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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A loja de máscaras

    
       O halloween estava chegando e tudo que Gustavo queria era uma fantasia que não o fizesse parecer um idiota perante os amigos. Infelizmente sua mãe era boa em fazer ele passar vergonha e todo ano ela lhe arrumava fantasias péssimas, que acabavam por torna-lo motivo de piadas ( como se já não fizessem piadas o bastante sobre ele.)
      No ano passado ela o fez ir vestido de Peter Pan. Foi terrível, todos vestidos como monstros e ele todo verdinho e fofo, em meio à zumbis, vampiros e bruxas. Quando a questionou sobre o porque ele tinha que se vestir assim e não como monstro, sua mãe o explicou que o sentido do halloween não é simplesmente dar sustos e sim, pregar peças nos outros; as fantasias são meios de ocultar a própria aparência a fim de enganar as demais pessoas.
     Mas isso não convencia; ele ainda não via motivos para não se vestir de monstro. Que se dane o sentido do halloween! era dele que todos riam nas festas da escola, e esse ano, Gustavo estava determinado a mudar isso. Não só conseguiria uma fantasia de monstro, como daria um bom susto em todos!
      No centro da cidade, havia uma loja da fantasias muito boa. Sempre que passava de carro lá cm os pais, ele olhava a vitrine, imaginando que outras fantasias incríveis deve haver lá dentro. Com esse pensamento na cabeça, o garoto economizou uma parte da sua mesada, o ano todo, para comprar ele mesmo uma fantasia: mesmo que não dê pra comprar algo muito bom, pelo menos seria algo que ele mesmo teria escolhido.
      Com a data da festa se aproximando, as piadas e chacotas começavam; alguns meninos até faziam apostas do que será que ele apareceria usando desta vez. 
      Na tarde do dia 31 de outubro, sua mãe o pegou na escola e o levou até a loja de fantasia que ele tanto queria; ela tinha ficado impressionada com a quantidade de dinheiro que ele juntou sozinho, e decidiu que aquela força de vontade toda deveria ser recompensada: " Mas se não gostar de nada, eu vou escolher alguma coisa, ok?" foi o trato que fizeram.
      Infelizmente, comprar fantasias no dia das bruxas era algo complicado: as fantasias boas já tinham todas sumido, sobrando só coisas bobas como tomate, príncipe e fada. Muito desiludido, Gustavo saiu da loja: " compre o que quiser" disse pra sua mãe. O atendente, vendo a clara decepção do menino, lhe chamou a atenção para uma pequena loja no fim da rua:
       " É uma loja de mascaras. Tem umas bem assustadoras lá, uma boa parte delas é feita ali mesmo, porque não dá uma olhada?"
        A ideia parecia boa, seria melhor do que ter de ir como príncipe. Enquanto a mãe estava distraída com as opções humilhantes na loja, deu uma escapulida para rua, tentando achar a tal loja.... e de fato, lá estava ela. Como nunca tinha reparado nela antes? Era uma casa pequena e bem suja, se não fosse pela placa "Loja de máscaras" não saberia que se trataria de uma loja. Juntou coragem e entrou na loja.
        O interior era escuro, e tinha um cheiro estranho, cheiro de algo que não tinha a menor ideia do que poderia ser. As mascaras estavam por toda parte, exceto no chão! paredes e teto, cobertos por todo tipo. Algumas muito exóticas, outras mais simples. e claro, haviam muitas mascaras de monstros. Gustavo estava tão perdido entre aqueles rostos falsos olhando pra ele, quem quase não percebeu o velho senhor mal encarado atrás do balcão.
        -  Posso ajuda-lo?

        Gustavo deu um pulo com o susto. Explicou ao senhor sua situação e disse que queria uma mascara tão horrenda que até mesmo uma fantasia de príncipe poderia assustadora com ela. O velho lhe indicou uma parte da parede, coberta com mascaras e monstros e demônios, todos bem variados e horríveis. Algumas delas tinha cabelo que parecia real, e outras tinham a boca aberta e quase dava pra sentir mal hálito vindo delas!
         - O senhor teria uma dessas, do me tamanho? - apontou para um rosto demoníaco, de cabelos brancos, pele vermelha e chifres.
             O velho resmungou algo sobre consultar o estoque e entrou por uma porta. Uma outra porta, chamou a atenção do garoto; uma porta atrás do balcão, com uma placa: "proibida a entrada. A porta estava entreaberta. Como se uma voz na cabeça estivesse controlando-o a abrir aquela porta; Gustavo adentrou a sala proibida. Parecia ser a oficina do velho vendedor. Sobre uma mesa de madeira, havia uma mascara, que só de olhar o vez gelar dos pés à cabeça: era verde, com olhos amarelos, orelhas pontudas e com dentes pontudos saltando para fora da boca. Ao toca-la, sentiu que era como se fosse feita de couro e ao borracha. Não só isso, a mascara era quente como se tivesse calor próprio e os olhos eram uma membrana gelatinosa, muito parecido com olho de verdade. A mascara era perfeita, ele sabia disso, tinha que ser aquela! Pegou uma sacola sobre a mesa, colocou a face demoníaca dentro e saiu da loja correndo, deixando todo seu dinheiro sobre o balcão.
          Quando se reencontrou com a mãe, contou a ela que tinha comprado a mais assustadora mascaras de todas e nem se importaria em se vestir de príncipe, se fosse usar ela; ele seria um tipo de príncipe dos monstros! seria fácil dar um grande susto em todos na escola!
             A noite, ele vestiu-se com a fantasia que a mãe tinha lhe comprado, mas sem por a mascara; queria leva-la na sacola, chegar como príncipe, deixar todos darem risadas para então ir ao banheiro e deixar a magia acontecer. E assim foi: os meninos fizeram piada do principezinho chegando na escola, entre tantos monstros, e ele ali, galante e bonito. Mas hoje, ele não estava chateado. Hoje seria sua noite. Dez minutos depois que a festa tinha começado, correu para o banheiro...
            Aquela mascara não era só quente, era gosmenta também, principalmente por dentro. Parecia ser um rosto de demônio delicadamente arrancado e feito em mascara. Infelizmente Gustavo estava cego de vingança, só de pensar em como ele poderia abalar or nervos de todos com sua fantasia, o fazia tremer de emoção. Pegou-a com as duas mãos e colocou sobre a face.
           A gosma ou o que quer que fosse, aderiu a sua pele. Sentiu o interior da mascara grudando em seu rosto, quase como se estivesse virando um só, com ele. Seus olhos estavam exatamente nos olhos do demônio e sua boca... ele podia mover a boca como se fosse sua própria.  Olhou-se no espelho... e se sentiu perfeito. Fez uma pose assustadora e ensaiou um grito, mas, ao invés disso, soltou um urro assustador, um urro que com certeza não era seu. De inicio ficou assustado, mas resolveu não se importar, se continuar urrando assim, a noite seria perfeita.
          Saiu do banheiro; sua boca mexia-se inquieta, batendo os dentes uns nos outros, babando. Os olhos amarelos buscavam Fabiano e Michael, os dois insuportáveis que sempre o pegam pra piada, queria vê-los chorando como duas meninas essa noite! As meninas que estavam saindo do banheiro feminino deram de cara com ele. Gustavo quis testar o urro assustador nelas: abriu os braços e mais uma vez, aquele gritou aterrador saiu de sua boca. Imediatamente as meninas gritaram e correram para longe. Riu.
           Babando e fungando, Gustavo caçou os dois garotos pela escola. Não foi difícil acha-los, estavam na sala de aula, tramando alguma pegadinha para fazer com alguém. Apagou as luzes e entrou.
          -  Adivinha quem é? -  gritou, e mais uma vez, a voz que saia não era sua.
           Algo estava errado. Era pra ser só um susto. Quando os garotos começaram a chorar foi engraçado. Mas a graça acabou quando sentiu os dentes cravando na cabeça deles. O gosto do sangue dos meninos em sua boca o fez despertar para algo horrível: Fabiano e Michael estavam mortos. Marcas de mordidas podiam ser vistas por toda parte do corpo deles. Com as duas mãos, ele tentou tirar a mascara, mas ela não saia... pelo contrario, doía como se tivesse tentando arrancar fora o próprio rosto.
         -   Não quer sair! não quer sair! - gritava Gustavo.
       Com toda sua força, continuou a puxar, ele se recusava a ficar com aquilo preso no rosto. Sentia a pele rasgando, mas não e importava.
         Os gritos atraíram a atenção de algumas crianças que estava próximo. Quando entraram na sala, viram dois cadáveres parcialmente devorados e um garoto, vestido de príncipe, rindo, sem pele alguma no rosto: os olhos esbugalhados, boca sem lábios, ensopado de sangue.
         Aquela foi uma noite pra nunca esquecer. O Gustavo mostrou a eles, como é que se assusta alguém.
            

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