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domingo, 2 de junho de 2013

Olhar de Prata - Parte 2


Já que pretendia sobreviver, iria precisar de uma arma, pra se defender dos monstros. Mas não tinha nenhuma consigo e se tivesse, não teria tanta utilidade. Era um péssimo atirador.
Correu em direção ao velho estábulo, onde por motivos óbvios, cavalo nenhum ficava. Lá encontraria alguma coisa, velhas ferramentas sempre estavam ali. Mas não chegou a atravessar a rua, quando o primeiro lhe encarou. Era grande, talvez pudesse ser chamado de lobo, mas não convinha. Tinha presas bem maiores, pelo preto e olhos também. Olhos que encaravam John, que pensou estar morto neste instante. Mas então, ouviu mais uma vez o apito do trem, mais alto desta vez, talvez ouvisse também o som que fazia sobre os trilhos. A fera, aparentemente, também teve à atenção atraída por isso, abandonou seu alvo, correndo sobre quatro patas até a estação desativada.

Era a oportunidade de fugir, mas pra onde? Se tentasse sair da cidade, não teria sucesso, ninguém abriria a porta. Tentaria chegar em casa, era o jeito mais seguro. Chegando finalmente ao estábulo, pegou uma pá, que arranjou por lá, e soube que não seria suficiente, mas era o que tinha. Pôs-se então a correr, tinha que tentar.
Já estava frente ao banco, quando foi alcançado mais uma vez pela fera, que não estava sozinha dessa vez. De costas pra porta, encarava as duas criaturas que salivavam diante à sua refeição, que tremia de medo. Sabia que não teria força pra se defender e que sua “arma” de nada adiantaria. Pensou em correr, mas decidiu que não queria morrer como o covarde que todos diziam que era. Os lobos estavam sobre duas patas, e saltaram juntos contra o pobre John, que tentou acertar um deles com a pá. Em vão, este pareceu nem sentir o impacto que lhe atingiu fracamente no focinho. O jovem teve tempo de rolar para o lado, e escapar dos dois, mas agora estava encurralado.
Descrever essa cena era sempre divertido para John, a essa altura já tinha perdido à atenção de quase todos, mas o garoto ainda estava ali, ouvindo atentamente.
- Como escapou dessa? - perguntou incrédulo, um que ouvia de longe. - Pare de enrolar esses iludidos... Mas John continuou, ignorando-o.
As feras estavam a um passo do rapaz, quando um tiro veio do escuro. Acertou um dos lobos entre os olhos e lhe estouraram os miolos. O monstro restante correu em direção à origem do som, abandonando John, que respirou aliviado.
Outro tiro e um ganido breve pode ser ouvido. O segundo lobo estava morto. Foi então que a viu. Tinha cabelos negros, usava calça marrom, apertada e corpete de igual cor, botas pretas e tinha um olhar marcante e intenso, um olhar de prata. John poderia ficar o resto da noite ali a admirando-a. Por um momento, se esquecera que as feras estavam à solta, e que estas, não tardariam em virem atrás deles.
- Saia da porta, não me atrapalhe.
Embora rude, sua voz era suave. O rapaz se afastou rastejando, sem dizer nada, enquanto a bela mulher colocava a pistola na fechadura e atirava. O baque surdo que a porta fez, lhe fez voltar à realidade, e ser dar conta de que estava diante da ladra que procuravam.
- Essa droga não abre? - Perguntou a moça, sem que esperasse resposta - É a primeira porta que não abre de primeira.
- É por causa das feras – Inacreditavelmente, o covarde estava falando.
Por um motivo, que nunca conseguiu entender, ofereceu sua pá pra ajudar a arrombar a porta. A bela mulher quase riu de suas tentativas de abrir a mesma com sua “arma”, fazia muito barulho, e quando se deram conta, o som já havia atraído mais alguns lobos.
- Essas coisas são uma infestação aqui, hein? - Perguntou a moça, como se fosse acostumada a elas. - Quer viver? Abre a porta, enquanto cuido deles.
Num esforço que ultrapassava seus limites, o jovem John, conseguiu vários minutos depois, abrir a porta e só então, teve consciência de que estava ajudando a roubar o banco! E nem mesmo, tinha idéia do por que, mas estava achando aquilo divertido.
Dava pra notar um brilho nos olhos do velho contador de histórias, quando narrava essa parte. Sempre deixava sua mente vagar longe, talvez voltar ao passado e reviver aquela cena. Muitos questionavam, se ele havia mesmo roubado um banco naquela noite, ele sempre respondia que havia sido a mulher misteriosa, que nunca fora pega, nem mesmo vista.
Quando a porta havia sido aberta, John olhou pra trás. Cinco deles cercavam a mulher, estes eram ainda maiores que os outros, mas avançavam cautelosamente.
Temos que nos livrar destes, pegar a grana e fugir – Disse a bandida, mas sabia que fugir não precisava ser um ato desesperado, embora, todos ali estivessem ouvindo os tiros, ninguém se atreveria a procurar de onde viam.
- Mas pegar o dinheiro não foi tão fácil, mesmo tendo uma experiente assassina de monstros ao meu lado. - A essa altura, só um expectador jazia acordado diante do velho. - As feras cercaram-na, tive medo de que ela morresse. O que também significava minha morte. - Meia garrafa de whisky jazia nas mãos de John, e isso não garantia a veracidade de sua história.
Segundo contava, havia encontrado uma winchester 73 dentro do banco, alegava que era do guarda que não dormia ali. Pegou então esta arma, se esquecendo de que era um péssimo atirador, e foi para cima dos lobos, imprudentemente. Quando o primeiro saltou sobre ele, recebeu a primeira carga da arma no peito e caiu agonizante, nesse tempo, a bela mulher atingiu mais dois entre os olhos e ainda encerrou o de John, mas lançou-lhe um olhar surpreso.
- Acerte-os entre os olhos. - e foi o que ele fez, ou tentou, errou o tiro. - Tome, use essa pistola. - Ela jogou-lhe uma bela Colt 45 prata. - Incrivelmente o tiro foi certeiro desta vez, assim como o segundo. Era incrível, mas pela única vez, os corpos dos monstros jaziam sem vida nas ruas de Cursed City.
Rapidamente, a mulher de olhos de prata tinha um pequeno saco de ouro extraído do banco. John se lembra de tentar devolver a Colt a dona. Mas esta disse ser um presente, que com ela jamais seria capaz de errar. Acompanhou-a, caminhando lentamente até a estação de trem desativada, sem nem notar aonde ia. No caminho, algumas feras apareceram, mas foram derrubadas pela Colt que não erra. E John, nem se assustou ao ver um trem parado esperando que a mulher entrasse, depois da aventura daquela noite, nunca mais duvidaria de lendas.
Ninguém jamais encontrou os corpos ali, mas o banco realmente fora assaltado naquela noite. Aqueles que não acreditavam na história, podiam vislumbrar a bela arma, e ver também o velho John, acertar qualquer alvo durante o dia, mas ele nunca atirava à noite, pois sabia melhor que qualquer um, que isso atraía encrenca.

Um comentário:

  1. no inicio, falo da primeira parte da estoria, era bem empolgante. mas não gostei da segunda parte, que pareceu-me sem nexo,a narrativa ora fica confusa... assim me senti lendo. mas valeu Vinicios. espero que capriche no proximo episodeo!

    Contos e historias- romild-lima.blogspot.com

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