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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Ao teu leve toque, despeço-me.

Sinto-a aproximar-se de mim com a brisa. Teu perfume vem sutilmente com o ar.
Nervoso, procuro-a com olhos assustados. Não a vejo. Quanto tempo se passou, desde a última vez em que nos vimos? Ainda guardo boas lembranças do nosso último encontro. Você estava bela e feliz em seu vestido negro. Uma verdadeira dama das sombras.
Sei que queria levar-me junto a ti, mas fomos bruscamente impedidos. Será que realmente eles fizeram o que era certo?

Passei décadas sem a tua presença, temeroso em tê-la perdido para sempre. Acho que tal tortura seria por demais insuportável. Como poderia viver sem teus beijos e abraços. O que seria do ar que respiro, sem o teu perfume?
Hoje, diferente de anos atrás, não estou apreensivo com sua aproximação. Acho que jamais a desejei tanto.
Por isso, lentamente você chega. Sei que me quer, pois demonstra isso ao beijar-me com teus lábios frios. Por que mereço este tratamento especial de tua parte?
O ar torna-se rarefeito, sem que faça falta. Sinto-me mais leve e feliz.
Ao meu redor, pessoas queridas expressam um horror incontido. Alguém desmaia e outros correm em minha direção, sem motivo aparente.
Então, tuas mãos tocam meu ombro. Olho-a e vejo teu sorriso direcionado a mim. Nunca deveria tê-la deixado ir sem mim.
Percebo-a caminhar lentamente e, com carinho, tuas mãos me guiam. Alguns choram diante disto, mas sei que serei mais feliz ao teu lado. Deixo, agora, os que me amam para acompanhar quem eu realmente amo. E, ao teu leve toque, despeço-me.

4 comentários:

  1. Adorei como algo tão terrível tenha sido passado de forma tão doce e gentil, quase convidativa.

    Vamos juntos de mãos dadas em direção a morte, cantando e dançando na mais tenra alegria.

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    1. Mas não há outra forma de encarar a morte. Pensando bem, o ideal é que a encontremos com um sorriso, pois qual a valia da dor ou da reclamação diante de algo inevitável?
      Obrigado pelo comentário e o elogio, meu amigo.
      Abração...

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  2. Uma visão completamente doce e romantica da morte... Oh quantas noites pensei exatamente a mesma coisa nunca deveria tê-la deixado partir sem mim"... Engraçado como com tão poucas palavras você conseguiu acessar todos esses sentimentos dentro de mim...

    Adorei Franz... poético e emocionante... Parabens

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    1. Obrigado, Tati. Eu realmente amo escrever contos curtos, talvez pela complexidade e o desafio de expressar algo realmente complexo em um trecho tão curto.
      Fico agradecido por seu elogio e por prestigiar meu trabalho.
      Valeu!

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