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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A Cor da Morte.



Quando vi a face dela, pálida e seca como a bruma, me dei conta de que a morte não se veste de preto, ela é branca, silenciosa e sutil. Não há nada de escuro na morte, obscura é a vida negra e obscura, já a morte é claramente o fim de tudo. 

A visão que temos do céu é um lugar de brilho intenso onde a estrela da manhã invade cada canto que enxerga os olhos, se é que olhos e todo o resto de nossos corpos carnais existem nos céus. Não nos céus tudo é estridente de tão pálido. Tudo reluz, tudo reflete, tudo é tão claro. Nossas almas, brancas, saem de nossos corpos em direção ao brilhante céu. E se há céu, há o inferno onde tudo também brilha, mas na cor da lava laranja. 

É isso, tudo o que brilha demais é morte. Veja só, como os insetos seguem cegamente à luz que os mata! Basta acender uma fogueira em um acampamento que milhares de seres tolos se jogam na fornalha. Preste atenção em como mosquitos se jogam em suas cadeiras elétricas bastando apenas uma luz azul intensa para chamar sua atenção! 

Entrei em meu carro, liguei o motor e tomei o caminho para casa pensando no que aquela face pálida me ensinou que a luz é morte! E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz, já diz o livro sagrado. Alias, sempre tive medo de anjos e suas espadas de fogo; Sempre tive medo da religião que nos ilumina, mas causa as maiores guerras do mundo. Sempre tive medo de uma explosão atômica e da energia brilhante que irradia dela e mesmo tendo medo de uma explosão solar, que nos aniquilará, amanhã ou daqui há dez milhões de anos, sempre achei belo o poder destrutivo de uma supernova. 

E o que é a vida, senão escuridão? Não sabemos de um segundo de nossas vidas; não sabemos o que acontecerá na próxima curva; não sabemos qual será nosso próximo passo, onde estamos e para onde vamos. Sei que nada sei, não é isso? Sabemos que somos cegos e nunca notamos isto. Escuridão é vida! É na escuridão da noite que nossos corpos se aquecem em outras carnes, é na escuridão da noite que nossa mente descansa e que nos encontramos em paz em nossos sonhos. Durante a escuridão recuperamos as forças para enfrentar a luz, a morte em doses diárias e rotineiras. É na escuridão que conseguimos esconder todos os nosso medos e anseios do mundo e somos enfim quem realmente somos. 

Entro em um túnel e tenho minha ultima visão sobre o assunto. O final da vida não é o túnel negro no qual andamos infinitamente, mas sim a luz intensa que brilha ao seu final. Nós andamos na escuridão e encontramos lá no final a iluminação que nos faltava. É isso! 

Proponho isto: Façamos o branco a cor oficial da morte! Afinal, tudo o que resta de nossos corpos quando morremos são nossos ossos, que são, espante, brancos! Vestiremos em nossos velórios a mesma cor que usamos para celebrar a morte de um ano! Branco! Temamos o branco e celebremos o preto! O preto é sobretudo a marca da vida! 

Sim, tudo ficou claro agora! Não só pelas idéias que enfim iluminaram meus pensamentos, mas também pela luz branca do caminhão que perdeu o controle no fim do túnel, invadiu a contramão e chegou tão perto que senti entrar nela.

13 comentários:

  1. Uma sombria (ou iluminada?) visão sobre os ícones, as lendas que ganham forma e força com o passar dos séculos. Há grande verdade em muito do que citou. Gostei da abordagem e da reflexão contidas no conto, além de seu final incrível.
    Parabéns, meu velho. Uniu filosofia e terror em um único trabalho.

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    1. Valeu, Franz! Agora vamos trocar o fundo do site! De preto pra branco, vamos.... XD HShsahsaASHSHhsHASUuaSHHAS!
      Há braços!

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  2. Na China o branco, a cor que representa a felicidade e prosperidade no outro mundo, é a cor associada à morte. Para os Muçulmanos, as almas dos justos assumem a forma de aves brancas após a morte e na Europa durante a Idade Média - e por séculos na Inglaterra - o branco foi à cor do luto antes do preto.
    Branco signifca a pureza, e não há nada mais puro que a morte... É a unica certeza que temos e a unica coisa que jamais poderá ser corrompìda nesse mundo. Não importa a forma que se morra, sua alma vai pra onde tiver que ir pura e simplesmente. Branco também pode ser a total e completa ausencia de cores ou a união de todas elas (se for levar pro ponto de vista ótico e neurologico), pode ser algo que te ilumina, posto que é uma cor clara e limpa, ou algo que te cega devido a sua luz...

    Com esse conto você trouxe tantas idéias pra se pensar que chega a dar um nó (de uma maneira boa) no cerebro do leitor...

    Gostei muito! Parabéns^^

    PS: Eu ja esperava por algo como o que ocorreu no final, mas não esperava dessa forma tão brusca... Passei o conto inteiro esperando por isso e não vinha, a hora que desisti fui pega em cheio pelo caminhão junto com o personagem... Foi um choque muito bem vindo! Amei!

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    1. Obrigado pelo comentário, você enriqueceu muito a experiência, trazendo essas informações.

      E são muitas as culturas em que o branco é a cor da morte. Para começar somente na era vitoriana que o preto começou a ser associado com a morte, como vc citou!

      E muito do que existe neste conto é de fato, o motivo em algumas culturas para que o branco seja a cor da morte. Na Africa, para citar um exemplo, o branco é de fato a cor da morte por conta dos ossos.

      A ideia veio justamente destas várias culturas que são diferentes à nossa. E eu pesquisei bastante para conseguir chegar em alguns detalhes, sinto feliz que isso deu um nó nos vermes mentais e trouxe uma experiência tão rica! \o\lol/o/

      PS: Adorei o seu PS!

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    2. Só uma coisa, para nossos olhos o branco SEMPRE é a reflexão de todas as cores. O que existem são esquemas diferentes de cores para criar o branco/cores.

      O sol (ou lampada) emitem luzes, que quando batem em um material refletem a cor que há nelas. Por isso a impressão é como uma subtração da cor branca.

      Por isso quando utilizamos pigmento (impressão, geralmente em papel, paredes, coisas não luminosos) você imprime cores que farão subtrarão a luz criando reflexo e por isso a ausência de cores transmite o branco e a presença de todas fica preto. Branco = reflexão (não impressão) de todas as cores / Preto = reflexão de nenhuma cor.

      Já em faces iluminadas (Televisões e Monitores) você não está refletindo a cor, mas sim emitindo. Não há reflexão. Por isso você deve jogar a cor exatamente como ela é, ou seja, branco = emissão de todas as cores / Preto = não emissão de cores.

      Mas nos olhos branco sempre é luz enquanto preto é ausência.

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    3. por isso eu disse que se for pensar por um ponto de vista otico e neurologico era a união de todas as cores, pq culturalmente nos é passado que o branco é a pureza, a ausencia de cor... Na escolinha, quando criança, sempre nos é dito "se não puser nenhuma cor aí vai ficar branco..."

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    4. \o\lol/o/
      Viva às cores e sua eterna complexidade! Tens toda a razão!

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    5. Então o grande capitão voltou, do primeiro conto para o segundo, sou totalmente o segundo. Só estava esperando o antigo Rainier voltar ativa, a sua forma de narrar acho que reconheceria em qualquer escrito. Denso e detalhista, sua narração agarra o leitor pelo braço e o puxa para trás todos os parágrafos, quero dizer que todo leitor se pega voltando a ler, para refletir depois. Incrível!

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    6. Mauricio, pode esperar que vem mais! Já existem 11 contos prontos para este projeto. Tracei como meta escrever tudo até fim de março, para poder dar linha em meus outros projetos.

      Também há um texto esquecido no porão, sobre um príncipe tolo e um aviador insensato, saindo no fim de semana que vêm na Roda de Escritores NA INTEGRA!!! (Estou devendo essa para vcs, boys and girls!)

      Sem contar que assim que voltar a interwebs em casa, iremos começar nossa nova coletânea. Tem muita coisa boa vindo por aí! \o\lol/o/

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    7. Não sendo pretensioso e oportunista, mas eu GOSTARIA MUITO de participar da coletânea...hahahahaha

      Cara-de-pau mesmo né?!

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    8. Mas você VAI!

      Só mais um pouco e as coisas voltam ao normal, incluindo o site! XD

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  3. Muito bom o conto!
    No início parece ser uma simples reflexão sobre a morte e a finitude, mas aos poucos você incluiu pequenos detalhes que nos tiram dessa certeza e geram uma ansiedade e curiosidade crescentes pelo que está por vir para arrebatar com um final simples, direto e desestruturador.
    Parabéns!

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