Pages

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A outra Parte de mim (IV)



Tatiana segurou a mão de Thaís para ficar de pé, ainda assustada com aquilo tudo: a prisão, a floresta, sua transformação em monstro, a garota voadora que grita e agora... Thaís...a mulher-águia, que depois de bicar até a morte a gritadora, transforma-se em humana e lhe estende a mão, oferecendo sorriso e segurança.
    • Vamos, temos que ir a um lugar seguro, se ficarmos aqui muito tempo...
Thaís virou-se para a mata, segurando a mão de Tati, mas esta não se moveu. Seus olhos estavam travados no montros morto no chão.
    • Voce tá me ouvindo? Precisamo ir!
    • O que é ela? - perguntou, estranhando o som da própria voz, era como se não falasse há muito tempo.
    • Agora não é hora! É serio!
    • Eu quero saber! - gritou. Soltou a mão dela e esfregou os olhos. - Isso tava vindo atrás de mim, queria me matar! Eu quero saber o que é!
    • Vem comigo e eu te conto tudo no caminho, prometo, agora vamos!

Ao longe, de algum lugar no céu, as meninas ouviram outro grito; como antes, uma mistura de dor e raiva. Aquilo fez Tati despertar do seu momento de coragem para voltar ao medo.
    • Tem mais delas vindo! Vamos rapido!
    • Mais delas? Tem mais dessas coisas?
    • Bem mais do que eu gostaria!

A mais velha voltou a pegar a mão dela e a puxar pelo mato e dessa vez, a pequena a seguiu sem exitar. Ela a guiava por um caminho dificil; não haviam trilhas naquela mata e tendo noção dos recentes fatos, Thaís mais voava do que andava por aquela floresta, pensou Tati.
Acima de suas cabeças, as coisas continuavam a gritar, com certeza agora eram mais de uma. Se sentia como urubus que sobrevoam a carniça de um animal. E quem seria ela? Sua salvadora, uma garota que podia virar águia... mas porque a salvara?
    • Thaís?
    • Sim... diga. - respondeu sem olhar pra trás, era como se estivesse fazendo força para se lembrar de algo.
    • O que... são elas? Porque elas gritam tanto?
    • São Sirens. Elas gritam pra deixar você com medo.
O estomago dela pulou e um frio subiu pela espinha.
    • Mas porque?
    • Ela se orientam por feromonios de medo. Quanto mais medo você sente, mais elas te vêem. - ainda em olhar pra trás. Aquilo tudo paracia muito natural pra ela.
    • Então elas... então...- A respiração acelerou; ela sabia que estava apavorada e aquelas Sirens podiam sentir isso.
    • Não. Entre as arvores fica bem mais dificil pra elas. Elas sabem que você está por perto mas raramente se arriscam a voar tão baixo. Mas infelizmente elas não precisam descer, apenas sinalizar onde nos encontrar.
    • Para quem nos encontrar?

Ela não responde. Apenas faz um sinal pedindo silêncio. Ela olha ao redor por uns intantes e depois escolhe um caminho. “Pelo chão é mais dificil” sussurra ela pra si mesma.
Andam mais um pouco por um caminho cheio de pedras. Tatiana estava exausta, mas o medo de ser comida por Sirens e por sabe-sel-lá quem mais, não a deixava parar. Por outro lado, sua salvadora não compartilhava da mesma ideia.
    • Vamos parar aqui por uns instantes.
Ela sentou-se em uma pedra. De uma pequena bolsa na cintura, ela tira um cantil pequeno e entrega para a garota menor.
    • Beba, você deve estar com muita cede. No esconderijo tem mais agua e um pouco de comida também.
Rapidamente, a pequena agarrou o cantil e em segundos, bebeu toda a agua que ali havia para depois, cair sentada num tronco de arvore.
    • Eu imagino que tenha muitas perguntas.
    • Tenho... onde estamos?
    • Num lugar esquecido por Deus, com certeza! Muito longe de qualquer coisa.
    • E o que você... nós, somos?
    • Não sei dizer. Eu não fui uma águia desde sempre. Que eu saiba, eu só comecei a me tornar uma, à uns dois meses atrás, quando eu fugi deles.
    • Então eles nos fizeram isso? E quem são eles?
    • Eu não sei. - olhou com tristeza para o alto – só sei que agora, eu, você e alguns outros, temos um “outro lado”.

Tati calou-se pensativa. Estava confusa e com vegonha de fazer perguntas demais, mas Thaís parecia querer falar:
Meu nome é Thaís, eu morava em um lugar normal, com uma vida normal... escola, garotos... sabe? Normal. Me lembro que tive vários sonhos onde eu voava... e um dia quando eu acordei de um deles, eu estava no alto de um predio. Eu não sabia como eu tinha chegado lá, mas “eles” sabiam. Uns caras chegaram, me prenderam, e ai um deles enfiou uma agulha em mim e eu apaguei... Acordei numa cela, acho que você estava em uma tambem. Eles... me largaram lá por muito tempo, não sei quanto. As vezes me tiravam e faziam coisas comigo. Veja, essas cicatrizes que tenho na barriga, eu não sei que são, mas elas são grandes o bastante pra me deixar preocupada. Eu não sei o que tiraram ou puseram em mim... e e pareço ser a única que sofreu esse tipo de cirurgia. Não, não te fizeram o mesmo, eu já olhei, você não tem uma dessas. Um dia, me levaram para o que parecia se rum laboratorio. Ao meu redor haviam muitas meninas, todas elas gritavam de dor. Eu não sabia o que tava acontecendo e nem porque daquilo tudo. Aquelas meninas... bem, elas são hoje o que chamamos de Siren. De algum jeito elas foram criadas a partir de mim, como se fossem clones mal-feitos meus. As asas delas são muito fracas, porém são sustentadas por um exo-esqueleto que as permite voar, como você mesma viu. Essas marcas no meu corpo e o peso de saber que aquelas garotas sofrem eternamente por algo que foi tirado do meu corpo é... algo dificil de suportar, eu me sinto responsavel pelas desgraçadas,eu queria por um fim a dor delas... de todas elas!
Eu fugi num dia em que uma dela escapou e começou a gritar e quebrar tudo; ela sem querer (ou não), acabou me soltando, aproveitei a chance oara escapar... eu corri e desejei com todas as minhas foçar, voar mais uma vez... e quando vi, eu estava mesmo, escapei pelo corredor e encontrei uma saída, mas, em meu caminho eu vi algumas outras crianças e jovens presos. Fiquei nesse mato desde então, acho que já fazem 60 dias, não tenho certeza, eu tava tao perdida aqui sozinha, até que encontrei ele...

Pausa e suspiro.
    • Ele quem?
    • Eu. - Disse uma voz, vindo de trás das duas.

Tati deu um pulo, assustada.
    • Fred! Olha quem eu encontrei.
    • A Tatiana... pois é, eu tive um encontro com ela hoje mais cedo.

Ele sai de tras da arvore que estava, revelando uma cicatriz de garra no peito, onde Tatiana havia atacado antes de fugir pra mata.
    • Eu... não lembro de ter te encontrado... você é o tigre? O que me soltou?
    • Thaís, ela é perigosa, teria matado todos os sobreviventes se eu não estivesse lá. Ela não se controla.
    • Do que tá falando?
    • Ela está bem agora Fred! Não precisa se preocupar!
    • Eu não... não sou perigosa! Eu só to assustada! E quero ir pra casa!
    • Essa é a sua casa agora Tati. - responde Fred, ainda olhando fixamente para Thaís.
    • Quantos vocês conseguiu salvar?
    • Quatro, contando com a Tatiana. Mas um deles morreu no meu do caminho, estava muito doente. Os outros dois estão na Toca.
Tati se irritou. Estavam falando como se ela não estivesse ali, falando naturalmente de coisas horriveis sem se preocupar com ela. Com a raiva crescendo nela, ela sentia o medo sumindo.
    • Quer saber, que se danem os dois eu to indo embora!
Pós-se a correr. Correu pela mata, com agilidade e destreza que não sabia que possuia. Correu com força e determinação, a achar uma saida, um lugar pra ir, uma estrada pra seguir, qualquer coisa. Ouviu os gritos dos outros vindo de tras mas ignorou, sua vontade de estar longe era mais forte, mas eis que então... deparou-se com o mar. Era uma praia. Uma praia bem longa. De boca aberta, encarava aquela dura realidade...
    • sim – disse Fred, que chegou logo depois dela.- Isso é uma ilha, não tem como fugir. Desculpe.
Desolada, Tatiana caiu de joelhos na areia; seus olhos estavam cheios de lágrimas, enquanto olhava para aquela massa de agua interminável.
    • Fred! São eles!
Fred e Tati se viram para trás. Thaís apotava para a mata de onde eles vieram. Os arbustos estavam se mexendo, as copas das arvores tambem, como se muitas pessoa estivessem andando por eles.
    • são as Sirens? - perguntou a pequena, secando as lágrimas.
    • Não... são os frogs...

O rosto de Fred começou a assumir uma aparência felina.

CONTINUA

2 comentários: