pouco mais de tortura e mistério sobre o que está acontecendo. Vamos ver onde isso vai nos levar...
    E cuidado com os tempos verbais! Daqui a pouco você vai me torturar por tanto que falo disso né hahah

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    1. Hsuhauhsahusahushusahashuhsu

      Tempos verbais do inferno, queimem! QUEIMEM!!!

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  2. Vai saber se o torturado do texto ja n tem sido inspirado em ti Juliano rs

    Rainier, Rainier, Rainier... QUE DOOOOOOOOOOOOOR!!!! Menino do céu, eu n consegui ler sem sentir dor, chega ne? rs

    Ansiosa pelo fim pra saber o motivo de td!!!!

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