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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Tic tac toe



Tic tac toe.

Tic tac toe

Tic tac toe, diz a música.

Simples assim: começa com tic, depois vem tac e termina com toe.

Ordem. As coisas são como devem ser para funcionarem. Amor, lealdade, respeito... Mas nem sempre a roda gira para o lado certo. Sempre há engrenagens que dão defeitos e precisam de reparos. Algumas, não tem conserto e devem ser removidas, para que o funcionamento correto prossiga.

É tic tac toe, e não tac toe tic.

O correto é feito incorreto quando alguma das normas é desfeita; e é ai que eu entro. Eu conserto coisas, eu faço tudo voltar aos eixos.

O nome dela é Fabiana. Ela não respeita muito a ordem: gosta de por os tacs antes dos tics. Ela possui “mais” do que outros. Possui aparência superior, condição financeira superior... e uma língua afiada, como a de quase ninguém.

Ela fere pessoas. Não feridas físicas, que saram com curativos. Feridas internas, feridas emocionais, que muitas vezes, nunca curam. E ela feriu alguém hoje.

Não fui eu; eu não me importo que me machuquem, posso ate rir disso, não ligo. Mas ela escolheu um alvo impróprio. Um alvo “não bom”.

Como sempre, ela fere quem não merece, quem não fez nada. Eu mereço ser ferido, mas não a Pan. Pan é o nome da vitima.

Pense numa pessoa boa. Agora pense que essa pessoa tem um coração muito carinhoso. Pensou? Agora imagine que você tem muito afeto por essa pessoa. Ela é minha amiga. Pan.

Minha regra um, meu Tic; alguém que me direciona amizade, sempre deve ser preservado, muito mais do que a mim mesmo. Tac: justiça. Pan tem suas escolhas e preferências, assim como todos nós. Os sentimentos de uma pessoa, são só seus, e são seus tesouros. Toe: retribuição. Não sou mal, mas acredito na retribuição. Aqui se faz, aqui se paga.

Infelizmente Deus não age tão rapido em punir, por isso, eu existo.

Fabiana feriu Pan, indo contra minhas três regras básicas de aceitação do ser humano. Eu não preciso ser humano, com quem não age como ser humano, preciso? Não.

Minha amiga escolheu deixar a dor passar. A raiva e a humilhação foram suprimidas em seu peito até sumir. Ate fazerem parte do seu corpo.

Bem, eu não sou a Pan.


Fabiana acordou. Abriu os olhos e notou que não estava mais na segurança do lar. Não estava mais em sua cama confortável, nem com os seguranças da sua luxuosa casa.

Seu corpo estavava preso a uma haste de metal, por uma corda, fortemente amarrada. Seus olhos captavam uma forma nas sombras. Minha forma.

- Acordou.

- Onde eu estou? Que lugar é esse?

- Este? Este é um lugar, longe da sua casa. Um lugar escuro e frio, onde ninguém vai te achar.

- O que você quer de mim? Vou gritar!

A menina gritou o mais alto que podia. Gritou até sua garganta doer. Por minutos eu fiquei olhando-a gritar e me xingar. Em dado momento, ela parou, exausta.

- No escuro, onde ninguém pode te ouvir gritar, o que é você, se não apenas uma menina?

- Por que... eu...?

- Você machucou quem não deveria. Agora é sua vez de ficar ferida.

Caminhei para trás da haste em que ela estava amarrada e peguei a ponta da corda. Com força, eu puxei a corda, fazendo com que o corpo da menina fosse espremido.

A corda passava por sua garganta, seios, braços, cruzava suas pernas e terminava nos pés. A cada puxão que dava, ela sentia o corpo ser espremido e esfolado pela superfície áspera da corda. É uma pena ela não ter mais forças para gritar, iria ajudá-la a suportar a dor. Quando notava que ela ia desmaiar, eu relaxava a corda, deixando-a tomar ar.

- Não quero que pense em mim como um desalmado. Eu tenho bichinhos de estimação, sabia? Vou te mostrar.

Afastei-me para as sombras e voltei empurrando uma caixa de madeira bem grande.

- Meus amigos estão aqui, eles querem te conhecer.

A caixa estava cheia de ratos de esgoto que peguei noite passada. Desde então, eu não os alimentei.
- Você é louco! O meu pai vai te pegar, sabia? Ele vai te pegar e você vai se arrepender! Ele vai te bater até você morrer!
Infelizmente isso não vai ser possível Fabiana. Eu não sou uma pessoa de verdade, sou só um sentimento de raiva manifestado no mundo fisico. Não posso ser ferido ou tocado. 
- Quem... -gemeu ela sem forças - Raiva de quem? 
- Você foi ruim com tanta gente que não faz ideia não é mesmo?

Saí das sombras e deixei ela ver meu rosto. Como eu esperava, ela arregalou os olhos, aterrorizada.

Sorri.

Tirei o corpo mole de Fabiana das amarras e a joguei dentro da caixa. Os bichinhos subiram pelo corpo dela, entrando por baixo de sua camisola. Ela tentou sair, mas a cada segundo que permanecera ali, as mordidas dos ratos a faziam ficar mais fraca; dilacerando e comendo sua carne com apetite voraz.

Tapei a caixa e me sentei encima.

...

Os gritos abafados dela, eram como uma melodia linda. Já disse a vocês que a Pan é uma ótima musicista? Ela toca muitos instrumentos e todos muito bem, especialmente o piano.
 Mas ela que me perdoe: prefiro esta melodia. É bem mais do meu gosto.

Trancada na caixa, ela tentava abrir a tampa com as mãos.

Num momento, ela parou de gritar; provavelmente um rato tinha entrado pela boca , ficando preso na garganta dela.

Quando amanheceu, Pan notou que Fabiana não tinha ido para a escola aquela manhã...

Na verdade ela ainda estava deitada em sua cama: bem mais magra do que costumava ser; roída e necrosada, com alguns dedos faltando, sem os olhos e só um pedaço de nariz. Um dos braços estava no lugar, o outro estava no chão, ao lado da cama.

Foi trabalhoso tirar todos os ratos de cima e de dentro dela. Nada que uma faca não resolva, claro, mas assim mesmo, devo ter esquecido um ou dois ratinho pequenos dentro do corpo.

Lhe fiz um carinho no que sobrou do cabelo e voltei a deixar de existir.



Tic, tac, toe.



A música cotinua.

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