Dormir do lado de fora não era fácil. Barulho estranhos, insetos, pedras... Não que ela tivesse muito luxo em sua antiga cela... Os restos da fogueira ardiam em brasa ao seu lado, usando um tronco como travesseiro, ela esticou o corpo no chão e o deixou relaxar. Olhou para o céu; estava limpo e cheio de estrelas. Em algum lugar, seus pais também olhavam as mesmas estrelas. Será que ainda pensavam nela?
Já tinha mais de dois anos desde o incidente na escola. Lembra-se melhor agora que conseguiu controlar melhor a besta em si. Dois anos é tempo demais; cresceu muito desde aqueles dias, não só na altura; sentia-se toda crescida. Sentiu raiva.
Por dois anos, esses caras, sejam lá o que são eles, a sequestraram e a fizeram coisas horrendas com ela... mas, e se ela sempre tivera sido um monstro? e se o motivo de estar nesse pedaço de terra esquecida fosse exatamente ser um monstro? Caiu no sono, imaginando os horrores que veria no dia seguinte.
Viu uma cidade. Era linda, quase toda feita de prata, com cachoeiras cristalinas por toda parte. As pessoas vestiam roupas de varias cores e pareciam felizes. Um casal de jovens caminhava por entre um jardim cheio de rosas vermelhas, ambos eram muito bonitos e pareciam apaixonados. Quando estavam prestes a se beijarem, um clarão os cegou, seguido de uma explosão. As rosas, o jardim e todos ali presentes ardiam e queimavam. A moça gritava conforme seu rosto derretia como geleia. olhou para as próprias mãos e viu sua carne escorrer por seus ossos.
" O príncipe! protejam o príncipe!"
Acordou num pulo. Estava no refugiu improvisado entre as pedras. Fred estava a alguns metros dela, em sua forme de tigre. Em suas patas alguns peixes.
Esfregou os olhos, tentando esconder o susto, mas ele era mais esperto que isso.
- Sonhos ruins? - perguntou com sua voz grave de tigre.
- Não sei... meio estranho... uma cidade...
- Toda prateada com cachoeiras, jardins e um casal bonito? - completou ele, sem deixar ela falar. - Eu sei.
- Como assim? você...
- A Thaís também. Íamos te falar, mas preferimos deixar você conhecer sozinha. Agora com você, somos três que tem o mesmo sonho, isso deve significar algo.
Largou os peixes em cima de uma pedra e sentou-se no chão. Converteu-se para a forma humana, sob os olhares da pequena.
- O que é aquela explosão e quem é o príncipe?
- Sei tanto quanto você. Olhe, vamos esperar a Thais voltar dai comemos e vamos perguntar pessoalmente, o que acha?
Concordou em silencio. Alguns minutos depois, o peixe no fogo começou a cheirar bem, o que fez o estomago dela roncar.
- Transforme-se. - pediu Fred, do nada.
- Que!?
- Transforme-se! agora, sem estimulo algum, por si só. Sem raiva ou angustia. Traga o lobo por sua vontade.
- Eu não consigo, já tentei!
- Tente de novo. dessa vez, não pense em nada a não ser no que há dentro de você, no seu outro eu. O que está ai não é um monstro. É você e pode ser controlado. Feche os olhos e consente-se.
Contrariada, ela obedeceu. Fechou os olhos e tentou pensar apenas no que sentia quando era o lobo. A força, a agilidade, as garras, a liberdade que aquilo tudo lhe fazia sentir. Quando era o lobo, ela sentia como se nada pudesse impedi-la.
Imersa na própria mente como num transe, permaneceu sentada de pernas cruzadas, tentando se entender melhor. Viu-se numa clareira no meio de uma mata vasta. Ao longe, um lobo uivava para a linda lua que brilhava no céu. Aproximou-se do lobo e os dois trocaram olhares. Olhou intensamente nos olhos da besta. Era grande, linda e poderosa. Num instante seguinte, a besta não estava mais diante de si. Fora substituída por uma garota magrela, feiosinha e de cabelo embaraçado. Viu-se então, no corpo do lobo, olhando para si mesma, em forma humana.
Voltou a si.
Por impulso, levou a mão ao cabelo e o sentiu embaraçado e sujo, ele estava horrível mesmo.
Thais ja estava ali, ela e Fred estavam comendo. Ambos olharam pra ela.
- Tá tudo bem? - perguntou Thais.
- Sim. - disse ela, levantando-se e catando um peixe, estava faminta.
- Consegue se transformar? - perguntou o rapaz.
- Consigo. - respondeu com a boca cheia de peixe. - Confiem em mim.
- É o que temos pra hoje. - disse ele um tom de desdém.
Depois que comeram, apagaram o fogo e se reuniram para uma ultima conversa antes da investida.
- Vamos em forma humana até a única entrada que conhecemos, de lá, viramos bicho e forçamos a entrada. Vamos matar que nos jogarem, um por um, até que os responsáveis mostrem a cara e comecem a se explicar! - disse Fred.
- É uma merda de plano mas é o que vai ser, não vou viver fugindo pra sempre! - completou Thais.
Correram mata a dentro.
O sangue pulsava forte em suas veias, não tinha ideia do que iria acontecer nas próximas horas. Muito provavelmente estaria morta, mas não sentia um pingo de medo; dadas as recentes circunstâncias, morrer não parecia ser uma má ideia.
Ao chegarem, uma brisa trouxe um cheiro pútrido terrível, que quase a fez vomitar; a entrada do laboratório ainda estava coberta de cadáveres e tripas. Guardas e crianças mortas. Fred da um soco numa árvore com raiva.
- Elas morreram porque eu as libertei. os guardas atiraram nelas sem nem pensar, e os poucos que consegui salvar, morreram para os frogs!
- Mas eu ainda to viva - respondeu Tati. Ela também era parte do grupo de fugitivos.
- Desculpe eu... só... queria ter feito mais.
- Você fez o que pôde. Agora vamos terminar isso logo - disse Thais - não tão achando isso muito abandonado?
Tudo era silencio. nenhuma alma viva. O trio saiu do mato e adentrou os portões abertos.
- Será que matamos o ultimo lote?
- Mais provável que estejam nos esperando.
A porta de metal por onde tivera saído ainda estava do mesmo jeito que ela deixou ontem. Ninguém MESMO andou por ali desde então.
- Isso ta muito estranho, to com um pressentimento ruim. - disse Thais.
- E se for uma armadilha? - perguntou a pequena.
- Então, nós caímos nela.
Mal terminou a frase e já meteu o pé na porta, escancarando-a.
À frente, o corredor de cadáveres de cientistas e guardas. Fred alegou ser o autor daquela chacina.
À frente, o corredor de cadáveres de cientistas e guardas. Fred alegou ser o autor daquela chacina.
O térreo era onde ficavam as celas, todas estavam abertas. As que não estavam vazias, habitavam pessoas mortas por marcas de bala. Era um ambiente de morte horrível, o clima do lugar era muito pesado e caia sobre o trio de forma poderosa, lentamente drenando a moral deles.
- Vamos logo para o andar dos experimentos! onde me fizeram as cicatrizes! tenho certeza que lá nós vamos encontrar algumas respostas.
Quando chegaram à porta do elevador, uma voz pode ser ouvida por todo o lugar.
- Esperávamos vocês, preciosos intrusos. Por favor, venham nos visitar no segundo andar, o laboratório de genética 1. Bem vindo ao lar Freddy.
As duas o olharam, esperando uma resposta.
- Você não entenderiam!
- Eu sabia que você tava escondendo alguma coisa! - gritou Thais. - como quer que confiemos em você?
- Não é o que pensam! Aquele era meu pai, o principal motivo de eu querer acabar com tudo isso!
- Seu... seu pai!? - Thais parecia confusa e irritada.
- Ele é o cientista chefe, e não o responsável, tá? olha não temos tempo pra isso, vamos logo e tudo vai se encaixar nos eixos.
- Vai é? como posso confiar em você agora?
- Porque eu te amo, sua imbecil! - gritou.
Silencio.
Tati estava muito desconfortável no meio deles. Thais olhava Fred incrédula, e ele, bufava nervoso.
- Por isso... eu não vou deixar ninguém te machucar.
Em silencio, os três entram no elevador. A própria Thais aperta o botão do segundo andar.
O clima do elevador estava estranho.
Quando a porta abre, eles se veem em uma sala com várias maquinas estranhas. Por todo canto, tubos de vidro com pessoas dentro. Os tres sairam do elevador, horrorizados, eram crianças eram...
- Sirens! - chorou Tatiana.
Eram meninas, cobertas de cortes pelo corpo todo. As costas, farrapos que um dia vão ser asas. Era como se estivessem em úteros artificiais, nascendo aos poucos.
Aquela sala era familiar para Thais. Foi dalí que ela fugira. A maldita sala onde a fizeram aqueles cortes. A imagem das Sirens gemendo e se contorcendo ao redor deles, eram repulsiva, nem repararam no velho senhor de Jaleco branco logo à frente dele.
Aquela sala era familiar para Thais. Foi dalí que ela fugira. A maldita sala onde a fizeram aqueles cortes. A imagem das Sirens gemendo e se contorcendo ao redor deles, eram repulsiva, nem repararam no velho senhor de Jaleco branco logo à frente dele.
- Sejam bem vindos. Olá Freddy.
O sangue de Thais ferveu no mesmo instante. Ela correu e agarrou o velho pelo colarinho.
- O QUE FEZ COMIGO? O QUE FEZ COMIGO?
- O QUE FEZ COMIGO? O QUE FEZ COMIGO?
Ela o sacudia com raiva, mas o senhor não dizia nada.
- Solta ele Thais!
- Solta ele Thais!
Fred tentava acalma-la, mas nao dava muito resultado.
- EU VOU TE MATAR SE NÃO ABRIR A BOCA!
Então, uma porta abriu ao fundo da sala.
Uma presença congelante, fez com que todos parassem de falar, até mesmo a irritada Thais.
Ele era jovem, estava vestido elegantemente. Seu cabelos eram longos e castanhos. Seus olhos pareciam diamantes e seus sorriso era confiante e calmo.
Thais soltou o velho em suas mãos e todos olharam boquiabertos para o jovem de beleza ímpar.
- Sejam bem vindos - disse ele, com uma voz macia. - Meus amigos. estou feliz em finalmente tê-los aqui.
Aquele rosto... nenhum deles tinham qualquer duvida...
- O príncipe...- sussurrou Tatiana.
CONTINUA
Aiaiaiai....
ResponderExcluirLá vem mais uma semana!
Ahhh finalmente li. Desculpa pela demora, ficou fantástico!!! Eu não fazia ideia de que o Fred sabia o que estava acontecendo. :O
ResponderExcluirBoa notícia, hoje tem continuação *.....*