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sábado, 25 de maio de 2013

Olhar de Prata - Primeira parte


Não fora do comum, bêbados fanfarrões já se agrupavam no Saloon do Monstrengo. Era o sol que fugia no horizonte e dava lugar a mais uma perigosa noite, e como já de costume, aqueles que têm motivos pra não dormir em casa, ou que não são mais aceitos ali por suas esposas (os que ainda têm) reuniam-se ali, para beber, jogar e ter as mulheres da casa, poucos com intenções de pagar.

Entre esses bebuns, destacava-se sempre o velho John, que era visto pelos mais novos como um antiquado e pelos velhos como um mentiroso. Mas, misteriosamente, sempre atraía um pequeno público que ouvia suas histórias do tempo que era jovem. A sua favorita era sobre o misterioso trem, que nunca chegou ali.
Em assuntos assim, o velho John, era autoridade máxima no Saloon, embora a grande maioria achasse que se tratava de fantasias da mente insana dele, ouviam e se fascinavam com as lendas. Esta em especial, deixava-o mais feliz que um bom whisky e um a partida de pôquer.
Naquela noite, além de todo o perigo já esperado na rua escura, bêbados gritando, cantando, jogando cartas, mulheres ocupadas nos quartos, também havia uma chuva furiosa que surrava a porta e entrava no Saloon pelas janelas quebradas. Não que alguém se importasse, muitos nem mesmo notavam, e seguiam tranquilos em mais uma noite que lhes parecia comum. Um pequeno grupo, já sentado próximo a John, esperava ansiosamente pela história.
Que não havia trem em Cursed City, era de conhecimento de toda a pequena população, mas segundo o contador de historias, em sua adolescência conheceu uma bela jovem, que teria chego ali, de trem. Claro que ninguém acreditava, mas todos ouviam.
Na época de juventude do velho narrador, havia pouco tempo que a cidade se tornara maldita, sendo que, era muito grande a quantidade de corajosos jovens que acreditavam serem capazes de se livrar das feras. É verdade que, alguns até conseguiram matar alguns dos monstros, mas voltar ao saloon para celebrar o feito era impossível. John era neste tempo um rapaz baixo, digno de pouco orgulho pra seu pai, que foi um dos primeiros a morrer naquele tempo. Não sabia manejar uma arma, e nem mesmo, mostrava indícios de que poderia um dia aprender. Pouco se esperava dele naquela época, não que hoje se diga grande coisa.
Era um frio entardecer, o sol fugia covarde por além dos cânions, e John caminhava de cabeça baixa em direção a sua casa. Distraído, nem mesmo se lembrava de que não era nada seguro ficar à noite nas ruas, inclusive pra ele, que era um covarde. A noite já dominava o local, quando se deu conta de que era o único louco nas ruas. O vento forte ameaçava arrancar os inúteis cartazes de procurado pregados por todo lado. A celebridade da vez era uma mulher, da qual pouco se podia definir, um lenço cobria a metade do rosto em seu retrato falado, estes sempre exageravam em suas descrições.
Contava-se que, em apenas três dias, ela assaltou três bancos em cidades que ficavam dias a cavalo uma da outra. O que, constatava John, não passava de exageros pra aumentar o valor da recompensa, imaginava a graça que a bandida devia ver nisso tudo. Como era possível? Em três dias? O jovem parecia um bêbado, rindo sozinho pelas ruas. Os boatos acrescentavam ainda que ela era dona de um olhar fantasmagórico.
Instantaneamente estacou, quando se deu conta da hora, podia se considerar morto, pois levaria alguns minutos ainda pra que chegasse em casa, tempo do qual as criaturas não precisavam nem da metade pra pegá-lo. Não havia silêncio absoluto, nunca havia em Cursed City, podia ouvir berros e canções desafinadas vindos do saloon, que era mais perto que sua casa, dirigiu-se pra lá.
Bater na porta era inútil, a noite nem bem havia começado e ninguém se atreveria a abrir a porta, podia bater o quanto quisesse em cada uma, todos iriam fingir não ouvir, e talvez no saloon, ninguém ouvisse mesmo. Ficaria ali, as feras viriam lhe devorar e, ao amanhecer os outros jogariam seus restos no cânion.
“Eu nunca fui corajoso”, disse o velho John, sem nenhum receio, enquanto alguns dormiam já no inicio da história. Mas havia um jovem que não estava bêbado. Era magricelo e acanhado. O garoto lembrava o passado do contador.
Naquela noite, tantos anos antes, frente à porta do saloon que não se abriria, ouviu pesadas passadas e não sabia pra onde ir, mas decidiu que não queria ficar e virar carne moída ali mesmo. Pensou que aquele seria o único impulso de coragem de sua vida, não tinha idéia de como, mas estava decidido a sobreviver àquela noite. Mas suas esperanças quase fugiram, quando ouviu o primeiro uivo. Já estava acostumado a eles, quando os ouvia dentro de sua casa, de onde assistia as feras passear pela cidade, e brigarem entre si quando não havia carne humana.
Mas outro som, também lhe fez tremer aquela noite. Era um apito de trem. E John deu uma pancada na cabeça, estava imaginando coisas, não chegava trem ali desde o fim da época do ouro. Havia apenas uma superstição das mais velhas, que diziam ouvir o trem chegando às vezes, mas isso era impossível, já que a linha estava quebrada na ponte sobre o cânion.

3 comentários:

  1. Como você para a história assim do nada? Quer me deixar curioso? Affs.

    Muito bom cara, parabéns!

    Volto pra ler a continuação.

    Rubens Teles (HIOTO).

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  2. Bom!
    uma mistura de conto de cawboy ( velho oeste) com terro. o inicio lembrou-me o bar cordeiro massacrado ( um lobsomem americano em londris). atualmente no meu conto de lycam eu descrevo um breve batalha entre um vampiro e uma matilha de lobisomens...
    Romildo lima- Contos e historias
    romildo-lima.blogspot.com

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  3. Woa!!! *.* Que feliz!!! O saloon do Monstrengo *.* Nhaaaaaaaaaaaay...

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